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Tá na hora de animar (Ricardo Big Passos)
Era uma vez uma indústria de calçados que desenvolveu um projeto de vendas de sapatos. Em seguida, mandou dois de seus consultores a uma cidadezinha isolada do mundo, para fazer as primeiras observações do potencial daquele futuro mercado. Depois de alguns dias de pesquisa, um dos consultores enviou a seguinte mensagem para a direção da empresa:
"Chefe, cancele a produção, pois aqui ninguém usa sapatos".
O segundo consultor mandou à direção da empresa a seguinte observação:
"Chefe, triplique a produção, pois aqui ninguém usa sapatos".
Muitos de vocês já conheciam essa história, mas eu não me canso de citá-la dentro do estúdio, principalmente para funcionários novos. Digo isso porque há muito tempo não se ouvia tanto a palavra "crise" no Brasil. Há um pessimismo nefasto no ar, que vem nos contaminando cronicamente. Vejo por todos os lados reclamações generalizadas. Todas elas têm um certo fundamento político e mercadológico, sem dúvida. Mas sinto um certo exagero. E eu não me contento com isso. Não quero ser o pessimista. Sugiro um respiro. Vamos tentar enxergar diferente. Mexo com 3D, portanto gosto de explorar a realidade por todos os pontos de vista possíveis, e faço questão de mostrar que tem coisa boa acontecendo por aqui. Acho que tá na hora de animar!
A animação no Brasil nunca esteve tão bem. Nunca na história do país se produziu tanto nesse gênero. E não estou falando tão somente do mercado publicitário. Coloque aí na cesta TV fechada, internet, blogs, mobile e por aí vai. São inúmeras peças, cada qual com seu brilhantismo, sendo produzidas e veiculadas em diversas plataformas.
Isso produz alguns efeitos colaterais interessantes: mais empresas atuando no mercado, novos profissionais entrando no ramo e expansão da demanda por mão-de-obra qualificada.
Os profissionais que já trabalham na área há mais tempo estão com a agenda lotada. E isso é muito bom. Já não tem muito artista talentoso dando sopa, estão todos envolvidos em algum tipo de projeto. Na verdade, estamos exportando mão-de-obra. O número de profissionais brasileiros que conheci que estão indo trabalhar nos grandes estúdios, como Pixar, Dreamworks e Weta Digital, é grande. Temos muitos "Carlos Saldanhas". Tem muita gente produzindo coisa boa por aqui. E no ramo publicitário então? Tem mais fornecedor que picolé mexicano. Mas a concorrência é saudável e os resultados disso também. Estamos vivendo um verdadeiro boom no mercado de animação nacional. E essa é uma grande notícia.
O que temos, portanto, não é um momento de crise, mas sim um momento de oportunidade. A crise nos incentiva a achar novos caminhos, experimentar novas ferramentas e sair da zona de conforto. A crise ajuda a chacoalhar a poeira. Temos a chance de usar uma das ferramentas mais poderosas no ramo da produção audiovisual. Uma ferramenta altamente explorada em mercados desenvolvidos como o americano e o europeu. E não vamos nos prender somente na estética do Buzz Lightyear. A variedade de linguagens que uma animação proporciona é abrangente e riquíssima. As técnicas são variadas, podem ir desde uma animação tradicional 2D, um cut out, um stop motion até uma animação 3D altamente técnica. E o preço, ó! Muitas vezes pode ajudar a viabilizar uma grande ideia.
Vivemos um momento histórico no Brasil e o mercado publicitário tem que se aproveitar disso mais do que nunca. Quando eu olho pro mercado, vejo o mundo descalço. Vamos animar, galera?
Por Ricardo Big Passos, sócio e diretor criativo do Big Studios, empresa especializada em animação e CGI.