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O Espaço é Seu

E a IA?

03.08.23

As ferramentas estão surgindo e evoluindo muito rapidamente. Até pouco tempo não tínhamos nada que funcionaria fora de um contexto experimental. O ChatGPT, por exemplo, sabe decupar um filme. E, não só isso, mas sabe decupar um filme ao estilo de Tarantino, Wes Anderson, Edgar Wright. Sabe até sugerir o diretor que vai oferecer a melhor linguagem para determinado roteiro. Não vai acertar sempre e tem suas limitações óbvias, mas é poderoso suficiente para dar insights incríveis a quem se dispuser a usá-lo.

O Midjourney, com a qualidade do que está gerando hoje, já pode ajudar a visualizar um filme, fazer concepts, storyboards ou texturas específicas para a pós-produção. Muitas vezes ele vai gerar elementos incríveis em um contexto que você sequer considerava. E testar infinitas possibilidades de estilos, nesse contexto, é de um valor inestimável.

O Photoshop com IA generativa é revolucionário. Mesmo para os filmes, ter a possibilidade de colocar um frame no Photoshop e limpar algo de uma imagem em segundos de uma forma tão bem feita, é divisor de águas. Na pós-produção, já existem algumas ferramentas para rotoscopia e limpeza, mas elas muitas vezes só dão o primeiro passo para o compositor, pois o resultado gerado ainda precisa ser refinado. Ainda assim, podem acelerar um workflow que sempre precisa ganhar tempo. E novos softwares continuam a surgir, como o aplicativo da Wonder Dynamics, apenas em Beta fechado no momento, que insere personagens 3D no lugar do elenco real automaticamente. Sem que você precise sequer separar as cenas.

Além dessas que já estamos usando, há novas tecnologias voltadas para a produção audiovisual ainda mais ambiciosas sendo desenvolvidas. A Nvidia, que entrou recentemente para o rol das empresas avaliadas em mais de US$ 1 trilhão por conta de todo o avanço que tem feito com relação à IA, irá anunciar em agosto na SIGGRAPH - a mais importante conferência de computação gráfica do mundo - um conjunto de aproximadamente 20 pesquisas para novos produtos que serão lançados nos próximos meses e anos. Entre elas estão: tecnologia para criar modelos 3D a partir de imagens, captação de movimento para personagens 3D a partir de vídeos, um simulador de cabelo de altíssima resolução, um sistema de compressão de imagem com textura neural com 16x mais detalhe (usando a mesma quantidade de memória) e outra que diminui em 100x a memória necessária para criar assets volumétricos como água, fogo e fumaça.

Existem sim muitas questões éticas para serem discutidas a respeito da IA, principalmente as ligadas ao viés e ao direito autoral, mas algumas iniciativas começam a apontar na direção certa. No campo do direito autoral, a IA da Adobe, por exemplo, foi treinada usando apenas o seu próprio banco de imagens. A Shutterstock, que está incorporando IA aos seus serviços, vai ser a primeira empresa a compensar financeiramente os artistas que submeterem seus trabalhos para o treinamento desses modelos.

A respeito do viés, existe um esforço nas empresas para reprogramá-lo, mas não é uma questão simples e não será resolvida tão facilmente. Dizem que, em alguns anos, as pessoas poderão fazer seus próprios filmes. Acredito que os detentores das propriedades intelectuais terão uma vantagem competitiva nesse momento. Dar ao consumidor a oportunidade de fazer ou protagonizar um filme do Star Wars é muito diferente do que apenas fazer um filme de ficção científica. Nesse sentido, toda marca vai ter a sua propriedade intelectual. Vai ser preciso achar a forma de fazer disso uma plataforma de entretenimento para seu cliente. Assim como as campanhas se tornaram muito mais interativas depois da internet e foi preciso focar mais em criar
conceitos do que títulos, sinto que o mesmo vai acontecer com o branded content e os filmes publicitários. E acho que é aí que entramos (diretores/produtoras). Assim como em um jogo de videogame se trabalha para criar um mood e uma narrativa coesa mesmo que o jogador tenha um certo controle da história, o diretor, juntamente com a produtora audiovisual, talvez passe a exercer o mesmo papel: focar na criação dos conceitos audiovisuais e entregar uma parte da autoria dessa experiência para o espectador.

Eu realmente não acho que exista algo que a IA não vá fazer no futuro. Principalmente se olharmos sob a ótica da performance, do custo, e todas essas métricas. Mas também acho que não vamos querer assistir só a peças feitas por computador. As pessoas sempre olharam para a publicidade (e o cinema) como um espelho da sociedade, buscando identificação. E isso, a meu ver, é algo que não vai mudar. Não é porque vamos poder fazer conteúdos incríveis com pessoas, lugares e vozes que não existem que as pessoas vão querer assistir somente a isso. A evolução, no entanto, está acontecendo de forma muito rápida. E os limites simplesmente deixarão de existir. Estaremos finalmente confinados apenas ao tamanho da nossa imaginação.

Caio Rubini, diretor da Café Royal

Leia texto anterior da seção O Espaço é Seu, aqui.

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