arrow_backVoltar

Festival do Clube 2022

Letramento racial para transformar o mercado

27.10.22

Letramento racial é um conceito relativamente novo, mas é uma prática essencial para que possamos ter uma sociedade mais igualitária e antirracista. Essa foi a tônica do painel “Letramento racial: desconstruindo comportamentos ‘naturalizados’”, realizado na 10ª edição do Festival do Clube de Criação, no Memorial da América Latina.

Participaram do debate Cíntia Pessoa, diretora de RH da Publicis Brasil; Maria Gal, atriz e apresentadora do programa Preto no Branco (Band News); Tânia Regina Pinto, jornalista e editora do site primeirosnegros.com; Viviane Pepe, diretora de comunicação da Avon e responsável pelo Projeto Divas, e Janaína Gomes, gerente de comunicação corporativa também da Avon. O painel foi mediado por Regina Augusto, diretora executiva do Cenp.

Logo na primeira fala vieram palmas do público, quando Tânia se apresentou como uma “prete em movimento”. “Desde que eu nasci, na metade do século passado, é essa luta por existir, por ser vista.” Ela discorreu sobre ancestralidade e sobre a importância do letramento racial para o nosso dia a dia, como uma construção coletiva e social.

O letramento racial é apenas uma das estratégias antirracistas. A escravidão sempre existiu na história da humanidade, mas foram apenas os negros que perderam a humanidade. Então, quando falamos de letramento racial, falamos de humanizar a nossa existência. É um resgate da nossa humanização”, disse.

O conceito de “racial literacy” foi criado em 2003 pela socióloga norte-americana France Winddance Twine, e está relacionado à necessidade de desconstruir formas de pensar e agir que foram naturalizadas. Como explicou Tânia ao Clubeonline (leia aqui), quando se aprende a interpretar códigos racistas em diversos contextos, torna-se mais fácil pensar em soluções que contemplem as necessidades de todos.

Segundo Tânia, o letramento vai além da palavra, pois ele implica em educar nosso olhar para perceber o que estamos vendo. “O outro tem de ficar incomodado com o que estamos falando. Senão não vai se transformar”, completou.

Ela apresentou alguns exemplos de falas racistas e argumentos para corrigi-los, como “mulato” e “mulata” e a expressão “serviço de preto”. Tânia afirmou que a intenção é explicar que estes termos depõem contra a humanidade da pessoa negra.

Os melhores mordomos, os melhores cuidadores são pretos. Eu sou uma jornalista maravilhosa, premiada. Então, se alguém falou de serviço de preto está falando de um serviço ótimo. Para a gente ser reconhecida, aprendi que a gente tem de ser duas vezes melhor, e isso é péssimo”, completou. No caso dessa expressão, ela sugeriu que, se não for possível impedir o uso, que se mude o significado. “Tem de fazer como o Palmeiras fez com o porco e transformar a expressão em algo que vale a pena.”

Maria Gal contou como iniciou sua Maria Produtora e o talk show “Preto no Branco”, que tem como missão educar o público. Como já disse em outra ocasião, trata-se de um programa de letramento disfarçado de talk show. O que a motivou a se lançar nessa empreitada foi um teste que fez em 2016 para um filme. “O diretor optou por uma atriz branca pois, segundo ele, o tom de pele dela era mais comercial. Ouvir aquilo me trouxe uma percepção de o quanto isso está no consciente coletivo deste mercado.”

Gal declarou que parte do seu objetivo é levar a diversidade não só para a frente das câmeras, como também para a equipe de produção. “A gente tem 58% da equipe negra, 46% da equipe feminina e 76% da equipe feminina e negra, inclusive nos cargos de liderança."

Transformação das agências

Para Cíntia, o letramento racial tem o papel de transformar as agências em um ambiente mais inclusivo. Ela citou o Entre, curso de formação de criativas da Publicis. A agência fez parceria com a consultoria Carreira Preta para atuarem juntas desde a seleção das candidatas. O curso teve a maioria das vagas reservadas a mulheres negras.

São essas ações intencionais que fazem que a gente alcance um objetivo. Temos de provocar que os líderes criativos, que são na maioria pessoas brancas, estejam em contato com alunas. Isso já se reflete no dia a dia dessas lideranças, na contratação e na gestão de uma equipe diversa.”

Construindo políticas

Janaína trouxe um pouco da história da Avon e destacou que a questão racial está intrínseca, desde a chegada da multinacional no Brasil. “A marca sempre foi sobre empoderar e dar oportunidade para a mulher empreender. Quando a Avon chega no Brasil e se depara com uma população de 28% de mulheres negras, não tem como não olhar para isso. Nossa força de vendas é de 60% de mulheres negras”, contou.

Na visão de Viviane, as empresas têm a responsabilidade de construir políticas e não apenas campanhas. “Tem de ter abertura de espaços, métricas, compromissos. Trazer conversas antirracistas é um início doloroso para todo mundo, mas é assim que mudamos o poder que a gente tem no mundo.”

No encerramento do painel, Regina salientou que é necessário urgência para tratar do tema: “A gente está, no mínimo, quatro séculos atrasados. Infelizmente, essa é uma pauta apenas do século 21, mas antes tarde do que mais tarde."

Danilo Telles

Confira a programação do Festival aqui.

Leia todas sobre o Festival do Clube aqui.

Serviço:

10º Festival do Clube de Criação

Patrocínio master (ordem alfabética): Globo, Google, Santeria e Tik Tok.

Patrocínio/apoio (ordem alfabética): Africa, Alice Filmes, Apro + Som, Barry Company, Broders, Cerveja Avós, Draftline, Clube da Voz, Grupo de Atendimento e Negócios, Jamute, KraftHeinz. Landscape, Modernista, Mugshot, MyMama, Nescafé Dolce Gusto ,Not So Impossible, O2, Paranoid, Piloto, Publicis, S de Samba, Sentimental Filme, Shutterstock, TBWA Media Arts Lab, Untitled, Uol, Vetor Zero, WMcCann e Zohar.

Dúvidas ou desejo de se associar? clubedecriacao@clubedecriacao.com.br ou Whatsapp do Clube: 11 - 93704-2881

Facebook Clube de Criação 

@CCSPOficial no Twitter

@ClubedeCriacao no Insta

#festidaldoclubedecriacao

Festival do Clube 2022

/