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A cidade como espaço de trabalho
Arte, carreira, memória e ocupação de espaços. Esses foram alguns assuntos debatidos no painel “Arte urbana e periférica: medindo a pulsação das cidades”, que aconteceu na 11ª edição do Festival do Clube de Criação. Mas também se falou de apagamento de histórias.
No palco, estiveram a sampleadora visual Amora Moreira, Gamão Raxa Kuka, presidente e fundador do Coletivo Raxa Kuka, a multiartista Soberana Ziza e Toni Baptiste, artista multimídia e um dos fundadores do Coletivo Coletores. A mediação coube à arquiteta urbanista, cenógrafa e artista visual Thaise Machado, que é gestora de projetos como Negra Ativa e organizadora de eventos como Festival Porongos (leia mais sobre os perfis dos convidados do painel aqui).
Para abrir o debate, Thaise pediu para Toni esclarecer seu "conceito da cidade como atelier aberto". Ele explicou que usa a cidade como "espaço de trabalho". O artista, que há 15 anos fundou o Coletivo Coletores em São Miguel, na Zona Leste paulistana, foi pioneiro ao unir tecnologia e arte para explorar o espaço urbano e a periferia. O coletivo ganhou o Prêmio Pipa 2022, maior honraria da arte contemporânea brasileira, quebrando paradigmas: sem ateliê próprio, sem galeria de arte. “Quero pensar quem tem direito à cidade, à memória. Questionar os apagamentos”, disse Toni.
Essa reflexão também está presente no trabalho de Soberana Ziza. “O que a gente vê na cidade de São Paulo é o apagamento de uma história que não era para ser contada para construção de uma nova história”, ressaltou. As produções e murais da multiartista colocam em evidência culturas e pessoas que sofreram esse apagamento. “Minha narrativa é recortada pelo gênero feminino. Quero recolocar essa história como se fosse um livro aberto”.
Em 2015, Gamão e o coletivo Raxa Cuka precisaram ocupar a região onde vivem, Taboão da Serra, sob outro olhar: uma grande enchente devastou bairros e impactou milhares de pessoas. “Periferia não tem esgoto, saneamento. O morador precisa ter consciência que, se jogar ali fora o entulho, isso vai voltar para ele pior” disse o grafiteiro, que é líder comunitário.
Desse modo, nasceu o projeto cultural “Grafitti Contra Enchente”, com o objetivo de revitalizar as casas marcadas pela água e conscientizar sobre a redução de riscos de enchentes. Para ele, “tudo é um trabalho coletivo. A gente sempre precisa de alguém”. O projeto agregou grafiteiros do Brasil e outros países, virou evento de hip hop e uniu a comunidade. “Foi uma terapia. Foi a maior conquista para mim quando vi que o grafite mudou a mentalidade da vizinha”, contou.
Da plateia, veio a pergunta: e o relacionamento com marcas? O Coletivo Coletores teve um longo caminho em São Miguel antes de ganhar espaço. “Minha primeira collab comercial só veio depois de dez anos de trabalho”, explicou Toni. “Foi de uma forma orgânica, quando teve uma virada de percepção das grandes marcas.”
Thaise questionou como aumentar a potencialidade das obras negras e como o artista periférico pode ser visto de maneira mais profissional. "Quando contratam artista, não é favor", comentou. Com seus personagens dinâmicos, carismáticos e coloridos, Amora contou que sua relação com as marcas veio bem cedo, mas ela logo passou a se sentir incomodada. “Comecei a me sentir ‘cota’, sabe? Se não era novembro negro, era março [mês do dia das mulheres].”
Foi preciso abordar o processo de maneira diferente e profissionalizá-lo. “A gente tem de ter uma boa base, entender como os mecanismos funcionam, para poder fazer projetos que nos contemplem”, ressaltou a sampleadora visual.
Antes do reconhecimento, há uma longa jornada de trabalho de base, de editais, de profissionalização. “Todo mundo que está ali é um pouco empreendedor, porque gerenciam o próprio trabalho de ponta a ponta. Antes de acessar a marca, precisa hackear várias outras coisas”, resumiu Soberana Ziza.
Maíra Carvalho
11º Festival do Clube de Criação
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