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Inovar passa por colocar outras geografias e outros corpos nas telas
Em seu papel de abrir espaço para talentos emergentes no mercado de comunicação, o Festival do Clube de Criação 2022 promoveu o painel “Nova geração de diretores: percursos e itinerários”. O debate reuniu um time de profissionais de diferentes regiões.
A conversa foi mediada por Fernanda Peixoto, diretora de produção da David, e Patrícia Gaglioni, head de integrated production da Wieden+Kennedy, e contou com as participações de Caíque Nascimento, diretor de cena da Modernista, Helder Fruteira, diretor de cena da Pródigo Filmes, Maurílio Martins, diretor da Filmes de Plástico, e Thatiane Almeida, diretora de cena da Magma.
De Cuba, onde está passando uma curta temporada em uma residência, o diretor de cena Rosa Caldeira, da Nuvem, enviou um vídeo no qual falou sobre a importância da diversidade no ambiente audiovisual “Espero cada vez mais pessoas, visões e truques diversos consigam encontrar seus espaços dentro dessa nossa cultura”, declarou.
Trajetórias
Thatiane, também conhecida como Sabothati, iniciou seu caminho em um coletivo de cinema na Brasilândia (bairro da capital paulista), onde nasceu, até virar diretora de cena. “Fui pra Recife estudar cinema, mas voltei pra São Paulo e comecei a trabalhar com produção cultural. Em determinado momento vi que queria ser artista no audiovisual. A partir daí fiquei determinada a entrar nesse universo. Falei com todas as pessoas que eu conheci e que pudessem me dar uma chance. Fiz clipes, documentários, filmes, propagandas até eu entender que eu já era diretora”.
O baiano Caíque Nascimento começou na fotografia com apenas 13 anos e, aos poucos, foi se envolvendo com a publicidade. “Recebi um convite super especial para fotografar para a Puma e vi que minha vontade era entrar nesse meio das marcas. O que era para ser um trampo de bastidor foi tendo proporções maiores e muitos trabalhos foram surgindo até eu chegar à Modernista, onde comecei a atuar como diretor”, contou.
Maurílio Martins é diretor do aclamado “No Coração do Mundo”, lançado em 2019, junto com Gabriel Martins, pelas Filmes de Plástico, produtora que surgiu em Contagem (MG) e hoje está sediada em Belo Horizonte. Diferentemente de Caíque, ele começou mais tarde no audiovisual. Nascido na periferia de Contagem, ele chegou a trabalhar em fábricas da região até iniciar, aos 28 anos, seus estudos em cinema.
“Desde moleque sonhava em fazer alguma coisa de impacto. Com 14 anos, eu encasquetei que faria cinema, mas na época parecia um sonho impossível. Tive 10, 11 trabalhos de carteira assinada em fábricas até surgir a oportunidade de estudar cinema”, explicou Maurílio, que é um dos sócios da produtora, bem como Gabriel Martins, que é diretor de “Marte Um”, o filme brasileiro indicado para a disputa de uma vaga entre os candidatos ao Oscar de Filme Estrangeiro.
Helder é mais um que não veio do eixo Rio-São Paulo. Nascido e criado em Brasília, foi no ensino médio, em um projeto da escola, que teve o primeiro contato com uma câmera. “Fazia parte de uma nova geração de artistas que estavam surgindo em Brasília. Vi nisso uma oportunidade. Eu registrava tudo, toda a cena artística da cidade. Essa quantidade de trabalhos, que fazia para minha galera, foi se tornando uma linguagem. Estudei cinema por conta própria no início, depois entrei na faculdade e a gente hackeava a indústria, filmando casamento para ter grana para fazer trabalho autoral”, explicou.
Inovação
Fernanda Peixoto questionou os palestrantes sobre como ser inovador no cinema e na publicidade. “Como levar para a prática, para as produtoras, tudo que vocês aprenderam sozinhos, na prática”, perguntou. Os diretores convergiram em um ponto: a importância de levar para as telas suas vivências e seus pontos de vista.
Para Maurílio, “colocar outras geografias e outros corpos nas telas é tirar isso do exótico”. Caíque endossou o colega: “A inovação vem da gente ocupar os espaços, não só da tecnologia”.
Para Thatiane, processos criativos dependem também da coragem de se colocar nas telas “Nossa presença importa. Posso falar coisas da minha vivência sem ter de explicar nada. Não podemos subestimar o público. Quem viveu, saberá, e quem não conhece passa a descobrir”, afirmou. Helder seguiu na mesma linha: “Inovação passa por respeitar a nós mesmo. A cena é mais rica quando se respeitam as diferenças”.
Futuro no mercado
Questionados pelo público sobre como enfrentar as adversidades e quais caminhos tomar para entrar no setor, os convidados do painel deram conselhos. “O mais difícil é ter gente que te apoie. Vá atrás de pessoas que acreditam em você”, afirmou Thatiane, que foi completada por Helder: “Quando a gente começa, a gente se sente sozinho. Busque quem pense como você”.
Maurílio lembrou a importância de buscar a originalidade. “Procure os espaços, mas seja sempre autêntico. De réplica o mundo está cheio”.
Caíque aconselhou aqueles que estão iniciando no mercado a terem paciência. “E evitem se comparar. Seu processo e tempo serão sempre diferentes do outro. Mas eles vão andar da mesma forma”, emendou.
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10º Festival do Clube de Criação
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