Esqueça as cenas cinematográficas que você conhece de robôs enormes dominando à Terra. A invasão das máquinas já começou, de forma mais discreta e com aparência mais humana do que as narrativas que construímos no imaginário coletivo. Influenciadores digitais, a favor de marcas, ideias e que movem multidões diariamente com seus hábitos de consumo e estilos de vida, estão em nossos smartphones e outras plataformas que nos acompanham e transportam ao mundo digital. Quem controla quem? Difícil responder.
Influenciadores ou KOLs (Key Opinion Leaders) virtuais estão entre as três apostas para o futuro que já começou, na apresentação “How Chinese Gen Z Will Influence the World”, realizada no SxSW 2022 por Arnold Ma, CEO e fundador da Qumin, e Tom Nixon, cofundador da mesma agência, especializada no mercado chinês.
Segundo eles, a geração Z (nascida entre 1997 e 2012) chinesa terá grande influência no comportamento de consumo do mundo. São quase 150 milhões de jovens mais confiantes, que estão quebrando tradições mantidas por todas as gerações passadas e as modernizando com o que há de novo no planeta, à partir do que veem pela internet. Eles colocam em conflito o modelo de sociedade, de comportamento coletivo, ao importar características individuais de outras culturas; são pessoas que adotam rapidamente novas tecnologias e utilizam muito as plataformas móveis. Além disso, temos o metaverso que se abre a partir das telas como promessa de um transporte cada vez mais intenso da vida real para a digital. Neste contexto, os virtual influencers chineses tornam-se uma das três maiores tendências do momento, em fase acelerada de evolução. Sem falar que "eles não se envolvem em escândalos que respingam em marcas representadas por eles", como brincaram os executivos da Qumin.
Nunca ouviu falar da Angie, cujas imagens ilustram essa matéria? Nem da Luo Tianyi? É porque você não está atento ao mercado chinês. Personagens do mundo virtual, elas dialogam diretamente com comunidades específicas e estão fortemente presentes na mídia social chinesa e em plataformas de e-commerce local, que não são as mesmas que temos no Brasil ou nos Estados Unidos, por exemplo. Quer dizer, com excessão do Tiktok, aplicativo de vídeos da ByteDance, empresa chinesa unicórnio (que atingiu o valor de U$ 1 bilhão antes mesmo de entrar em bolsas de valores).
Angie foi criada em 2020, como projeto pessoal de Jesse Zhang, diretor de animação de CGI (computer-generated imagery) na cidade de Shenzhen, que faz fronteira ao sul de Hong Kong. Com mais de 300 milhões de seguidores, ela se comporta a partir de características humanas, como chorar quando está sensível; comer quando está com fome; descansar quando está cansada; ou buscar soluções para sua "pele seca". Angie foi estratégica na comunicação da marca chinesa de sorvetes Chicecream, que utilizou o estilo de vida da influencer virtual para vender seus produtos.
Modelo de KOL, Luo Tianyi é a primeira cantora chinesa vocaloid, ou seja, com voz sintetizada por um software. Se apresenta como uma garota de 15 anos, com o que chamam de "voz curativa". Foi desenvolvida em 2012 pela Bplats, da Yamaha Corporation, e teve update em 2017, pela Shanghai Henian. Hoje atua com a marca Vsinger. A personagem de anime é capaz de lotar grandes espaços físicos por pessoas que querem assistir seus shows virtuais. Também é garota propaganda de marcas como a rede norteamericana de fast food KFC, na China (veja aqui vídeo de uma campanha).
Para se ter uma ideia, o marketing de influência da China gerou mais de US$ 200 bilhões em 2021, ultrapassando em 15 vezes o resultado nos Estados Unidos. Para quem quer entender mais sobre os virtual influencers, vale passar pela virtualhumans.org.
Outras duas apostas dos palestrantes baseadas no comportamento da geração Z chinesa são a Web3, com a descentralização da produção de conteúdo que passa para a mão dos usuários; e o E-Sports ou esportes digitais e eletrônicos, que, segundo Arnold Ma, "é o melhor investimento do momento para quem pode patrocinar ou até criar um time próprio". Segundo eles, alguns eventos esportivos no universo digital já reúnem mais gente que os maiores estádios mundo afora diante de eventos esportivos consagrados da vida real (leia aqui sobre o painel: "How to win in the future of gaming")
Enquanto nossa mentalidade brasileira foca diretamente no futebol, quando falamos em games, a China mostra um desenvolvimento no setor de beauty, principalmente o de skincare, número 1 no país. Um exemplo é que ao comprar um produto através de um game você pode ganhar a "pele dos sonhos" no universo virtual.
Ao final, Tom Nixon elencou pontos para serem refletidos, como:
- a China é um exemplo do que vai acontecer no resto do mundo;
- precisamos nos abrir para novas conversas e elas estão acontecendo nas redes sociais de diversas partes do planeta;
- temos que focar em como criar personagens virtuais com características cada vez mais humanas, capazes de convencer cada vez mais as pessoas;
- e podemos trabalhar para oferecer atendimento ao consumidor em escala, trocando o contato 1 a 1 humano por um atendimento por personagens virtuais.
Para quem voltar a Austin, no Texas, casa do SxSW, em 2023, Arnold Ma recomenda os tacos do restaurante Las Trancas, acompanhado de uma Coca-Cola mexicana, tradicionalmente reconhecida por ter um sabor diferente da norte-americana. Prazeres que nenhum virtual influencer pode sentir por você. Pelo menos por enquanto.
O Clubeonline esteve no SxSW 2022 por conta do patrocínio de Africa; Arena; Beats; Chucky Jason; Live; Mutato; Netza&cossistema; New Vegas; 99; Publicis Brasil; Smiles e Soko.
Leia anteriores valiosas sobre o evento aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.