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Transformadores (entrevista)

Paulo Lima fala sobre programa na TV e os 35 anos da Trip

20.05.21

Trip Transformadores deste ano, que pela primeira vez será transmitido pela TV aberta (leia aqui), chega à TV Cultura neste sábado (22), às 22h (assista abaixo à vinheta que divulga a série de programas).

Com cinco episódios semanais apresentados pelo ator Lázaro Ramos (confira a programação completa, no final da matéria), o projeto irá homenagear, até 19 de junho, dez personalidades (saiba quem são aqui), escolhidas por terem ajudado a entender melhor o impacto da pandemia ou contribuído para combater os efeitos da Covid-19.

Como adiantamos por aqui, na 14ª edição do Trip Transformadores, cada escolhido ficará frente a frente com outro brasileiro notável com quem nunca se encontrou (espie um teaser aqui).

Além disso, atores e atrizes - como Jesuíta Barbosa, Maeve Jinkings, Bruno Gagliasso, Taís Araújo e Marcelo Mello Jr. - interpretarão a história dos homenageados.

Paulo Lima, fundador da revista Trip, revela ao Clubeonline a possibilidade de manter o programa na TV nos próximos anos, paralelamente à realização de eventos e cerimônia de premiação (num cenário pós-pandemia), e fala também sobre a curadoria para escolha dos homenageados do Trip Transformadores, e dá detalhes sobre a produção e os bastidores da atração.  Por fim, faz uma análise sobre a reinvenção do consumo de mídia.

Confira a entrevista:

Clubeonline: Por conta da Covid-19 e da necessidade de distanciamento social, a 14ª edição do Prêmio Trip Transformadores será exibido pela TV aberta, pela primeira vez. A proposta será continuar com esse formato nos próximos anos, mesmo sem pandemia, de modo que se mantenha o alcance ampliado de público que o meio proporciona?

Paulo Lima: É um pouco cedo para dizer, mas tudo indica que vamos manter essa ideia do programa de televisão originado pelo conceito do Transformadores. O Transformadores, como vocês sabem, surgiu em 2007, e era basicamente essa ideia de celebrar pessoas de todos os tipos e origens que tinham descoberto alguns valores e que trabalhavam por eles, que tinham essa preocupação com o coletivo. De um prêmio virou um movimento com bastante geração de conteúdo nas redes sociais, e outros eventos, além da própria cerimônia da premiação. Quando a pandemia chegou, nós nos vimos privados do principal, que eram os encontros e as aglomerações de pessoas para celebrar esse movimento. Então, começamos a trabalhar na ideia de como fazer acontecer. Levar uma cerimônia de premiação para a televisão era inadequado e sem sentido. Sendo assim, criamos encontros inéditos entre pessoas muito especiais, e a maioria delas nunca tinha se visto. São conversas que nunca foram possíveis, e isso deu muito certo. Nós mesmos ficamos surpresos com a adesão. São nomes importantes, como Lázaro Ramos, Emicida, Felipe Neto, Leandro Karnal, Bruno Gagliasso, Maeve Jenkins, Fernando Meirelles, artistas, pensadores e formadores de opinião. É uma ideia que a gente gostou muito de colocar de pé. Agora vai estrear, vamos ver como vai se comportar no ar. Estamos bem confiantes, assim como o pessoal da TV Cultura. Então, provavelmente vamos manter isso, o que não significa que a gente não possa voltar com a cerimônia e com os eventos, quando isso for possível. Em resumo, estamos muito animados em ter esse projeto na televisão aberta.

Clubeonline: Este ano, os dez homenageados do prêmio ajudam a entender melhor o impacto da pandemia ou estão contribuindo para combater os efeitos da Covid sobre a sociedade. Como funcionou o processo de curadoria para a escolha das personalidades?

