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A imperdível e perdível experiência do SxSW (Vanessa Oliveira)
“Lotado!”, foi a primeira coisa que ouvi quando decidi vir ao South by Southwest 2017. Não existia vaga em nenhum dos (muitos) hotéis cadastrados do evento, sem contar os apartamentos do AirBnb – apenas encontrados em lugares bem distantes. “Quer entrar na lista de espera? As pessoas costumam reservar com antecedência e algumas cancelam quando chega mais perto”, foi o que a atendente me disse. E eu aceitei viver com essa adrenalina de não ter hotel até meados de fevereiro, quando um lindo e-mail de confirmação chegou na minha caixa. Sim, é verdade, as pessoas cancelam. Mas, cá entre nós, não vá contando com isso se você decidir vir no ano que vem. A primeira lição que eu aprendi com o SxSW é que você deve se programar.
A parte de Interatividade foi a que mais me interessou de início, afinal, é o mercado do qual eu faço parte. Só que logo de cara me deparei com decisões difíceis. No mesmo horário, existiam várias palestras que pareciam relevantes. Ok, deal with it. Pelo menos, vir em grupo ajudava a saber como tinha sido aquele painel que você havia perdido.
Muita coisa acontece ao mesmo tempo em Austin nesse período. São diversos hotéis com palestras, marcas promovendo experiências de interação e dando brindes por qualquer coisa, sem esquecer das festas – secretas e públicas – que te deixam com a complicada missão de fazer network até tarde e estar de pé no dia seguinte às 7h da manhã. Até porque você precisa estar cedo na fila para conseguir assistir o tal painel.
Todo mundo, que de alguma forma, busca e incentiva inovação está aqui, quer ver e ser visto. E essa troca de informações e conhecimento, de fato, é muito rica. Aliás, vale dizer que o Brasil está em peso no SxSW. Não tem um lugar que você vá sem escutar o nosso idioma. E é muito legal ver que nós, brasileiros, estamos com esse apetite por inovação.
Bom também foi escutar Wagner Moura e Alice Braga se posicionando em uma das palestras como atores universais e não presos a estereótipos. “Eu ainda quero ser chamado para ser aquele personagem que leva a moça para dançar em Los Angeles”, disse ele, sem tirar a importância de Narcos, que teve uma audiência relevante de americanos mesmo tendo grande parte da produção em espanhol. “Isso mostra que se a história é boa, a legenda não é um problema”. Tempos de se quebrar barreiras e diminuir distâncias. Quer dizer, tempos de se fazer parte do todo.
Não é à toa que VR se tornou commodity no SxSW. Com a realidade virtual, é possível estar, por exemplo, no meio de um espetáculo do Circo de Soleil, uma das vivências mais marcantes que tive no evento. Ao embarcar na proposta, você se surpreende, sente medo, se emociona e experimenta o espetáculo de uma forma intensa, única. Completamente diferente de assistir da plateia. O que nos leva a diversos painéis sobre o assunto, afinal, a tecnologia traz uma nova forma de se contar histórias. E o desafio está, como ouvi em uma palestra da Pixar, em saber guiar a atenção do usuário, que está livre para olhar para qualquer canto do cenário.
Os keynotes trazem as grandes celebridades para o evento e costumam estar sempre lotados. Mas há de se fazer justiça: a fila percorre todo o prédio do Austin Convention Center e até mesmo quando se está no final dela existe a chance de entrar, devido ao tamanho da sala. E são nestes momentos de fila que você aproveita para percorrer mais uma vez a extensa programação do South by Southwest para ter certeza de qual será seu próximo passo. Além das milhões de mensagens que você recebe por dia de amigos que estão assistindo outras coisas imperdíveis. Ansiedade por não estar lá? Imagina.
E com o decorrer do evento você percebe que entrar em painéis que, aparentemente, não têm nada a ver com seu mercado, abre a cabeça – e que talvez aí esteja o ponto mais legal do evento. Se você apura o olhar, tudo se torna insight. A verdade é que a gente chega aqui cheio de expectativas de ouvir coisas novas sobre o que já fazemos atualmente. O que pode se tornar frustrante se nos mantivermos apegados a essa ideia. Na prática, escutar profissionais do seu mercado se torna mais um sentimento de confirmação. Ok, temos as mesmas questões. E isso também é muito bom! O que pode acontecer também com outros assuntos. Ver, por exemplo, os americanos questionando de várias formas as razões de Trump ter sido eleito e o que isso significa é extremamente relevante – tanto em relação a mundo, quanto se pensarmos de forma local nos políticos que temos no Brasil. É preciso fazer parte da discussão e o South by Southwest traz isso.
Um evento que, antes de tudo, é um exercício de desapego, de ter a completa noção de que a todo momento você está perdendo algo incrível acontecendo em outro lugar. E estar bem com isso. O que, convenhamos, é exatamente o que a gente vive agora: milhares de conteúdos sendo produzidos e disponibilizados na internet, à disposição de um clique. Por exemplo, enquanto você está lendo esse artigo, vídeos, textos, fotos e sabe-se lá o que mais entraram no seu feed. ;) E está tudo bem. O famoso FOMO – “fear of missing out”.
Robôs, empreendedores, artistas, cientistas fazem a roda girar no South by Southwest, numa cidade pequena no meio do Texas, estado considerado conservador até o extremo. E, particularmente, isso, só pode e deve ser encarado, entre tantas decepções com as atitudes do ser humano, com olhos de esperança.
Vanessa Oliveira, diretora de projetos digitais da VIU, unidade da Globosat voltada para conteúdo digital