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Atividade do brasileiro na web

Google cria índice sobre habilidades digitais

26.03.19

Em uma iniciativa inédita, o Google criou um índice para avaliar como os brasileiros estão amadurecidos digitalmente e como nossas atividades na internet têm impactado o desenvolvimento socioeconômico do país. O projeto, que teve seus primeiros passos em outubro do ano passado - com perguntas feitas internamente como “por que estamos investindo em educação digital” -, gerou o estudo Digital Skills Index - Índice de Habilidades Digitais.


O resultado da pesquisa, conduzida pela McKinsey Digital (selecionada após concorrência), mostra que o brasileiro apresenta um índice mediano para bom, com nota 3, numa escala de 0 a 5. Porém, uma análise mais aprofundada do estudo aponta que, apesar das habilidades demonstradas - como as de navegação e produção de conteúdo em vídeo -, falta sofisticação do conhecimento. E isso tem efeitos sobre o desenvolvimento da sociedade, já que a digitalização repercute sobre a renda e as oportunidades de crescimento de cada cidadão.


Desde a revolução industrial, temos pesquisas relacionando a inovação científica e tecnológica com o crescimento econômico”, observou Maria Helena Marinho, gerente de marketing insights do Google. Quanto maior o domínio tecnológico, mais avançada a sociedade. Ao pensar na criação de um índice para dizer em que momento o Brasil está, o Google dividiu suas atenção em três macro esferas: as competências digitais que a população mais domina, as oportunidades de capacitação em estratificações por grupos demográficos e o que o índice poderia significar para o desenvolvimento socioeconômico.


Competências


Diversos estudos mostram que o brasileiro gosta do ambiente digital. Temos a quarta população online do mundo, com 70% dos indivíduos conectados. Há uma penetração considerável do smartphone (67% dos brasileiros). Somos um dos países mais presentes nas redes sociais (70% da população, dado 45% acima da média mundial). Temos o terceiro watch time do YouTube no planeta e o consumo de vídeos online aumentou 135% nos últimos quatro anos. No entanto, o Brasil é a oitava nação em número de digital shoppers, indicando que quando a atividade se sofistica nossas habilidades não estão tão desenvolvidas.


Para melhor compreensão dessas competências digitais, o estudo aplicou entrevistas para 2.477 brasileiros (60% online e 40% offline) de 28 cidades de 12 estados (não se limitando a grandes capitais; entraram na pesquisa municípios como Caruaru e Feira de Santana). Foram feitas perguntas separadas em cinco áreas: acesso, uso, segurança, cultura digital e criação.


O que significam esses campos? “Acesso” envolve conhecimentos sobre hardware, software e navegação. De níveis mais básicos a mais aprofundados, que vão de manuseio de equipamentos a uso de aplicativos no celular. Da configuração de devices à utilização das principais funções do browser.


“Uso” se refere a transações online, presença na web, busca de informação e consumo de conteúdo. Entram nessa área pagamentos por meios digitais, armazenamento em nuvem, administração de perfis nas redes, navegação por mapas e GPS, conteúdo on demand, games e reconhecimento de anúncios dirigidos.


O item “Segurança” remete a proteção de dados, avaliação de confiabilidade (diferenciação entre dados pessoais e informações compartilháveis) e consciência legal. Isso inclui identificação de vírus, back-up de dados, configurações de privacidade e denúncia de comportamentos inapropriados.


Em “Cultura Digital” as competências avaliadas são vocação exploratória, solução de problemas e criatividade. Os entrevistados foram questionados sobre aprendizados por conta própria e cultura de tentativa e erro, atualização sobre tecnologias, acompanhamento de reviews antes de adotar algum programa ou aplicativo e busca de soluções criativas.


Na área chamada de “Criação”, entram geração e divulgação de conteúdo, conhecimento avançado de dados e programação. Isso quer dizer desde elaboração de apresentações até aplicação de SEO, passando por gerenciamento de ferramentas de publicidade online, organização e manutenção de base de dados, entendimento de machine learning, visualização de dados e linguagem de programação, além de design de interfaces, edição de vídeos e identificação de erros de programação.


Os graus de domínio variaram pouco nos primeiros campos. De 0 a 5, “Acesso” obteve nota 3,5. “Segurança” e “Uso” ficaram com 3,4, cada. “Cultura Digital”, apresentou nota 3. E “Criação” mostrou a dura realidade: 1,8. Em todas essas áreas, as performances mais negativas foram nas competências mais avançadas, como uso de comando de voz (Acesso), identificação de ameaças como malware (Segurança), transações online (Uso), tomada de risco na utilização de novas tecnologias (Cultura Digital) e conhecimento de machine learning e automação de sistema de dados (Criação).


R$ 70 bilhões


A análise do Digital Skills Index aponta que, se houvesse uma combinação mais adequada das competências digitais, o Brasil poderia ter um adicional de R$ 70 bilhões no PIB até 2025. De acordo com Paula Castilho, sócia da McKinsey Digital, um trabalhador brasileiro, se aliasse as competências identificadas na pesquisa com um grau maior de domínio, poderia ter um impacto de mais R$ 380 na renda mensal - valor equivalente a 40% do salário mínimo.


Sobre as oportunidades relacionadas a grupos demográficos com gaps no índice de digitalização, o Google identificou alguns perfis: pessoas maduras, mulheres jovens e baixa renda. Ou seja, programas que foquem esses públicos seriam benéficos para a sociedade. No caso das mulheres, o que se sobressai são alguns índices específicos, como o de ingresso de jovens na disputa de vagas na faculdade de Ciências da Computação na USP (apenas 15% das inscrições são de mulheres). Isso denota o desafio que representa a presença feminina nos setores de tecnologia.


Mesmo sem ter ainda o índice, a companhia já vinha trabalhando em projetos que atendem alguns desses perfis. Há programas focados em mulheres, lançados em 2016. E desde 2017 a empresa investe no projeto Cresça com o Google, uma maratona de conhecimentos básicos de tecnologias que possam ser aplicadas no desenvolvimento de negócios (para saber mais, acesse g.co/cresca).


Da inauguração até o ano passado, 50 mil pessoas em sete estados foram treinadas nesse projeto. O calendário deste ano do Cresça com o Google inclui cinco capitais - Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife e Goiânia - e o objetivo é alcançar mais 50 mil participantes em 2019 (as vagas são preenchidas de acordo com a ordem de inscrição).


Apesar de ser bastante novo, o Google Brasil já pensa em levar o Índice de Habilidades Digitais para outros mercados, como EUA e demais países na América Latina. Como salienta Maria Helena, não há nada parecido no mundo. Um estudo para o continente europeu já foi feito, mas os parâmetros são muito diferentes - a começar que esse trabalho se refere a uma região e não um país -, o que tornaria incorreta qualquer tentativa de comparação.


 


Lena Castellón

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