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O Espaço é Seu

Os que iam ao Coliseu e os que amavam Amy (Átila)

27.07.11

Dias atrás o mundo assistiu a twittagem de uma morte anunciada: Amy Winehouse encontrada morta em sua casa, provavelmente numa overdose de tudo quanto é dose.


Acho que até mesmo antes do corpo esfriar, lá estavam fãs de verdade, fãs de fãs de verdade e um sem número de fãs de mentira postando no Facebook e no Twitter mensagens de despedida, dor, lamentos poéticos de gosto duvidoso (“o céu ganhou mais uma estrela”) e frases com a mais barata das filosofias (“o mundo era melhor com Amy” ou “viveu pouco mas viveu intensamente”).


Depois que não podia mais ler Twitter, Amy virou trend topic.


Depois que não podia mais dizer "Obrigado, pelo amor de vocês”, virou a mais amada no Facebook.

Se os que amavam Amy tivessem postado no Facebook e Twitter da moça juras de amor aos milhões, tivessem feito do #liveamy, do #amyforever ou do #Iloveamy um trend topic mundial antes do fatídico 23 de julho, e assim, postando e hashetagueando, conseguissem mudar o destino trágico da talentosa artista (ou pelo menos adiado), aí sim eu começaria a acreditar que as redes sociais são de fato uma voz mobilizadora global, a palavra dada de graça aos muitos que nunca poderiam comprá-la (ou ganhá-la do Sarney).


Acho que no fundo somos iguais aos romanos da época do Coliseu. Lotavam o estádio para assistir lutas. Mas queriam mesmo é ver o sangue derramado pelo gladiador. Não bastava o espetáculo do mais forte vencendo o mais fraco. Era necessário o final trágico representado pela morte de uma pessoa. Apesar da minha idade avançada, não cheguei a pegar o Coliseu, mas posso apostar que à época, após o delírio da torcida, seria possível sentir um certo “oh” coletivo com traços de lamento enquanto o corpo era retirado da arena. Semelhante ao que sentimos quando assistimos a “cobertura completa do Fantástico”.

Os que amavam Amy (e quero deixar claro que não estou entre eles) iam aos shows para ouvir “Back to black”, mas também para vê-la trôpega e bêbada. Iam ao Rio de Janeiro e a aplaudiam quando ela surgia, abobada e patética, na sacada do hotel mostrando parte do peito, amparada pelo empresário sorridente. Nas fotos diárias, não se importavam com seu avançado estado de degradação, com seus dentes apodrecendo, com os restos de cocaína visíveis no nariz, desde que aquilo tudo rendesse um terceiro CD.


Os que amavam Amy nunca se manifestaram antes do dia 23. Nunca pediram, com a mesma intensidade das lágrimas que hoje derramam, um “chega”, “pare” porque “nós amamos você, Amy”.


Os que amavam Amy nunca disseram o que hoje proclamam, seja no Twitter, seja no Facebook, seja na frente da casa dela: que a queriam viva.


Átila Francucci


 Comentários

Andre - Textinho simplista, viu? A solução era o Twitter e o Facebook mesmo. Besta, besta, besta.


 

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