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Periferia quer acabar com o 'mais do mesmo'
A criação de conteúdo criativo por minorias sociais e fora dos grandes centros econômicos foi o foco do painel “Periferia Criativa”, no Festival do Clube de Criação 2021. Mediado por Marcello Barcelos, fundador da agência Parça, o papo contou com a participação de Nay Mendel, cofundador da Maloka Filmes; Joildo Santos, fundador da agência de comunicação Cria Brasil; Marcus Rochah, diretor de criação e fundador da grife Mete a Marra; Mariana de Paula, cofundadora da LabJaca; e o cineasta e autointitulado blogueirinho da periferia Valter Rege.
A experiência com produtoras e a mudança que sua presença nas redes sociais causou na carreira foram assuntos abordados por Valter, que dirigiu o curta “Preto no Branco”, sobre um jovem negro acusado injustamente de um crime. A produção foi selecionada para o Toronto Black Film Festival. “As pessoas falam: ‘poxa, você não deu certo porque você foi para a internet’. Ainda tem esse glamour do cinema, né? Mas daí eu falo: ‘não, tô dando certo é agora’! Eu tô aproveitando as possibilidades que tenho hoje”, explicou.
Valter disse que é “um blogueirinho de favela com orgulho” por fazer o que ama. “Estou em um dos melhores momentos da minha vida. Eu gero transformação social com o audiovisual”. Ele aproveitou para deixar um recado para marcas e agências: “Precisam se ligar que a gente (população da favela) também está tomando café, comprando a bolacha, está usando xampu”.
Barcelos provocou os participantes do painel com uma citação de Fernanda Montenegro. “Perguntaram a ela como ela fez para ter um casamento tão duradouro. Ela disse: ‘a gente fez muita merda junto, e merda aduba’. No contexto da pandemia, como que a gente aduba?”
Nay Mendel respondeu que usa o audiovisual para fazer essa "adubação", mas sempre em uma perspectiva coletiva e de minorias. “A gente não acredita no modelo do diretor branco de meia idade que comanda tudo”. E explicou que seu grupo cria fora do “universo padrão homem branco cis”.
O cineasta falou ainda do impacto que criadores trans, negros e de periferia tem no público. “Esse lance de ser um ‘espelho’, pode ser visto assim, mas o mais importante é ressignificar. Na real, não adianta nada representatividade, ter um personagem trans, e a mensagem não ter a ver com o que a quebrada acredita ou vive”.
Mariana concordou com Nay e contou como trabalha para que a favela coloque em pauta a si mesma. “Trabalhamos com dados, junto aos moradores, para acabar com o mais do mesmo, com a mídia e cinema colocando as pessoas pretas no papel de inferioridade. A favela é hoje o maior exemplo de afro futurismo, de tecnologia”. A LabJaca é um laboratório de pesquisa, formação e produção de dados e narrativas sobre as favelas e periferias que fica localizado na favela do Jacarezinho, zona norte do Rio.
Marcus trouxe sua experiência como empreendedor para o papo. “A periferia consome muito e todo tipo de coisa, e você tem de estar junto para entender bem, se não corre o risco de não conversar com teu público”. Sua grife nasceu em Paraisópolis, na capital paulista, e está no mercado há quatro anos.
De acordo com Joildo, passou da hora de se olhar a periferia como um mercado consumidor complexo e que gera muito dinheiro. “Hoje em dia tem todo tipo de pessoas nas favelas. Em uma comunidade você vai encontrar o cara classe A, assim como o cara que vive abaixo da linha da pobreza”. Outro ponto ressaltado por Joildo foi a importância de os gestores valorizarem o profissional local. “Eu vou contratar a costureira daqui, o bistrô daqui. E se não tiver a gente, é preciso trazer alguém de fora para formar alguém aqui dentro”.
Fernanda Beirão
Todos os painéis do Festival do Clube 2021, realizado entre os dias 22 e 23 de setembro, foram transmitidos pelo Globoplay. O evento deste ano foi gratuito.
Reveja a programação completa aqui.
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