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Web Summit Rio 2023

Black Lives Matter e os desafios para os próximos 10 anos

02.05.23

Advogada e escritora, Ayo Tometi é uma das fundadoras do Black Lives Matter (BLM), que vai completar dez anos em julho. Ele nasceu como forma de protestar contra a violência praticada contra a população negra dos EUA. Por esse motivo, não há como celebrar o surgimento da iniciativa, porém serão organizados alguns eventos para marcar a origem do movimento. Isso porque ainda é necessária muita luta para transformar a sociedade. Ela foi uma das convidadas da abertura do Web Summit Rio, na noite desta segunda-feira, 01, na qual discorreu sobre as conquistas do BLM e analisou tecnologias como IA, em bate-papo com a jornalista Maju Coutinho.

De volta ao Web Summit nesta terça-feira, 02, ao analisar os desafios para os próximos dez anos a pedido do Clubeonline, Ayo afirmou estar muito esperançosa, embora muitos marcos ainda não tenham sido atingidos. Em sua visão, a luta envolve progressos e resultados, mas também enfrenta retrocessos. “Parece que a gente dá um passo para a frente e dois para trás”, lamentou. Como Ayo disse, esse pêndulo é algo comum na história, quando se olha para as grandes mudanças ocorridas no mundo.

Mas ela ressaltou que a maior parte das pessoas, tanto nos EUA quanto em outros países, está do lado do progresso, o que é um feito para ser comemorado. “Elas entendem o que está acontecendo com as pessoas negras, com as mulheres, com a população queer, com os imigrantes. Isso está mais claro”, disse. Ou seja, o nível de conscientização cresceu bastante nos últimos anos.

A esperança de Ayo é que a população negra consiga alcançar mais esferas de poder e possa construir políticas eficazes, que realmente façam a diferença e promovam igualdade. “Precisamos de verdadeiro poder político”, afirmou. Segundo ela, é preciso ter resultados concretos, e não apenas feitos simbólicos. “Acredito que vamos finalmente consolidar esse poder”.

Ayo declarou que existem questões que perduram por anos, lembrando que, em várias manifestações, é possível ver cartazes com mensagens do tipo “não acredito que ainda estou protestando sobre isso”. Como exemplo, ela citou a luta pelo direito de votar. “Estamos lutando por isso em 2023. E é a mesma coisa que fizeram John Lewis e Martin Luther King e muitos outros décadas e décadas atrás”, acrescentou, destacando que direitos vêm sendo corroídos.

Eu sei que isso vem ocorrendo porque nossas vozes estão se tornando mais fortes”, comentou. A expectativa de Ayo, nesse sentido, é que as pessoas realmente compreendam o que vem acontecendo e estejam dispostas a trabalhar na construção de uma democracia multirracial mais eficaz, que funcione para todos. “Estamos trabalhando muito para isso. Não somos a primeira geração a se envolver nessas lutas. No entanto, espero que sejamos uma das últimas”. Ela pontuou que o movimento se envolve muito intensamente com essas batalhas e seu desejo é que seus filhos não sejam obrigados a debater, no futuro, questões básicas como humanidades.

A respeito dos dez anos do BLM, Ayo ressaltou que o importante será comemorar a coragem de se iniciar um movimento que fala de tragédias e questiona tantas mortes que ocorreram, como a de George Floyd, que foi assassinado em 25 de maio de 2020 pela polícia de Minneapolis, desencadeando uma série de protestos mundo afora. Naquele momento, a hashtag #BlackLivesMatter foi amplamente adotada e espalhada pelas redes sociais.

Como ela observou, essa coragem foi replicada por outras pessoas, dando impulso para a iniciativa. “Temos um movimento robusto, multirracial e multicultural que está bombando. Esperamos estar desenvolvendo a força que nos ajudará a alcançar as mudanças que merecemos”.

Perguntada sobre o peso de se ter um ministro como Silvio Almeida, que comanda a pasta dos direitos humanos e da cidadania, - e que em seu primeiro discurso fez o reconhecimento da existência de distintas comunidades -, a cofundadora do BLM comentou que é muito importante que a população negra (e também outros grupos normalmente excluídos, como os povos indígenas) se veja refletida em cargos de poder, seja na esfera corporativa ou na governamental.

Porém, mais do que ter representantes, precisamos ver políticas implementadas. As comunidades precisam ser ouvidas, mas também necessitamos de planos de ação que garantam que realmente teremos acesso a escolas e a bom atendimento de saúde”, exemplificou. “Digo isso porque às vezes nós conseguimos atingir algumas posições, mas não conseguimos a força política capaz de implementar as missões que temos”, emendou.

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