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SXSW 2023

Ryan Gellert: 'não podemos perder tempo com pessimismo'

16.03.23

Em um dos mais aguardados painéis do SXSW 2023, o CEO da Patagonia, Ryan Gellert, fez uma espécie de convocatória para todos aqueles que estão preocupados com as mudanças climáticas: perdemos o direito de ser pessimistas e precisamos agir, com o máximo de nossos esforços, para combater os principais problemas que estão afetando o planeta.

O que, convenhamos, não é tão simples de fazer quando somos impactados com manchetes terríveis que nos mostram o quão estamos perto de verdadeiras catástrofes e de um ponto sem volta. Foi o que demonstrou a jornalista Katie Couric, um nome conhecido da imprensa norte-americana, que entrevistou Gellert. Para não sucumbir diante da realidade pesada, talvez valha a pena subir uma montanha, algo que o executivo aponta como uma atividade que tem quase o efeito da meditação para ele. De todo modo, os movimentos e as decisões da marca são sinais de que há caminhos possíveis para melhorar a vida na Terra.

Bacharel em direito, Gellert nunca advogou, mas tem uma história interessante que se conecta ao perfil da empresa. Ele cresceu em uma cidade litorânea na Florida onde também viveu Kelly Slater, um dos nomes mais famosos do surfe. Ele vivia em uma comunidade de surfistas e de skaters. Depois, Gellert mudou para uma região de montanhas e adquiriu uma nova paixão, algo que se encaixa com sua atuação como executivo de uma marca que é admirada também pelos investimentos que faz pela preservação da natureza.

Desde 2014 na Patagonia, que completa cinco décadas neste ano, Gellert assumiu o papel de CEO em 2020. Ele ajudou a reestruturar a empresa, o que foi uma missão bastante desafiadora. Em setembro do ano passado, o fundador da companhia, o norte-americano Yvon Chouinard, anunciou ao mundo que estava transferindo a propriedade da fabricante (98% das ações) para um fundo e determinando que o lucro obtido pela corporação seria direcionado para o combate às mudanças climáticas. Gellert estava em Amsterdã (operação da qual cuidava antes de virar CEO), devido à pandemia, quando foi chamado para uma conversa na sede, na Califórnia, com Chouinard, para falarem sobre o futuro da Patagonia.

Gellert foi enfático quanto ao papel das empresas na defesa do meio-ambiente. Como ressaltou, nós, humanos, criamos a crise climática e ecológica. E o cenário agora é uma ameaça existencial para nós. “É um problema suficientemente grande e complicado que vai exigir todas as ferramentas que temos para resolvê-lo”, disse. Governos e a sociedade civil entram nessa luta e o mundo corporativo não pode fugir disso. Afinal, a crise não encontrará solução se as empresas não assumirem sua responsabilidade nisso. É como ele orienta seus filhos: “se fez a bagunça, tem de arrumar”.

A Patagonia criou algumas iniciativas e tomou atitudes para poder contribuir com a preservação do planeta, como doar terrenos gigantescos em áreas da Patagônia argentina e chilena para instituições conservacionistas dos dois países, ou proteger rios na Albânia. Também criou a Sustainable Apparel Coalition, que reúne outras indústrias, dos segmentos de vestuário e calçadista, para buscarem soluções mais sustentáveis – afinal, o setor da moda é um dos mais poluidores.Temos de inspirar mudanças na indústria”, comentou.

A companhia vem ainda rastreando toda sua cadeia de fornecedores para encontrar meios de produzir peças que gerem menos impacto sobre a natureza. Para isso, investe na qualidade das roupas (para que elas durem mais) e na reciclagem, bem como tem um sistema para recompra de artigos usados.

Mas e se o consumidor fica desconfiado das empresas, apesar de tantas iniciativas e ações sendo propaladas (greenwashing)? Gellert respondeu que ele está certo em ser assim. “O conselho que dou é que as pessoas olhem para o trabalho que é feito pela marca e tomem suas decisões”, completou. Certificações sérias, porém, ajudam a mostrar quando uma companhia está realmente adotando medidas sustentáveis.

Ao se posicionar contra o pessimismo, o CEO da Patagonia não está negando os fatos e os problemas que cercam o mundo. Ele sustentou que as gerações que hoje estão no comando perderam o direito de ficarem sentadas.Estou certo de que seremos capazes de resolver os problemas? Não. Estou ciente de que meus dois filhos pequenos herdarão um planeta que não será o mesmo, de maneira significativa. Vamos precisar de mudanças realmente profundas, mas farei tudo o que puder para isso, assim como todos nós da Patagonia”, emendou.

Lena Castellón

A cobertura do SXSW 2023 pelo Clubeonline tem patrocínio de Audaz, Brunch – Influência de Verdade, Ça Va, Modernista Creative Producers e Vandalo.

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