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Tempos de cólera
Como em todas as grandes gestações, em qualquer campo de atuação humana, elas convivem em igualdade de força, atuação e principalmente perspectiva. Na esfera dos costumes, enquanto uma ordem plena das individualidades é defendida por um grupo, de outro lado, uma horda clama pela defesa de regras mais conservadoras. No campo das ideologias econômicas, políticas mais estatizantes eletrizam os debates contra aqueles, mais liberais, a favor do mercado. Tem gente que levanta as armas pelo consumo de proteína animal com a mesma força daqueles que defendem o direito animal. Em todos os casos, há argumentos que merecem atenção e conversa.
Mas vivemos em tempos de radicalismos à flor da pele, sem gosto pela complexidade. É mais fácil tomar partido, levantar bandeiras, bradar palavras de ordem e clichês nas redes anônimas ou nas privadas. Afinal de contas, parece preferível ser aprovado por poucos do que ouvir muitos.
Enormes interesses defendem um mundo fragmentado, cheio de grupos microscópicos, de comunidades provincianas, que se bastam e ignoram as demais. Quanto mais fragmentadas forem, mais isoladas, e principalmente mais influenciáveis e manipuláveis serão. Esses grupelhos têm seus códigos e seus dogmas. Esses clãs desenvolvem razões para justificar o cimento comunitário. Essas cavernas se defendem das outras com armas e dentes. Grupos, grupelhos, clãs, cavernas. Gangues.
E estranhamente, nunca se falou tanto em diversidade.
Existe uma tendência a fazer uma amálgama entre diversidade e divisão. Assim, defender a diversidade significaria enaltecer diferenças e particularidades. Diversidade seria uma espécie de afirmação de identidades – sempre legítima – mas que coabita tantas vezes com radicalismos e intolerâncias. Mas é entender de forma rápida as duas palavras.
Divisão tem como significado etimológico “separar para conhecer” (di – separar, videre – conhecer). Separar para conhecer. Dividir os sexos, os gêneros, as raças, as crenças, é reconhecer identidades e reconhecer identidades é acolher.
Já diversidade, por razões variadas foi uma palavra apropriada para qualificar principalmente o acolhimento de sexos, gêneros e raças. Mas podemos também entender que defender a diversidade pode representar outras lutas por representatividade e igualdade. A das crenças, ideologias e opiniões, por exemplo.
É outra definição, mais complexa, humanista, universalista, cosmopolita, profundamente democrática. O respeito à diversidade, assim, passa a ser sinônimo de tolerância e escuta. É dar passos em direção aos outros, sem esperar retribuição. É acolher o outro que é diferente, pensa diferente ou age diferente. É, também, não confundir debate de opinião com processo de opinião.
Defender a diversidade talvez não seja exigir respeito às minhas diferenças, mas respeitar as do próximo.
Por Fernand Alphen, coCEO da F.biz
Leia a coluna anterior do Alphen, aqui.