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Coluna do W.O.

Deu Zebra

28.09.21

A famosa Zebrinha, criada pelo cartunista Borjalo, que estreou no "Fantástico" no dia 5 de agosto de 1973, voltou com tudo nos últimos tempos.

Deu zebra recentemente o discurso do presidente Bolsonaro no 7 de Setembro, quando ele fez uso de um tom golpista e chamou o ministro Alexandre de Moraes de canalha.

Já no dia 9, diante da perspectiva de grandes prejuízos financeiros para o país e até mesmo da possibilidade de um impeachment, o presidente teve de publicar uma “Declaração à Nação”, redigida pelo ex-presidente Michel Temer, em que lamentava o tom do discurso e recuava nos ataques ao ministro.

Resultado: Bolsonaro perdeu muitos dos apoiadores mais radicais, que ficaram decepcionados com a pipocada do mito.

Outra zebra política, também envolvendo presidenciáveis, aconteceu no dia 12 de setembro, em São Paulo, quando João Doria, Ciro Gomes, Luiz Henrique Mandetta e João Amoêdo participaram de um movimento suprapartidário convocado pelo Vem Pra Rua acreditando que ele atrairia multidões.

O fato não ocorreu. Se depender do Vem pra Rua, rapidamente apelidado Fica em Casa, a tal terceira via não acontece, por mais que seus aficionados balancem faixas com a inscrição “Nem Lula, nem Bolsonaro”.

Mais uma das zebras políticas brasileiras acabou virando zebra internacional. O caminhoneiro ruralista Zé Trovão, depois de ameaçar bloquear estradas e invadir o prédio do STF, recebeu ordem de prisão e fugiu para o México, onde pediu asilo político.

Não deixa de ser engraçado um radical de direita como ele pedindo asilo para um presidente de esquerda como Andrés Manuel López Obrador.

Essa união insólita talvez seja um bom tema para uma próxima canção de Sérgio Reis, que está precisando urgentemente de novas canções, agora que seu disco com participações especiais foi cancelado porque ninguém achou especial nem oportuno participar de um disco dele.

Também na música, a outra zebra surpreendente aconteceu com Spencer Elden, um cidadão americano de 30 anos que, quando bebê, foi fotografado nu para a capa do álbum “Nevermind”, do grupo Nirvana.

Aconselhado por advogados picaretas, ele processou a banda por prática de pornografia infantil e acabou mundialmente ridicularizado.

Bebês foram também o assunto das manifestações de algumas senhoras religiosas que reafirmaram que o aborto só era admissível em caso de estupro. O tema foi devidamente zebrado por um grupo de feministas que declarou que impedir uma mulher de decidir se quer ou não quer que sua gravidez prossiga é coisa de quem não admite a independência e o prazer sexual das mulheres.

Não sei por que, mas essa discussão me fez lembrar o escritor inglês Neil Gaiman, que certa vez disse: “A vida é uma doença sexualmente transmissível, que leva à morte em 100% dos casos”.

No meio de tantas zebras políticas, musicais e religiosas, não poderiam faltar as zebras que deram origem à série: as zebras futebolísticas.

Uma delas, protagonizada por Neymar, que, depois de dar uma boa assistência e fazer um gol na partida Brasil 2 x 0 Peru, acabou perdendo a cabeça e tomou um cartão amarelo absolutamente desnecessário. Como foi desnecessária sua entrevista fazendo papel de vítima depois do jogo.

Sem dúvida nenhuma, a maior zebra futebolística da temporada foi o rompimento entre Daniel Alves e o São Paulo Futebol Clube. Resumindo: o clube contratou um jogador a quem dificilmente poderia pagar, e o jogador aceitou a contratação sabendo que dificilmente receberia. Não deu outra; deu zebra.

Analisando o lance pelo tira-teima, ou pelo VAR, dependendo da idade do leitor, essa, como a maioria das zebras recentes, na verdade tem tudo a ver com outro animal quadrúpede, historicamente lembrado nos momentos em que falta Q.I.

Não existe nenhuma dúvida de que, apesar de vivermos no século da inteligência artificial, a burrice natural continua solta.

Washington Olivetto
Publicitário

washington@washingtonolivetto.com.br

Texto publicado no jornal O Globo

Leia texto anterior da Coluna do W.O., aqui.

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