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A verdade nua e crua (Sabrina Guzzon)
A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Você concorda mais com Aristóteles ou com Oscar Wilde? Seja qual for a ordem correta dos fatores, me parece que a arte nos ajuda a processar alguns fatos e emoções da vida.
A gente está sempre tentando lidar melhor com as coisas. Da mesma forma, a arte, a criatividade, as licenças poéticas e a geração de humor nos permitem enfrentar verdades da vida que podem ser incômodas.
É um instinto animal procurar conforto, porém, nada de realmente significativo se faz nesse estado. Todo crescimento, toda conquista e todo amor geram desconforto e, por isso, o ser humano se identifica e se mobiliza com verdades instigantes, que nos fazem mexer na cadeira. Técnicas artísticas nos ajudam a confrontar essas verdades de forma mais palatável, provocando mais inspiração do que desconforto.
É aí que eu vejo uma simbiose muito forte entre minhas paixões pessoais e a minha escolha profissional como publicitária.
Desde muito pequena, senti muita atração pelo desenho, pela escrita e pelo cinema. Comecei querendo colorir o mundo, e tomando aulas de desenho. Gostava de desenhar rostos e me apaixonei pela arte realista.
Com o tempo, a paixão pela escrita ocupou o maior espaço e, até hoje, publiquei quatro livros. O quinto chega logo pela editora Urutau (dando um spoiler: ele se chamará "Aquarela" e será um livro de contos, que irá falar sobre diversas cores.)
No cinema, minha paixão é especialmente pelo documentário.
Nos três casos, o olhar para verdades humanas, para o cotidiano e para os sentimentos difíceis e o processamento deles, me encanta.
Percebi que a boa comunicação precisa também usar técnicas artísticas para apresentarmos verdades fortes, instigantes, que gerem identificação, inspirem e provoquem uma mudança de hábito.
Muitas vezes, as verdades não são fáceis de serem processadas e, por isso mesmo, são tão poderosas.
Um bom exemplo disso é o novo filme de Dia das Mães, da marca Boticário, feito pela agência AlmapBBDO (leia e assista aqui). A situação de confronto entre mãe e filho, e a turbulência sendo mostrada com uma linguagem poética, acabam transformando o filme em uma peça primorosa. Ao invés de abraçar uma verdade clichê, a marca se mostrou corajosa e apresentou a tensão na relação. Não é um insight fácil de ser abordado e, muito menos, aprovado por um cliente. Uma história difícil. Mas é isso mesmo que faz dela tão potente.
Gosto desse tipo de abordagem realista e, ao mesmo tempo, linda pela forma que é apresentada. Me identifico e acredito que as pessoas também sintam o mesmo, justamente porque é um filme com sangue correndo nas veias.
Pelo menos aqui em casa é assim. Não é só amor o tempo todo. Tem briga, tem lágrimas, tem dúvida, tem medo, tem todos os tipos de sentimentos. E, muitas vezes, acontecendo ao mesmo tempo.
Costumo dizer que nossa casa é um ótimo ambiente de teste para muitas marcas, e um ótimo cenário para o desenvolvimento de histórias. Temos filhos de diversas idades: 7, 8, 12, 15, 21 e 24 anos. Temos gatos e cachorros. Temos ex-marido/esposa. Temos bagunça. Temos o amor sobrevivendo ao caos cotidiano.
Essencialmente, o que fazemos na indústria da comunicação é contar histórias, baseadas em poderosas verdades humanas, que se conectam com as pessoas, inspiram sonhos e oferecem motivos para repensar comportamentos.
Por isso, independentemente dos pontos de vista de Aristóteles ou de Oscar Wilde, acredito firmemente em uma coisa: a comunicação de marca deveria se inspirar na arte, para ajudar as pessoas a lidarem com a vida e suas verdades.
Essa é a melhor forma de ajudar as marcas a se conectarem profundamente com suas audiências.
Sabrina Guzzon, sócia-fundadora consultoria Truths