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Sem diversidade?

Cannes Lions é acusado e se desculpa

17.05.21

Uma sequência de tweets e um texto no Medium escritos por um profissional de Londres, Abraham Abbi Asefaw, cofundador da The Pop-Up Agency e atual chairman da LW, colocaram o Cannes Lions contra a parede. O tema: diversidade, equidade e inclusão. Isso porque Asefaw resolveu falar após “três meses de silêncio”.

A falta de respostas apontada por ele se refere a uma situação envolvendo o programa de aprendizagem Roger Hatchuel Academy, que, durante o Festival de Cannes, prepara jovens criativos a desenvolver suas carreiras na indústria. Asefaw era co-reitor do programa e foi dispensado em março.

A queixa dele não se refere exatamente a seu posto - é o que escreve no texto marcado pela hashtag #ComeOnCannes. Mas ao fato de não ter sido cogitado outro profissional não-branco a assumir a posição. Ele alega que a lista de co-reitores é agora toda branca.

Em 2019, o Cannes Lions lançou o que chamou de ‘Programa de Diversidade e Inclusão Mais Ambicioso Até o Momento’ como uma resposta ao fato impressionante de que ‘menos de 2% dos participantes são pessoas de cor (POC ou Person of Color, em inglês) ou de comunidades sub-representadas”. Segundo ele, houve um grande apoio a essa medida e muitos palestrantes que se identificam como POC, incluindo Asefaw, se tornaram os representantes dessa mudança.

Asefaw disse ainda que, nesse mesmo ano, o Festival reconheceu o trabalho que vinha sendo feito na Roger Hatchuel Academy – inclusive por ele –, chamando o programa de “o lugar mais diverso do Cannes Lions”. Ele atuou por mais de dez anos na organização.

Como sabia que podia ser substituído, Asefaw sugeriu que o programa fosse comandado por apenas um reitor na próxima vez – em vez de dois – e recomendou que essa pessoa fosse não-branca. Essa mensagem foi enviada oito meses atrás, juntamente com uma lista de nomes. A resposta foi que seu e-mail seria analisado. O comentário seguinte só veio muito depois, quando Asefaw foi dispensado.

Indignado com o processo, "que tirou o único reitor negro que a organização tinha", ele enviou outro e-mail. Também se queixou que não havia sido estabelecido um processo de contratação transparente, adequado a uma empresa que preza pela diversidade.

A resposta de Cannes, assinada pelo chefe de talentos e treinamento do Festival, Steve Latham, foi que ele tinha tomado uma “decisão egoísta e não refletida”, pela qual pedia desculpas. Mas havia sido apresentada uma “solução rápida” para um período estressante e ele simplesmente a aceitou.

Não consigo lidar com a decisão de algo tão importante quanto a próxima geração de criativos, vindos de todo o mundo, não ter representação por causa de uma ‘solução rápida’, criticou Asefaw. Segundo ele, pode-se acrescentar à lista de palestrantes de um evento quantos profissionais não-brancos desejarem, mas se não houver comprometimento desde o centro da organização, então, isso não ajudará em nada.

Foi quando ele escreveu para a organização com novas propostas, entre elas, mudar o processo de contratação para que ele seja mais transparente e justo. Isso aconteceu há três meses e, desde então, de acordo com Asefaw, não veio qualquer resposta de Cannes.

Depois dos recados dados no Twitter e no Medium, a organização do festival, enfim, se manifestou. O Cannes Lions foi às redes sociais para pedir desculpas. A organização afirmou que dá boa acolhida às críticas de Asefaw como forma de evitar que novos erros do tipo se repitam.

Os organizadores revelaram também que entraram em contato com o antigo colaborador. Eles acrescentaram que, a partir de trabalhos como os de Asefaw e outros, não apenas almejam a diversidade, a equidade e a inclusão na organização, mas sim concretizar os esforços com esse objetivo a partir de exames mais profundos em seus processos.

Sem diversidade?

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