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O pós-pandemia, segundo líder internacional

Marc Benioff diz que covid-19 é chance para empresas mudarem

11.05.20

CEO da Salesforce e liderança ouvida em Davos e em encontros com gurus indianos, Marc Benioff tem se destacado pelas críticas que faz ao capitalismo praticado hoje. Na última edição do Fórum Econômico Mundial, em janeiro passado, ele afirmou que o capitalismo que gera lucros apenas para os acionistas está morto (veja vídeo abaixo). Esse modelo, segundo ele, provoca desigualdades no mundo e a crise climática que vivemos. Ele defende transformações para um modelo mais justo, igualitário e sustentável. Agora a pandemia reforça ainda mais seu posicionamento.

Em reportagem do jornal The Telegraph neste domingo, 10, Benioff declara que a crise atual, gerada pelo novo coronavírus, representa uma chance para que as corporações coloquem em prática um modelo melhor de capitalismo, mais ético, verdadeiro, confiável e transparente. “Acho que esta é uma oportunidade para as empresas darem o seu melhor”.

Na Salesforce, empresa que fundou em 1999, após anos de atuação na Oracle, ele diz que as coisas vão se encaminhar naturalmente, como já tem sido feito antes mesmo de a covid-19 eclodir no mundo. Para quem não conhece muito da vida do empresário, Benioff, 55 anos, dono de um patrimônio calculado em US$ 6,9 bilhões, em janeiro, construiu sua fortuna na tecnologia, atuando com a intensidade que o mundo dos negócios exigia, até que decidiu fazer um ano sabático para se livrar da vida estressante.

Esteve no Havaí, onde se sentiu mais conectado à natureza, e na Índia, quando, em um encontro com lideranças espirituais hindus, abraçou o altruísmo. A partir de então, passou a defender transformações radicais no modelo capitalista.

Neste período de quarentena, Benioff, que também faz reuniões pelo Zoom, se considera um líder de negócios diferente. Na Salesforce havia instalado áreas de mindfulness em cada andar do prédio, em São Francisco. O evento que a companhia realiza todos os anos, o Dreamforce, reúne gente tão variada quanto Barack Obama, a banda Fleetwood Mac e 30 monges budistas (convidados em 2019). A edição de 2020 foi cancelada por causa da covid-19.

Com a pandemia, ele tem feito chats com pessoas como Lars Ulrich, baterista do Metallica, e tem disparado telefonemas a outras lideranças do mundo corporativo e da política para obter, por exemplo, equipamentos de proteção para profissionais da saúde nos EUA, que comprou da China gastando milhões de dólares.

Sobre a crise e a necessidade de um novo capitalismo – fato que vem sendo referendado até por instâncias como o Business Roundtable, que este ano defendeu que as empresas devem fazer mais do que criar valor para os acionistas -, Benioff afirma que talvez seja necessária uma nova geração de lideranças para as corporações mudarem. Afinal, segundo ele, ainda há muitos CEOs apegados a velhos conceitos, o que pode ser visto entre muitos empresários nestes dias de pandemia.

Muitos CEOs ainda estão com a cabeça feita e acreditam que o negócio dos negócios é o negócio. Isso é o que Milton Friedman os ensinou. É assim que vão fazer. Isso é tudo que vão fazer. Talvez para esses CEOs isso nunca vá mudar. É preciso esperar que surja outra geração”.

Apesar de ser um bilionário da tecnologia, Benioff não poupou palavras para falar de algumas das maiores empresas do setor. Em 2018, também no Fórum Econômico Mundial, ao pedir por regras de regulamentação mais severas para as tech companies, acusou gigantes como Google e Facebook de abdicarem de suas responsabilidades. Ele comparou as redes sociais à indústria do cigarro. Com isso, Benioff conta que passou a ser tratado como um pária, mas, após os escândalos da Cambridge Analytica, houve mudanças. Atualmente, tem conversado com muitos executivos da mídia social.

Desta vez, ele elogiou a rapidez das redes em informarem a população a respeito da pandemia. “Este é um momento em que todos perceberam a importância da verdade e da confiança”.

O pós-pandemia, segundo líder internacional

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