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SxSW 2016

Repita comigo (Rui Piranda)

16.03.16

Repita comigo: OMM OMM OMM

Último dia no SxSW e reservei minha agenda para assistir a palestras que mostravam o impacto do digital não “apenas” no mercado publicitário. O resultado foi grandioso: ressignificou a comunicação como um todo para mim.

Comecei o dia com o grandioso projeto da empresa Kasita. O nome é delicado, mas inspira a palestra "A Micro Solution to a Giant Problem: Urban Housing". Nos próximos anos, 70% da humanidade vai morar nos grandes centros urbanos. Como resolver o problema de espaço? E o preço? Jeff Wilson, PhD e CEO da Kasita tem a solução. São estruturas metálicas modulares que recebem boxes com pé direito duplo, espaços em vidro com muita luz e... pouquíssimo lugar para objetos. Mas tudo totalmente conectado. Os milleniuns agradecem. Está cada vez mais caro sair de casa e a solução garante independência de toda uma geração que quer ter seu próprio espaço, de preferência na cidade.

Falando em cidade, pulo para a próxima palestra "Taking it to the Streets: Digital Gets Physical". Foi um painel apresentado por pessoas com cargos como Chief Strategy Officer, Director of Data Strategy. Gente que trabalhou na Google’s Sidewalk Labs (entendeu a questão?). São profissionais que estão definindo projetos como LinkNYC, que começou a espalhar quase 7 mil pontos de wifi de altíssima velocidade em vários pontos de Manhattan (no lugar dos antigos telefones públicos). E o que você pode fazer com isso? Pode carregar seu celular, consultar o mapa da cidade com sugestões sobre as vizinhanças (imagine as curadorias), baixar músicas que de alguma forma tenha a ver até com o quarteirão ou com os moradores e... pode usar a alta conexão para ligar de graça (via dados) para qualquer lugar do mundo. Quem paga a conta? Os anunciantes. Em troca, as marcas, devidamente autorizadas, pegam seus dados e se misturam com a sua vida. Prestam serviços e, enquanto o seu bluetooth estiver ligado, a cidade estará conectada a você.

Ok, ok, estamos preparando as casas e as cidades para receber ainda mais gente. Mas, e os carros? Aí começa a questão da palestra "Rides, Drives and Hyperloop: The New Transportation". Luke Schneider, CEO da Silvercar, uma das empresas ligadas ao projeto "Hyperloop", mostrou, com pesquisas atuais, como os nossos hábitos e desejos estão mudando. Já estamos compartilhando nossos veículos com caronas solidárias, já há mais disponibilidade de transporte particular (Uber), e as montadoras já estão se movimentando e se associando a startups, como a Lift, para oferecer serviço de compartilhamento de automóveis. Sabe a bicicleta do Itaú? Pois é, vamos ter isso para carros. Por que? Bem... porque estamos migrando do desejo da posse para o real desejo de mobilidade. Nossos carros, em média, são usados apenas 2% do tempo. E a gente paga estacionamento, imposto, seguro, manutenção. Sem falar nos intermináveis engarrafamentos. Ah... E o que é "Hyperloop"? É um sistema de transporte de alta velocidade que chega a até incríveis 1.200 quilômetros por hora em tubos a vácuo. Coisa do futuro? As primeiras instalações já estão sendo feitas em Las Vegas.

Deixei para o fim a reflexão. Pense em qual será o papel da comunicação num mundo como este que já estamos vivendo. Um dos palestrantes falou que os planejadores agora têm que pensar/definir os conteúdos que estarão disponíveis. Outro afirma que devemos ser Content Agregators. Vi um filme sobre o que as pessoas esperam do LinkNYC. Elas querem tudo. Querem falar com a lua. Querem Marte. Querem que as pessoas se sintam bem-vindas nas cidades. Querem suas músicas preferidas. Querem dicas de onde comer e onde comprar (de acordo com os dados que elas já deram). Querem tudo rápido porque acessam o telefone quase 100 vezes por dia, mas ficam apenas alguns minutos cada vez. Pense. Adblocks já são um fato. Mas a necessidade de conectividade, serviços e curadoria continuarão indispensáveis. Nosso papel como agência e comunicadores transcende formatos de mídia. Precisamos definir uma identidade ainda mais profunda para marcas e fazer com que seus produtos e serviços sejam percebidos como relevantes (e no caminho das pessoas).

Intenso, né? Então fique com a minha última palestra do dia: o Keynote de encerramento "Why Happiness is Hard and How to Make it Easier". Andy Puddicombe, monge budista e fundador da plataforma digital de meditação Headspace, afirmou que numa sociedade tão fragmentada e multi acessada como a nossa, só existe um meio de ser feliz: voltar-se por alguns momentos para si mesmo. Respirar, meditar, e tentar reduzir o ritmo, nem que seja por breves espaços de tempo. Ele fez a plateia com mais de duas mil pessoas meditar simultaneamente. Confesso: saí de lá melhor, mais leve e fui beber uma cerveja. Tudo fez muito mais sentido para mim.

Rui Piranda
Diretor Executivo de Criação
FCB Brasil

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