Lima: Essa é uma das coisas mais importantes do Trip Transformadores, é justamente uma rede de pessoas que formamos ao longo dos 35 anos da Trip, pessoas que são destacadas em diferentes áreas dos saberes e da sociedade, com as quais a gente foi interagindo durante essas três décadas e meia – que completamos agora em 07 de maio. Estabelecemos um grupo de 100 conselheiros que indicam nomes, a partir de um briefing nosso. Em geral, recebemos uma lista grande de sugestões. Aí, entra em ação a nossa equipe, muitas vezes reforçada por consultores e pessoas de fora da Trip. Ficam ao longo de meses pesquisando as biografias e o alcance do trabalho de cada um, a partir de um critério que a gente foi criando de diversidade. Por exemplo, precisa ter sempre uma pessoa muito jovem, uma mais idosa, é importante que tenha gente de diferentes campos de atuação. Temos esse olhar de amplitude. Tem sempre alguém da ciência, ligado aos grupos minorizados, aos indígenas e à comunidade LGBTQIA+. A partir desse critério, vamos escolhendo e levando em conta a profundidade e o alcance da obra da pessoa no sentido de melhorar a vida do coletivo. São várias etapas de seleção até chegar aos dez nomes. Este ano, sem dúvida, o foco era a pandemia.

Clubeonline: Como foi a produção do programa, a organização dos bate-papos?

Lima: A concepção do programa é uma ideia que a Trip usa muito, desde a sua fundação, que é de produzir encontros improváveis, juntar tribos, fazer pontes entre grupos que normalmente têm menos contato. Isso é uma coisa que a gente faz há muitos anos e essa foi a primeira ideia para tornar o conteúdo inédito. Neste momento de pandemia, teve muita live, entrevistas, conversas nos canais digitais e também na televisão. A primeira coisa foi realmente este trabalho de curadoria, de saber quem seriam essas pessoas que teriam interesse em conversar com o Ailton Krenak, por exemplo, mas que também fosse alguém que nunca tivesse tido essa conversa. Então, veio Fernando Meirelles, que certamente é o principal nome do cinema brasileiro contemporâneo. Nos últimos anos, ele direcionou todo o seu trabalho às questões ambientais, e, além de tudo, é um admirador do Krenak. Esta conversa ficou uma delícia porque são duas pessoas que se interessam genuinamente uma pela outra e não se conheciam. E, assim por diante.
Foi muito gostoso trabalhar com esta ideia. Chamamos o Tadeu Jungle para dirigir o programa. Ele foi uma peça muito importante na composição criativa deste projeto e participou desde o início do Trip Transformadores, como um dos responsáveis pela produção dos filmes que eram feitos sobre cada homenageado. Várias outras pessoas que a gente foi trazendo, como Binho Feffer, junto com o pessoal da Ultrassom. O Lázaro Ramos também: é muito importante a adesão dele ao projeto como apresentador. Fomos atraindo muitas pessoas e a coisa foi ficando grande. Além dos que eu citei, tem muita gente na frente e atrás das câmeras para fazer esta produção ficar realmente à altura da TV Cultura, da Trip e do Transformadores.

Clubeonline: Neste mês a Trip completa 35 anos. Quais foram as mudanças da empresa para acompanhar as transformações - sobretudo tecnológicas e de consumo de mídia - que ocorreram na sociedade no decorrer deste período?

