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Na Suécia

Programa de TV muçulmano gera polêmica

04.12.08

O Halal-TV, novo programa da televisão estatal sueca SVT, apresentado por três jovens muçulmanas cobertas com o tradicional véu islâmico, está provocando debate sobre o choque entre normas culturais diversas e a integração da população muçulmana na Suécia.


Em horário nobre, são exibidas as opiniões das três jovens muçulmanas nascidas na Suécia, mas de fé profundamente islâmica, vindas de famílias que emigraram de países do Oriente Médio e do Norte da África.


O objetivo do programa é mostrar como as três muçulmanas vêem a Suécia e seus valores.


Os programas abordam temas como sexo, álcool, igualdade e padrões de beleza, com um elemento ocasional de humor.


As apresentadoras são Dalia Azzam Kassem, uma estudante de Medicina de 22 anos de idade, a higienista dentária Khadiga El Khabiry, de 25 anos, e Cherin Awad, de 23.


Durante os programas, elas recebem convidados suecos para debater os temas abordados e entrevistam pessoas nas ruas.


As controvérsias em torno da Halal-TV surgiram antes mesmo de o primeiro episódio da série ir ao ar, quando a autora e imigrante curda Dilsa Demirbag-Sten revelou uma entrevista gravada em que uma das apresentadoras do novo programa defendia a condenacão de mulheres à morte por apedrejamento como uma punição apropriada para o adultério.


Embora a apresentadora Cherin Awad, de 23 anos, tenha se distanciado dos comentários feitos há cinco anos sobre o apedrejamento de mulheres, Demirbag-Sten questionou a decisão da SVT de permitir que a jovem liderasse um programa sobre mulheres muçulmanas na Suécia.


"Há várias maneiras de a televisão estatal usar altos padrões de jornalismo para abordar questões que afetam a população muçulmana do país, sem reduzi-la a um grupo de fanáticos religiosos que acreditam que as mulheres devem manter a virgindade até o casamento e que apóiam o apedrejamento por adultério", argumentou Demirbag-Sten em artigo publicado no jornal sueco Svenska Dagbladet.


Os diretores da série salientaram que Cherin se distanciou das declarações e defenderam a concepção do programa de apresentar o ponto de vista de jovens muçulmanas como forma de a sociedade ter maior compreensão acerca da população muçulmana no país, que aumentou bastante desde a guerra no Iraque.


No primeiro episódio do Halal-TV, mais uma controvérsia foi levantada: as apresentadoras se recusaram a cumprimentar um convidado do programa, o colunista de jornal Carl Hamilton, com um aperto de mão.


A lei islâmica proíbe qualquer contato físico entre homens e mulheres que não sejam casados.


As apresentadoras optaram por cumprimentar Hamilton com o gesto de levar as mãos junto ao peito, deixando a mão estendida do jornalista pairando no ar.


O resultado foi uma ríspida troca de palavras: "Desculpe, mas você precisa apertar minha mão", disse o jornalista. "Isto sou eu quem decide", retrucou Khadiga, perguntando a ele como um sueco que se convertesse ao Islã deveria proceder.


"Na Suécia as pessoas cumprimentam-se com um aperto de mãos. Se essa pessoa não for capaz de fazer isso, que se mude para uma caverna e se torne um eremita", respondeu Hamilton, acrescentando: "O problema não somos nós (os suecos). O problema é que vocês vêm para a Suécia e não querem nos cumprimentar com um aperto de mãos. O problema são vocês".


"Eu não vim para a Suécia. Eu nasci aqui", lembrou Khadiga.


O debate se expandiu na mídia sueca, com vários suecos manifestando sua divergência em relação à postura do jornalista.


Com BBC Brasil, na íntegra aqui.

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