Acesso exclusivo para sócios corporativos
Ainda não é Sócio do Clube de Criação? Associe-se agora!
Acesso exclusivo para sócios corporativos
Ainda não é Sócio do Clube de Criação? Associe-se agora!
Quando deixamos de ser tatuadores? (Guilherme Pinheiro)
Depois de anos, decidi fazer minha primeira tatuagem. Tinha a ideia, encontrei o tatuador com o estilo que buscava e marquei uma conversa. No estúdio, ele me ouviu atentamente, mas o problema veio depois, quando disse que agendaria um horário para dali duas semanas, faria o desenho e me mostraria um pouco antes da sessão.
Fiquei indignado. Perguntei o que faria caso visse a arte e não gostasse. Ele respondeu: “a gente trabalha assim, você quer fazer como?”.
Pensei em retrucar: “cara, isso vai ficar o resto da vida no meu braço, eu quero no mínimo algumas opções. Quero levar pra casa, pedir opiniões, ficar olhando, imaginando onde dá pra melhorar e, por que não, até encontrar coisa errada onde não tem.”
Claro que não falei nada, apenas consenti. Afinal, eu poderia procurar outro tatuador, mas passaria pela mesma situação. A verdade é que eles não estão acostumados, como nós, publicitários, a milhares de alterações e, mais do que isso, a milhares de questionamentos sobre o que estão sendo pagos para fazer.
Talvez, se fôssemos como os tatuadores venderíamos nada mais do que o nosso trabalho, o que sabemos e o que escolhemos fazer. Em vez de apresentar no mínimo três opções, apresentaríamos o que acreditamos resolver o problema do cliente. Em vez de sempre ceder às ideias e mudanças dele, manteríamos nossa posição. Até por que, sem isso, quem paga a conta e, teoricamente, compra nossa expertise, não leva mais do que um espetáculo de ideias descartáveis.
Estamos colocando os clientes no processo da maneira errada, cobrando respostas que se soubessem não nos procurariam. Cabe a ele detalhar sua situação e seus problemas, mas principalmente confiar no serviço que está comprando: escolher seu tatuador e deixá-lo trabalhar.
Guilherme Pinheiro, redator da OpusMúltipla