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Teocracia Em Vertigem

Político, especial de Natal do Porta se baseia em falas reais

09.12.20

O oitavo especial de Natal do Porta dos Fundos,Teocracia Em Vertigem”, uma paródia do documentário “Democracia em Vertigem” (indicado ao Oscar de Melhor Documentário neste ano), não deve acirrar os ânimos de religiosos mais conservadores como aconteceu com o anterior, “A Primeira Tentação de Cristo”. Isso porque a nova produção dá mais foco ao momento político e a polarização vivida no país. Jesus mesmo, só aparece no fim.

Essa, ao menos, é a expectativa do grupo, que terá sua nova produção lançada nesta quinta-feira, 10, no YouTube e também na Pluto TV, streaming da Viacom que chegou agora ao mercado brasileiro. “Nunca pensamos em não lançar. Gostamos desse especial como se ele fosse a cereja do bolo”, afirma Fabio Porchat, sócio-fundador da empresa e roteirista de todos os especiais de Natal.

Depois de ter duas produções de final de ano lançadas na Netfix, o Porta volta a apresentar sua “celebração” de Natal no YouTube. Segundo a produtora, a decisão foi tomada de comum acordo com a Netflix, que liberou as duas produções disponíveis em sua grade para que elas possam subir na plataforma do Google ainda neste ano. Christian Rôças (mais conhecido como Crocas), CEO do Porta, disse que, com o retorno para o YouTube, o objetivo é fortalecer a marca da produtora.

O atentado que a empresa sofreu no ano passado, relacionado à polêmica em torno de “A Primeira Tentação de Cristo”, não demoveu em nenhum momento o grupo de realizar sua produção de final de ano. E também não tirou da pauta a abordagem religiosa. Porchat fez um mergulho no Novo Testamento para roteirizar o novo especial e há piadas sobre a vida de Cristo.

De acordo com João Vicente de Castro, outro sócio-fundador (junto com Antônio Tabet e Gregório Duvivier), os acontecimentos que cercaram o especial do ano passado deixaram o grupo mais triste do que amedrontado – além das três bombas que jogaram contra a empresa, a Justiça do Rio chegou a pedir a suspensão da produção (relembre aqui). “Ele comprovou que a gente está num país radical”, completou.

Tabet sustenta que a polêmica do ano passado se concentra na homofobia porque a edição anterior apresentou Jesus como alguém que bebe em excesso, chegando a ser maldoso com os discípulos. “Este especial tende a não ter repercussões tão explosivas porque ele é mais político”, emendou, ironizando a palavra “explosiva”.

Mas, é claro, que pode ter gente melindrada com “Teocracia Em Vertigem”, que adota a linguagem de documentário, com uma diretora (Clarice Falcão) emulando Petra Costa, que dirigiu “Democracia em Vertigem. O especial narra como foi o processo que culminou na crucificação de Cristo.

Porchat escolheu falas reais para caracterizar os personagens. O especial abre com uma cena de julgamento de Cristo que lembra a sessão que definiu o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Entre Cristo e Barrabás, as defesas pela crucificação de Jesus repetiram palavras, como as proferidas pelo então deputado federal Eduardo Cunha.

Outro exemplo que pode aborrecer algumas pessoas é quando o centurião Peçanhus (Tabet) apresenta um gráfico de Power Point para justificar a prisão e a condenação de Cristo.

Jesus foi crucificado como um líder político. Depois, a história tratou de despolitizá-lo. Nossa ideia nunca foi destruir valores cristãos. No especial, nós fazemos um resgate desse lado de Cristo. O Porta fala do Cristo vivo”, comenta Duvivier, que faz um apresentador de um programa chamado Jerusalém Alerta.

Participações especiais

Nenhum especial de Natal do Porta teve tantos convidados quanto a atual produção. Foram criados 25 personagens: 13 são do elenco da produtora e 12 são de fora. Entre eles, estão integrantes do grupo Choque de Cultura. “A gente já queria fazer um crossover com eles”, revela o diretor de “Teocracia em Vertigem”, Rodrigo Van Der Put.

Ele sugeriu nomes como o de Teresa Cristina, que faz parte da parte final do especial, um clipe musical com Jesus (Porchat) se apresentando e dizendo que não volta mais porque ninguém entendeu suas palavras. “Se for para voltar de novo, vai ser para destruir”, afirmou Jesus, no especial.

Outros convidados se juntaram ao time quase como apoio ao Porta dos Fundos. “Os comediantes queriam estar juntos. Todo mundo se deu a mão, do Hélio de la Peña ao Yuri Marçal”, acrescenta Porchat.

Entre os convidados, além dos já citados, estão Daniel Furlan, Leandro Ramos e Raul Chequer (do Choque de Cultura), que fazem apóstolos, Paulo Tiefenthaler (Pôncio Pilatos) e Renato Góes (Barrabás). Petra Costa aparece como ela mesma. E Emicida surge apenas com sua voz para fazer o personagem Simão.

Desafios da pandemia

Normalmente, em março Porchat começa a escrever o roteiro do especial de Natal. Mas, com a pandemia, foi preciso adiar esse trabalho. Em maio, com a continuidade da quarentena, a direção se reuniu para buscarem uma solução para o imbróglio. Várias ideias foram discutidas, mas nenhuma vingava. Até que Gabriel Esteves, o redator mais antigo do Porta, sugeriu uma paródia do documentário de Petra.

As filmagens começaram em agosto. Na primeira versão, havia 35 personagens, número que foi reduzido até porque era necessário diminuir a quantidade de gente no estúdio. Foram feitas algumas cenas externas, em Vargem Grande. E só foi liberado um figurante. Até mesmo Porchat fez figuração para que reduzir o total de pessoas no estúdio.

Teocracia Em Vertigem

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