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Dois estagiários malucos na Europa

Parte 4: a multiplicação dos salários

23.12.09

O milagre da multiplicação do salário de estagiário.

Tá bom! Depois de falar de música, pintura, grafite e fotografia acho que está na hora de falar um pouco de publicidade. Ou pelo menos, contar como entramos para o mundo da propaganda europeia, quando isso nem fazia parte dos planos.

Tudo começou no final da nossa estadia em Londres, quando nosso visto de estudante já estava prestes a vencer e sentíamos que ainda não era a hora de voltar para o Brasil.

Foi quando, em um momento de luz, após ler um texto do Erick Rosa da Leo Lisboa, aqui na coluna Passaporte, nós pensamos em tentar contato com alguém de Portugal. Lembramos de um tal 'Manuel de Instruções' que o Ícaro Dória tinha escrito, também para a seção Passaporte, e de lá arrancamos grande parte dos contatos dos Diretores de Criação das maiores agências daqui.

O plano não era mandar pasta por e-mail e esperar respostas. Queríamos ir pessoalmente, aproveitar os vôos low coast e contar cara a cara as nossas experiências, mostrar nossos trabalhos pessoais e profissionais, além de conhecer Lisboa e ver se seria um bom lugar para morar. Então, depois de quinze dias de muitos e-mails e telefonemas (não foi muito fácil se acostumar com o 'Tô' no lugar de 'Alô'), conseguimos marcar dez entrevistas para os cinco dias em que ficaríamos em Lisboa.

Viemos no começo de março e, depois de muita conversa fixe e imperiais no Bairro Alto (leia a última parte do Manuel de Instruções para traduzir este trecho - aqui), voltamos para Londres com uma vaga para duplar em uma das maiores agências aqui de Portugal, a Young & Rubicam. O problema: seria um estágio. E o pior: com salário de estagiário.

A gente não fazia a MENOR ideia de como iríamos nos sustentar em Lisboa. Com o que a gente ganharía não daria nem para pagar as despesas de moradia. E ainda teríamos gastos com transporte, alimentação e uma ou outra birita. Mas bom, preferimos deixar esse problema para depois. Fizemos nossas malas, organizamos os últimos detalhes na ilha e partimos para a terra de Pedro Álvares Cabral.

Na semana das entrevistas, tínhamos ficado em um hostel bem baratinho perto das Amoreiras, região onde está boa parte das agências daqui, inclusive a Y&R. Então, para economizar no transporte da primeira semana, ficamos no mesmo lugar. A ideia era ficar só enquanto procurávamos algum trabalho extra e ai encontrar um quarto pela cidade.

Acontece que o que era para ser uma semana virou duas, duas viraram um mês e um mês virou seis. Sim! E isso porque logo na primeira semana, o dono do hostel, que já tínhamos conhecido na primeira visita, nos falou de um novo hostel que ele estava inaugurando. Quando soubemos disso, enchemos tanto o saco dele para fazer a comunicação visual do hostel que ele acabou aceitando.

Mas disse que não nos pagaria, que no máximo nos daria em troca algum tempo de moradia gratuita. PERFEITO! A gente também não acreditou! Em menos de cinco dias em Portugal, podíamos respirar muito mais aliviados! Não teriamos que trabalhar durante a noite e tínhamos um lugar para morar pelo menos por um tempo.

Arrumamos nossas coisas, colocamos no carro do Antônio, dono do hostel, e fomos conhecer a nossa nova casa. O lugar era insano! Enorme, com um bar de verdade dentro da sala e localizado no coração de Lisboa (ainda daria para ir e voltar a pé da Young! Ok, com uma caminhada de quase três quilômetros de pura ladeira! rs.).

Nesse mesmo dia ficamos lá e deixamos combinado os primeiros trabalhos a serem feitos: três placas com o nome do hostel, para as três diferentes entradas.

Queríamos que as placas tivessem a mesma linguagem da decoração interna, que foi toda feita por um grupo de artistas plásticos de Lisboa, chamado 'E viveram felizes para sempre'.

Estes artistas encontram novas utilidades para materias, que eles acham pelas ruas, e criam telas com colagens de revistas e jornais antigos. Então, para comprar os materiais necessários, visitamos uma famosa feira na cidade, chamada Feira da Ladra. Neste lugar você encontra absolutamente tudo: muito lixo, muita coisa usada, muita tranqueira e tudo por uma pechincha. Exatamente o que a gente precisava.

Como fazíamos as placas só nos finais de semana, levamos quase um mês para terminar as três. A estratégia era não fazer tudo na velocidade máxima, pois assim ganharíamos mais tempo. De qualquer forma, o Antônio gostou muito do resultado das três e com isso nos passou mais trabalhos.

Fizemos cartazes internos, sobre projetos do hostel, passeios e viagens, fizemos página no Facebook, Twitter, Blog, folders e tivemos mais um monte de ideias.

A estratégia era ter o feeling para perceber quando estávamos começando a ser um estorvo no lugar e ai pensar em algo que pudéssemos fazer para compensar nossa estadia. Chegamos a promover shows na sala de estar, jantares com os hóspedes, visitas a pontos turísticos, passeios guiados ao Bairro Alto e mais alguns programas que nos ajudaram a continuar lá.

A última tacada foi o 'Busking na Varanda'. Por ser passagem de turistas, resolvemos tocar violão e gaita na varanda. E claro, percebemos que desta forma poderíamos receber algum cascalho, então jogamos um balde pela varanda, amarrado numa corda, para que os gringos pudessem encher de tips! Sucesso garantido! ;o)


Quando os trabalhos artísticos e publicitários já estavam se esgotando, nos oferecemos para trabalhar na recepção durantes os finais de semana. E, assim, ficamos. Num hostel que nos oferecia internet wireless, computadores, café da manhã e cama, bebidas no bar (que o Antônio não leia essa parte). E até comida nós não precisávamos comprar, porque a maioria dos mochileiros sempre deixava para trás muita coisa que não queria levar na mala. Ponto pros brazucas!

Então, para compensar toda essa ajuda que o Antônio nos deu, a última coisa que podemos fazer é indicar o hostel para vocês. Portanto, se estiver pensando em ir a Lisboa ou souber de alguém que vá, procure o Hostel Kitsch. Ele tem uma atmosfera absurda de boa e está localizado no centro de Lisboa, ao lado do Bairro Alto, que é onde fica a combinação perfeita de Portugal: a caipirinha de meio litro por 4 euros e as suecas. Não estamos ganhando comissão nenhuma por isso, se entrar no blog verá que o lugar é maneiro mesmo! =)


Agora, vamos correr para fazer as malas, porque, depois de mais de um ano fora, estamos indo passar Natal e Ano Novo no Brasil! Aeee! Vai ser bom fugir um pouco deste inverno terrivel. Mas, ano que vem estamos de volta à Europa!


Ah, e quase íamos esquecendo: próximo texto tem uma novidade da pesada. Já adiantamos que não estamos mais na Young e que nem estaremos mais em Portugal. Mas só vamos dizer o que vem por aí no próximo texto, porque essa será outra aventura!  Beijo e abraço a todos! Nos vemos em algum buteco neste fim de ano! ;o)


 Rogô de Castro e João Unzer


Leia os capítulos anteriores da aventura aqui, aqui e aqui.

Dois estagiários malucos na Europa

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