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Hyper Island e Digital Invaders por Marco Tavolaro
O que esperar de uma viagem? Com certeza, aprendizado, novas experiências, novas pessoas, novos pontos de vista e muita informação. Algumas vezes nova, outras nem tanto, mas ao menos com uma interpretação na qual ainda não havíamos pensado.
Quando eu decidi que precisava tomar uma atitude e aprender o "digital", tive um pensamento bem linear e muito óbvio, por sinal. Procurei uma escola localizada na Suécia, a terra da excelência do "digital".
Mas, na minha inquietude e curiosidade, qual não foi a minha surpresa quando descobri que bem mais perto havia uma escola gabaritada nas mesmas disciplinas e que, com certeza, entenderia meu cenário de trabalho, minhas experiências profissionais e, mais importante ainda, "o jeito latino de ser". Tudo isso com a chancela de uma agência que eu não conhecia, particularmente, mas que era famosa por seus resultados em festivais e seus trabalhos primorosos: Grupo W.
Mas era tarde demais. Há uma semana de embarcar para a Suécia, entrei em contacto e descobri que seria possível fazer um curso mais completo, em um tempo maior, com mais intensidade e por praticamente 1/3 do que havia pago por um workshop de 3 dias. Medo.
Chego a Suécia, numa cidade no meio do nada, onde há o museu da Marinha, uma base de submarinos, um ótimo pub e nada mais. Bem, há ainda uma prisão desativada, que é a sede original da escola reconhecida como fonte de conhecimento no mundo inteiro - como um de seus professores adora dizer: "Don't believe the Hype", mas, infelizmente, eu acreditei, e me arrependi.
No primeiro dia de aula, escuto muitos conceitos antigos sendo vendidos como verdades absolutas e que a mudança de atitude é a única saída para sobreviver a uma realidade ameaçadora para quem não domina o Digital. Até aí, nada de novo, afinal, é por isso que estou aqui, né? Em um workshop de 3 dias, + da metade do 1º dia é usada para fazer gincanas de RH e nada de trabalho concreto, a não ser apresentações de cases do famoso mundo "digital" e uma frase que me fez acordar desse transe coletivo em que era um dos "atores" principais: "Digital is gonna fuck you up!", proferida pelo mesmo "instrutor" que adorava também dizer: "Don't believe the Hype".
Bem, eu segui esta lição à risca na Hype(r) Island Master Class for Creatives e no mesmo momento mandei uma DM por Twitter aos Digital Invaders: "Estou no lugar errado. Como podemos conversar sobre a possibilidade de fazer um curso aí?".
Em menos de duas horas recebo a resposta dizendo que a próxima turma só seria em dezembro ou janeiro e que um dos fundadores da escola e dono do Grupo W estaria em Londres na mesma data em que eu chegaria lá. Coincidência? Não acredito nisso.
Na mesma hora, enviei um e-mail e consegui falar com Ulisses que me respondeu prontamente e gentilmente se dispôs a me receber no hotel em que ele estaria. Por mais surreal que possa parecer, dois latinos se encontraram num lobby de hotel, em Londres, e conversaram em inglês (meu espanhol é terrível e não me atreveria a conversar com Ulisses naquele espanhol quebrado) sobre as experiências da escola, sua dinâmica, seu conteúdo, sua didática e seus professores.
Sabe quando você conversa com alguém, pela primeira vez, mas tem a sensação de estar batendo papo com um amigo de longa data? Foi assim que saí daquele lobby, determinado a ir a um lugar onde mais do que aprender, estaria inserido em um contexto próximo à minha realidade. Se houvesse vaga no curso, e se eu não tivesse compromissos profissionais na Europa, já tinha saído daquele hotel direto para o aeroporto da Cidade do México.
Após meses de frustradas tentativas de matricular-me no curso, conseguir um visto de estudante (que não consegui) e sincronizar agendas, cheguei a um acordo para ir no fim de abril e ficar até o final de agosto. Depois de reorganizar toda a minha agenda para o ano de 2011 - até parece que em nossa profissão temos essa rotina -, me preparei para vir a Saltillo.
Como toda boa história, teria que haver mais um componente de suspense: uma semana após comprar meu bilhete, recebo um e-mail da recruiter mundial da Y&R de NY perguntando se aceitaria uma posição de Diretor de Criação em Amman, na Jordânia.
Apesar dos conflitos que rolavam lá, decidi escutar a proposta e recebi no mesmo dia uma ligação da TEAM Y&R Amman, desesperados para que ouvisse a proposta deles. Ok, e agora? (e lembre-se que estou falando dos árabes, que querem TUDO para ontem, mas deixam sua decisões para o ano que vem).
Dúvidas pairam sobre minha cabeça e envio e-mails para o pessoal da Digital Invaders. Depois de pensar muito, chego à conclusão de que tinha que vir para o México. Além do meu futuro profissional, eu não resisti à curiosidade de conhecer mais uma cultura, um país, novas pessoas.
Já se passou mais de um mês e parece que cheguei aqui ontem; aprendi e aprendo a cada dia. Se eu me arrependo? Bem, Y&R tem no mundo inteiro, Digital Invaders e seus professores só existem aqui em Saltillo.
Marco Tavolaro
mtavolaro@globo.com