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Festival do Clube 2022

'Urgência de questionar imaginários que sustentam a necropolítica'

26.10.22

A 10ª edição do Festival do Clube de Criação reuniu, neste domingo (23), conceituadas cabeças pensantes para decifrar o tema "Necropolítica e biopoder: os mecanismos de controle sustentados na diferença racial".

A expressão ganhou relevância a partir dos trabalhos do filósofo e historiador camaronês Achille Mbembe, estudioso do escravagismo, da opressão colonial e dos desafios da negritude. Ele explica que a necropolítica se constitui em um modelo de pensamento que determina quem pode viver e quem deve morrer. Em geral, o parâmetro racial determina quais são os corpos em risco.

O debate foi mediado pelo jornalista Rosenildo Ferreira, do portal Um Papo Reto, plataforma colaborativa que produz reportagens e artigos sobre ESG, diversidade e inovação. “Considerando séculos de escravismo e de história de uma elite que nunca perdeu seus privilégios, como podemos explicar o fenômeno da necropolítica?”, provocou Ferreira.

De acordo com Nathália Oliveira da Silva, cofundadora do Instituto Nova Política Sobre Drogas, a política de combate a substâncias estabelecidas como ilícitas oferece ao Estado uma justificativa para oprimir e matar, especialmente os jovens negros periféricos. “A chamada 'guerra às drogas' constitui uma falsa solução para os problemas sociais”, advertiu. “Esse discurso de repressão policial, repetido pela mídia, serve somente para manter e reforçar o racismo estrutural vigente em nosso país”.

De acordo com o jornalista Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (USP), autor do livro "República das Milícias", o sistema procura associar o exercício da violência a uma pedagogia da ordem. “As pessoas são levadas a acreditar que o uso da força é positivo e educativo”, salientou.

Segundo ele, no entanto, o resultado é o inverso do pretendido. “O discurso da raiva, da vingança e do conflito acaba por provocar graves danos a toda a sociedade”, afirmou. Na visão de Bruno, é a política civilizada, em vez da guerra, que pode abrir novos horizontes para a preservação da vida de humanos, animais e vegetais. “Ganhamos todos quando ouvimos os discursos de comunhão, paz e amor, como aqueles de Martin Luther King, Nelson Mandela, Gandhi e Jesus Cristo”, concluiu.

Para o ativista Cleifson Dias Pereira, advogado, professor de direito e pesquisador na Universidade Federal da Bahia, é preciso lembrar que todas as ações do Estado devem estar fundadas no Direito. “A Constituição Federal garante a vida; portanto, o Estado se torna criminoso quando afronta esse princípio”, alertou.

Segundo Dias Pereira, é urgente questionar a construção dos imaginários culturais que sustentam a necropolítica. “Nesse sistema de poder, fortemente definido pelo racismo, elabora-se uma imagem dos supostos inimigos, daqueles que são desumanizados e que, portanto, podem morrer”, declarou. “É preciso pensar fora da caixa dos marcadores eurocêntricos”. O professor estimulou os produtores de conteúdos de informação, arte e entretenimento a recusar esses estereótipos e as referências estigmatizantes do racismo.

Em suas intervenções, Rene Silva, editor-chefe do portal Voz das Comunidades, criticou fortemente a desinformação e o modelo de criminalização da população das favelas. “Devido à manipulação da informação, as pessoas identificam as comunidades como lugar de traficantes, assaltantes e outros criminosos, desconsiderando que, na verdade, são redutos de famílias trabalhadoras”, protestou.

Silva recordou do caso da menina Ágatha Félix, morta em 2019 por um disparo efetuado pela Polícia Militar na comunidade da Fazendinha, no Complexo do Alemão. “Logo circulou na internet a foto de outra garota com uma arma na mão”, denunciou o ativista. “O objetivo dessas fake news é justificar o extermínio, é dizer que a vítima mereceu morrer”.

De acordo com Silva, o preconceito contribui para perpetuar a desigualdade e a violência. Ele protestou contra o presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores, que associaram o boné com as letras CPX a traficantes e outros criminosos. As letras, na verdade, são usadas por moradores e policiais para se referir aos complexos de comunidades. E não guardam qualquer relação com o crime organizado. “Por isso, vocês que dispõem das boas ferramentas de comunicação precisam utilizá-las para desfazer a mentira e difundir a verdade”, pediu o comunicador.

Leia anterior sobre o assunto, aqui.

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Serviço:

10º Festival do Clube de Criação

Patrocínio master (ordem alfabética): Globo, Google, Santeria e Tik Tok.

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