Lima: O mais importante a dizer é que a Trip só chegou aos 35 anos porque ela nunca parou de mudar. Sabe aquela ideia da empresa líquida que consegue se adaptar aos novos formatos do contêiner? É muito presente na Trip. Então, a gente pode contar as mais curiosas histórias sobre adaptações e reinvenções, mas o fato é que nos últimos anos já dava para ver com muita clareza a mudança dos ânimos, dos investimentos e do interesse, da forma com que as pessoas consomem conteúdos e tudo isso. Há mais ou menos sete anos, formalizamos algo que já existia dentro da Trip. Estruturamos a área de consultoria que vem dando muito certo. Estamos trabalhando com grandes empresas, como a Gol, que é um grande cliente desta divisão há bastante tempo. A própria Iguá, que é uma empresa de saneamento básico muito moderna, e nós estamos desenvolvendo com ela a área de essência de marca. Tem a Smiles, tem a Netflix, com um projeto de comunicação voltado ao público mais jovem. Enfim, tem toda uma área de consultoria que não se limita ao conteúdo. São trabalhos que pensam na estratégia de longo prazo, na sustentabilidade da marca e como ela pode reforçar seus laços com a sociedade. A área de consultoria cresceu muito lá na Trip, e a gente foi tirando energia do campo impresso. Hoje, produzimos as revistas customizadas, principalmente a revista de bordo da Gol, que é muito forte. De resto, fomos para o digital. Nós temos hoje, entre inscritos no canal do YouTube – que são quase meio milhão –, e nas outras redes principais, mais de um milhão de seguidores. É um trabalho intenso de produção diária de conteúdo, vídeos, notícias, e, principalmente, de análise de comportamento. O programa de rádio também. Ele completou 37 anos. Acho que soubemos reinventar a organização de modo que ela se adaptasse aos novos tempos.
Sobre este ponto das mudanças tecnológicas, achamos ótimo porque antes tínhamos os obstáculos dos átomos. Não tínhamos dinheiro para ter caminhões, uma tonelada de papel, ter distribuidores. Então, eram obstáculos físicos. Quando as redes quebraram esses paradigmas, ficou muito mais fácil para atingirmos um número muito maior. Quando eu olho e vejo quase meio milhão de inscritos no YouTube, é um negócio impensável quando dependíamos de papel, caminhão e uma casinha de alumínio no meio da rua para vender aquele conteúdo. Hoje, você posta uma coisa e milhares de pessoas podem ver aquilo sem muita dificuldade, desde que aquilo seja atraente o suficiente. Então, na verdade, para nós foi ótima essa revolução. Claro que gostamos do impresso. Certamente vamos manter os produtos impressos, mas diminuímos muito a utilização desse suporte por razões ambientais, econômicas e de mercado, e centramos energia quase que totalmente no digital. Agora com o Transformadores na televisão aberta, quem quiser, em qualquer canto do Brasil, vai poder ver o trabalho.

Abaixo, confira a programação completa do Trip Transformadores, que será exibido pela TV Cultura, aos sábados, às 22h:

Dia 22 de maio

Ailton Krenak + Fernando Meirelles
Jesuíta Barbosa interpreta texto de
Milly Lacombe sobre Ailton Krenak

Neide Silva + Barbara Paz
Maeve Jinkings interpreta texto de
Milly Lacombe sobre Neide Santos

Dia 29 de maio

Felipe Neto + Leandro Karnal
Bruno Gagliasso interpreta texto de
Milly Lacombe sobre Felipe Neto

Edu Lyra + Silvero Pereira
Maeve Jinkings interpreta texto de
Milly Lacombe sobre Edu Lyra

Dia 05 de junho

Celso Athayde + Leo Jaime
Marcelo Mello Jr. interpreta texto de
Milly Lacombe sobre Celso Athayde

Luiza Batista + Dudu Bertholini
Taís Araujo interpreta texto de Milly
Lacombe sobre Luiza Batista

Dia 12 de junho

Ricardo Galvão + Caio Blat
Bruno Gagliasso interpreta texto de
Milly Lacombe sobre Ricardo Galvão

Jaqueline Goes de Jesus + Fernanda Abreu
Taís Araujo interpreta texto de Milly
Lacombe sobre Jaqueline Goes de Jesus

Dia 19 de junho

Rodrigo Pipponzi + Dexter
Jesuíta Barbosa interpreta texto de
Milly Lacombe sobre Rodrigo Pipponzi

Emicida + Ronaldo Fraga
Marcelo Mello Jr. interpreta texto de
Milly Lacombe sobre Emicida

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