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32º Anuário

Ao CCSP e ao meu querido Marcello Serpa

25.04.07

Minha intenção não era entrar em polêmica nem com um nem com outro.  Um, porque é a entidade que nos representa nesse mercado tão pouco e mal representado. Outro, porque é um dos poucos ícones profissionais dessa nossa atividade que merecem ser seguidos por seu trabalho e por suas atitudes nesse mercado tão carente de bons exemplos em ambos setores.  Mas se aqui estamos, aqui vamos nós.

Marcello, sua premissa está equivocada. Ao contrário de você, que foi convidado há três semanas, eu só fui "cobrado" de uma decisão sobre se aceitava ou não ser jurado do CCSP na última quarta-feira à tarde.  Sabe como?  Através de um email do Clube, assinado pela Ciça para a minha secretária, pedindo a ela uma intervenção para que eu desse essa resposta "urgente" porque ela precisava "anunciar a lista de jurados". (???)  Não entendi. Resposta a o que?  Além disso eu conhecia a lista de jurados, informada pelo próprio CCSP há mais de um mês, através de seu próprio site.  E eu não estava nela.

Me informei e então fiquei sabendo do tal convite para que eu e você nos juntássemos a este júri.  Não recebi, portanto, até o dia da cobrança da resposta a uma pergunta não feita, nenhum convite, através de quem quer que seja, do CCSP.

Claro que agora, entendendo a história de trás para frente, fica fácil supormos que algum email está vagando por aí, em algum buraco negro da web.

Ou que acharam que mandaram e não mandaram ou que mandaram para algum endereço errado e não notaram que ele voltou. O fato é que eu não o recebi.  E se não o recebi, não poderia tê-lo respondido antes.

Naturalmente que ninguém tem nada a ver com os meus problemas ou minha agenda profissional, e eu não quero aborrecer vocês contando sobre eles, mas a verdade é que não tive um segundo sequer para respondê-lo até ontem às 10 horas da noite.  Pelo menos, não para respondê-lo com a propriedade que ele me parecia exigir.  Como se não bastasse isso, estive fora de São Paulo de quinta a domingo e, nesse período, minha secretária se comunicou comigo algumas vezes, pressionada pela secretaria do CCSP que me pedia uma resposta urgente - a um convite que não recebi formalmente, desculpem a insitência. 

Achei, uma vez mais, que não caberia ali uma resposta simples, um sim ou não.  Achei, e acho ainda, que eu devia uma explicação para o meu não.

Diferente de você, Marcello, eu não chego a achar uma delícia participar deste ou de outros júris.  Faço isso por dever de ofício, com a esperança até de que em algum momento eu consiga me divertir.  Mas, normalmente, eles, os júris, me tiram muito tempo da agência, que já toma quase todo o tempo da minha família - e ambos, agência e família, me cobram um bocado cada segundo roubado.  Por isso que eu não escrevi aquele email às 3 da manhã da segunda-feira, hora em que eu saí daqui.  E achei que às 10 da noite de ontem poderia ser uma boa hora para fazê-lo, já que minha última reunião tinha acabado àquela hora.

Não esperei, portanto, por qualquer razão oportunista, amigo.  Não sou disso e não faço isso.  Até porque, nunca titubeei sobre a resposta que eu daria ao tal convite-não-convite. Hoje, ontem, quarta-feira ou há três semanas.

Meus valores, são meus valores, independentemente dos episódios me prejudicarem ou me beneficiarem.  Aquilo sobre o que eu sou contra eu sou contra, sobre o que eu sou à favor, sou à favor, doa a quem doer, mesmo que esse alguém seja eu. 

Aqueles que me conhecem - clientes, colaboradores, produtoras, funcionários, colegas de profissão, minha família - sabem bem do que eu estou falando e o quanto muitas e muitas vezes eu sofro das consequências que essa conduta me leva a enfrentar.

Por isso, Marcello, não me indentifico nas entrelinhas da sua carta ao CCSP.  Aliás, nas muitas vezes em que eu estive como jurado de festivais você ou seus colegas testemunharam a minha conduta e a minha retidão nas minhas opiniões e nos meus votos. 
Você mesmo, muitas vezes reconheceu isso em telefonemas ou em conversas pessoais me elogiando pelo meu senso ético, pelas minhas escolhas, pelo compromisso com as minhas verdades e pelo meu sentido de justiça.  Entendo agora, ao ler sua carta ao Clube, que talvez essas sejam algumas das tais demonstrações que fazem parte do "mundo competitivo" em que vivemos, onde "diputamos contas, prêmios e reconhecimento". 

