arrow_backVoltar

SxSW 2022

Amy Webb: repercepção e o que isso tem a ver com uma vaca?

14.03.22

No SxSW, ela é um ícone. A futurista Amy Webb costuma lotar seus painéis e, com a volta do evento presencial neste SxSW 2022, ela fez mais uma vez o salão se encher de gente curiosa com os dados do Tech Trends, o relatório preparado pelo Future Today Institute, que comanda.

Em seu trabalho, Amy cria cenários estratégicos, sinaliza caminhos e projeta o que o amanhã pode ser, numa análise positiva e também numa visão catastrófica, o que permite que marcas façam suas apostas. Com o que você pretende lidar? Ela gosta de dizer, inclusive, que não faz previsões. Mas suas ponderações valem como lições de casa. Experimente conhecer mais dos assuntos abordados no relatório e tenha a sensação de que um novo mundo se abre para você.

Desta vez, para abrir sua apresentação, Amy fez um pequeno exercício com a plateia. “Vou hackear o cérebro de vocês”, provocou. E projetou uma imagem que poderia ser qualquer coisa, muito embora pouca coisa se pudesse enxergar. Assemelhava-se mais aos testes de Rorschach. As tentativas nem demoraram muito tempo – ela está habituada a usar a foto. “Aqui tem informação escondida. Conseguem ver? Vou ajudar: é uma vaca”.

Poderia ter dito ou não dito. Para muita gente ainda era impossível enxergar o animal. Na sequência, ela sinalizou com traços coloridos as partes do corpo da vaca: o nariz, os olhos e o contorno da cabeça. Pronto. E agora? Agora mesmo que a foto fosse virada para o outro lado, ainda assim seríamos capazes de vê-la. Mais ou menos como acontece se alguém fala do trecho de uma canção estrangeira, “sabotando-a” ao colocar uma palavra em português de som parecido no seu lugar. Será quase inevitável ouvir a palavra em português quando a música estrangeira tocar de novo, em outra ocasião.

É o cérebro hackeado, transformando a percepção inicial. Amy contou que faz esse exercício com muitos executivos.Eu mostro para eles algo que não bate com seus modelos e com padrões ao quais estão acostumados.” As respostas que eles dão para algumas tendências apresentadas ainda na superfície poderiam ser as mesmas dadas pela plateia do SxSW depois que a tal foto é apontada como sendo de uma vaca – e isso antes dos traços coloridos facilitarem a percepção de que é o mamífero mesmo. “Não acredito nisso. Sério?”

A foto da vaca faz parte de um projeto de pesquisa de psicologia na década de 1950, conduzido por Karl Dallenbach. Por isso, a imagem ficou conhecida como a vaca de Dallenbach. “Nosso cérebro se concentra apenas nos pontos escuros, nas coisas que são óbvias”, explicou a futurista. Isso diz por que às vezes as tendências tecnológicas captadas por especialistas nem sempre são vistas com potencial para moldar o futuro. Porque esses sinais não se encaixam em nossos padrões. “Estamos perdendo todos os espaços em branco”, observou Amy.

A analogia é que os fatos e os dados não foram alterados. O que mudou foi a percepção. Ao olhar de novo, com uma nova camada de informação, tivemos desbloqueada uma “habilidade incrível”, como afirmou a futurista. É a repercepção, que chamou de capacidade de ouvir, ver e tomar consciência de algo novo e existente. Amy defendeu que, a partir dessa habilidade, será possível olhar para as tendências emergentes com mais curiosidade e novas oportunidades a partir isso poderão ser vistas. Isso porque está claro que não basta ter um relatório de tendências na mão. “Pratiquem a repercepção todos os dias. Quando você recebe novas informações, novos dados, você não pode se desligar. Preciso que vocês procurem a vaca”, pediu Amy.

Ela destacou esse ponto porque afirmou que a repercepção é a essência da criatividade, da inovação e do empreendedorismo. E também de uma ótima gestão. “A repercepção nos ajuda a lidar com a ambiguidade e as incertezas”, disse. Isso nos permite tomar melhores decisões no presente e explorar novos territórios.

IA, biologia sintética e metaverso & web3

A plateia do SxSW, no entanto, fica sempre ansiosa pelas tendências. Neste ano, o relatório do Future Today chega à 15ª edição, num total de 668 páginas. São 574 tendências, que se aplicam a várias indústrias. E é preciso estudá-las para praticar a repercepção a respeito do futuro, observou Amy.

Dentre as tendências do relatório, Amy escolheu três para apresentar ao público da conferência: Inteligência Artificial (IA), com foco em reconhecimento e vigilância; metaverso e web3 (centralização, blockchain, cripto); e biologia sintética (computer networks, comida, agtech e saúde).

Há evoluções em curso. Como a IA que reconhece a pessoa pelo “heart print” e pela respiração. E a criação de rostos de “indivíduos” que nem mesmo existem. Dentro do estudo, são estabelecidos futuros possíveis em cinco anos. Em 2027, pela visão otimista, o conteúdo de IA será identificado de alguma forma. E haverá meios de proteção prevenindo o uso de sistemas biométricos invisíveis e invasivos, não apenas reconhecimento facial. Os sistemas vão ajudar a automatizar certas tarefas, facilitando nossos dias e tornando-os mais produtivos. Já no cenário catastrófico, inconcebíveis quantidades de dados serão coletadas sobre nós com transparência zero. As informações serão mantidas por terceiros que vão poder revendê-las. E nós teremos que usar uma maquiagem nova e leve que suaviza as rugas... e bloqueia câmeras de vigilância.

Essa é apenas uma das análises de um dos campos compreendidos pelo relatório. Ele pode ser baixado aqui. E é de graça.

Clubeonline está no SxSW 2022 por conta do patrocínio de Africa; Arena; Beats; Chucky Jason; Live; Mutato; Netza&cossistema; New Vegas; 99; Publicis Brasil; Smiles e Soko.

Leia anteriores valiosas sobre o evento aquiaquiaqui, aqui, aqui, aqui, aquiaqui aqui.

SxSW 2022

/