Acesso exclusivo para sócios corporativos
Ainda não é Sócio do Clube de Criação? Associe-se agora!
Acesso exclusivo para sócios corporativos
Ainda não é Sócio do Clube de Criação? Associe-se agora!
Arte popular não é folclore, é arte de verdade
Vista muitas vezes como mera curiosidade ligada a tradições regionais, a arte popular brasileira não é folclórica, muito menos primitiva. Com estética toda sua, é uma manifestação cultural que vem ganhando reconhecimento nos grandes centros urbanos do país e, no caso de alguns artistas, até no exterior.
“Seja qual for a região onde a obra foi produzida e com qual material for, a gente reconhece que ela é brasileira. Não dá para explicar por que, mas é algo que nos identifica e nós nos identificamos com ela. O artista brasileiro tem criatividade; em suas peças ele celebra festas, mostra a religiosidade, retrata a realidade. É um saber fazer primoroso”, afirmou Edna Matosinho Pontes, especialista no assunto, durante o painel “Popular também é arte”.
Hoje conhecido mundialmente, mestre João das Alagoas começou a fazer esculturas em barro para ganhar o sustento – coisa considerada impossível por seus conterrâneos. “Apesar de o trabalho da gente ser muito conhecido em São Paulo e no exterior, na nossa terra eles não acreditam que a gente vive de arte, que aquele trabalho dá para viver. Falta informação sobre cultura no Nordeste”, disse mestre João.
Ele começou fazendo miniaturas de santos para vender em feiras de artesanato. Depois optou por valorizar os temas da cultura local e escolheu como “marca registrada” o boi-bumbá. Em suas peças, a saia do boi é ricamente trabalhada com detalhes em alto e baixo relevo, representando os costumes locais, as festas e a religiosidade do povo nordestino.
“Tive muitas dificuldades, mas hoje vivo totalmente de arte, sem precisar de emprego, só produzindo meu trabalho e ensinando as pessoas que se interessam em aprender a arte do barro”, contou mestre João.
Entre uma centena de pessoas que passaram por seu ateliê-escola na cidade de Capela (a cerca de 60 km de Maceió), a que ganhou maior destaque foi Sil da Capela, considerada uma das maiores ceramistas do país.
Ex-cortadora de cana, Sil se interessou pelo ofício ao se mudar para Capela com a família. Ela viu na arte do barro uma forma de ganhar a vida. “Eu queria ser independente, não ter que ficar dependendo do marido, aí comecei a aprender arte com mestre João. Até hoje enfrento o preconceito das pessoas por ser independente”, contou a artista.
Uma característica do trabalho de João das Alagoas com seus alunos é o incentivo para que cada um encontre seu próprio estilo. No caso de Sil, ela escolheu como símbolo o pé de jaca, ou jaqueira, elemento em torno do qual retrata situações, costumes e cenas do dia a dia, muitas vezes com uma pitada de humor.
A ceramista reuniu parte de suas obras e contou a história de sua vida no livro “Do barro eu vim, do barro eu sou”. Para ela, fazer o livro representou uma grande vitória. “Realizei um sonho”, confessou.
Mediador do painel, o pesquisador Renan Quevedo ressaltou que a arte não é opcional. “É algo profundamente necessário para o ser existir. Contando as histórias de vida desses artesãos, trazemos a arte popular para o mesmo patamar da erudita”.
Leia anterior sobre assunto, aqui.
Eliane Pereira