Mas que "por trás de abraços, palavras de carinho e atitudes públicas de apreço se escondem muitas vezes sentimentos bem menos sublimes".

Já eu não sou assim Marcello.  Eu sou aquele cara que faz todos os meus funcionários se leventarem da mesa e irem até a sua para aplaudir você e o pessoal da Almap pela vitória - contra a F/Nazca - no Prêmio Caboré.

Eu sou o cara que recupera lá de fora do short-list, na condição de presidente do juri do Fiap, a campanha da Veja, e diz que não pode ficar de fora a campanha que deveria ser Grand Prix (e ela ganha o Grand Prix).  Eu sou o cara que se indispõe e fica antipatizado por meio júri no Festival de Cannes para exigir justiça com os bons trabalhos do Brasil e traz 9 Leões um dia depois de nós termos ganho apenas 1 na primeira votação (acho que foram três para a Almap no final.  Só um, de bronze, para a F/Nazca, até porque esse ficava numa categoria logo à seguir de uma outra onde eu me arrebentei todo para tentar um Leão de Ouro para um filme da W que não era bronze e virou, não era prata e virou.  E eu exigia ouro...).

Eu sou o cara que não vai embora correndo depois do resultado e da entrega do Profissionais do Ano quando não ganho.  Eu sou aquele cara que espera você descer do palco, dar entrevistas, ganhar "reconhecimento", para lhe dar um beijo de merecidos parabéns.

Eu tenho o monstrinho da inveja dentro de mim, Marcello.  E ele grita para mim todos os dias em que alguém faz algo melhor do que eu: "Fábio, você é um bosta".  Ele não me manda matar o que é bom.  Ele não me manda fingir que não vi.  Ele não me manda elogiar o trabalho para o autor e falar mal para destruí-lo quando o autor se afasta.  Ele só grita pra mim: "Fábio, você é um bosta".  Para ter paz com o monstrinho eu só posso fazer uma coisa: tentar fazer melhor. Se não ele continua gritando.

Mas nós não somos diferentes, Marcello.  Nós pensamos absolutamente igual em relação a muitas coisas.  Uma delas é sobre a fórmula desse festival.

Como disse em meu primeiro email, ali não cabia essa discussão.  Mas acho que ficou bem claro como eu penso.  Igual a você.  Sou frontalmente contra essa pretensa democracia do voto direto dos associados para se compor um júri.  Porque é casuística e porque tira de cima da diretoria do Clube a responsabilidade (talvez a maior que ela tem) de fazer um grande júri que premie o melhor da publicidade feita no país. 

Essa é a função da  Diretoria do Clube e ela lava as mãos, finge que é democrática, mas no fundo o que faz é fugir dos aborrecimentos que são inerentes a esse tipo de escolha que não só poderia, como deveria ser feita. Porque foi eleita para isso.  Quem sabe, toda essa discussão não valha, no mínimo para isso? Para que se reveja esse regulamento esdrúxulo, único no mundo talvez, em que uma diretoria, eleita para representar uma classe, devolve para o grupo a decisão sobre algo que deveria ser o mínimo feito por ela própria.

Mas, ainda assim, permaneço firme no meu princípio de que uma regra, boa ou ruim, tem que ser respeitada.  E de que, mesmo uma fórmula ruim, tende a ficar pior quando vira um híbrido de duas.
Mas como eu disse, não quero mais polêmica.

Por isso, encerro aqui afirmando que em momento algum eu tive a intenção de me indispor com o Clube ou com o Marcello.  Nem muito menos, tive a intenção de colocar este último em uma posição delicada.  Para mim, parecia óbvio que esse era um convite inaceitável.  Por isso achei que qualquer um concordaria comigo. Tá aí: mais uma para a minha lista de consequências com que eu vou ter que arcar na vida por pensar como eu penso e agir como eu ajo.


Um abraço à todos,
                                                                                                  
Fabio Fernandes


F/NAZCA SAATCHI & SAATCHI


PS. Marcello, não recebi o email que você disse que estaria me encaminhando.  Definitivamente acho que estou com problemas nos nossos servidores.

Nota do CCSP:  Fábio, o email com o convite foi enviado no dia 04 de abril. Mais uma coisa, a lista que foi publicada no Clubeonline não era a do júri definitivo e sim a dos mais votados na eleição: ainda não tinham sido convidados, nem aceitado o convite. No dia 17/04 enviei novamente um email à Sueli, para que tivéssemos sua confirmação. Ciça Bernardet


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32º Anuário

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