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Um Natal de outro mundo (Gustavo Mayrink)
Esses dias me dei conta que "E.T.", o primeiro filme que assisti no cinema, está fazendo 40 anos. Independente de entregar a idade, é reconfortante lembrar que ninguém de outra galáxia havia conquistado a Terra de forma tão avassaladora como o monstrinho-ternura de Steven Spielberg.
Ao estrear no Brasil com 55 cópias no Natal de 1982, a arrecadação de "E. T - O Extra-Terrestre" já beirava astronômicos U$ 400 milhões.
“Ele está só, a 3 milhões de anos-luz de sua casa”, diziam os trailers e pôsteres
Ao contrário do que se poderia pensar, não existia conflito entre o bem e o mal em E. T.: havia uma disputa de interesse entre os bons e os melhores.
É quando se descobre que os adultos, sempre ameaçadores, são também crianças crescidas em busca do mesmo totem, do mesmo brinquedo comum, o irresistível E.T., embora os melhores, naturalmente, fossem os menores.
Que criança jamais sonhou em salvar algum bicho da morte, como o pequeno Elliot fez de forma espetacular, soltando dezenas de rãs condenadas ao holocausto numa lição de anatomia escolar? Que menino não sonhou beijar a menina mais bonita da classe?
Quando Elliot consegue as duas proezas ao mesmo tempo, enquanto na tela da TV John Wayne toma Maureen O’Hara nos braços numa tempestuosa cena do clássico de John Ford “Depois do Vendaval”, chega-se ao paroxismo e ao êxtase. Chega-se, talvez, a um outro ponto: ao advento de um cinema de sentimentos capaz de derrubar o cinema de ideias do pedestal artístico.
E.T. é um filme tão envolvente que só funciona como recusa ao pensamento: exige abandono, em vez de reflexão, e pede participação, em vez de análise. “Elliot não sou eu”, avisa Spielberg. "Mas é a coisa mais próxima de mim que já tive.”
Feliz natal ao E.T. que existe em você.
Gustavo Mayrink, diretor de criação e conteúdo da Talent Marcel
Leia texto anterior da coluna "O Espaço é Seu", aqui.