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Festival do Clube 2023

Streaming é um caminho sem volta; e as marcas sabem disso

11.10.23

O streaming é uma realidade hoje no Brasil e no mundo e a tendência é ganhar cada vez mais espaço no dia a dia dos consumidores de audiovisual. O acesso às plataformas não é mais uma grande questão, já que existem opções para todos. Para discutir o cenário e as oportunidades desse mercado, o jornalista Karan Novas conduziu o painel "Streaming fora do mainstream" no Festival do Clube de Criação 2023.

Dom Filó, produtor cultural, jornalista, documentarista e criador da Cultne; Larissa Rodrigues, vice-presidente e diretora de parcerias da Wolo TV; e Lilian Prado, country manager Brasil da Showheroes, foram os convidados do debate, que trouxe propostas, soluções e histórias.

Karan abriu o painel contextualizando o streaming, ressaltando que há diferentes modelos para se entender e se adequar, gratuitos e pagos. Segundo ele, o mainstream é complexo, com nichos que atingem dezenas de milhões de pessoas. "É uma bolha maior que vários mercados e que junções de países", disse. "Ou seja, não ser mainstream não significa ter baixa audiência. Significa ter um recorte interessante e inteligente para distribuir o conteúdo", completou.

Famoso por seu ativismo, Dom Filó discorreu sobre os principais desafios da Cultne, a TV com o maior acervo audiovisual de cultura negra da América Latina, para levantar material histórico, produzir conteúdo original e disponibilizar tudo isso para a audiência. "Nós nos baseamos num acervo que nasceu em 1980. O material foi digitalizado e está disponível na plataforma. Essencialmente, trabalhamos com quatro pilares: o acervo, ou seja a memória; o entretenimento racial, que é a Cultne.tv; a escala, que é onde a gente precisa se posicionar no mercado e buscar a distribuição; e a sustentabilidade", explicou.

"No nosso plano de negócios, é tudo gratuito para o consumidor. Para mantermos a empresa sustentável economicamente, nosso foco é a publicidade", afirmou o empresário e produtor cultural.

A respeito de distribuição, a Cultne.tv tem como primeiro foco atingir um mercado relacionado à cultura negra, em que existe enorme potencial. "Estamos falando de 115 milhões de pessoas, que não são devidamente representadas do ponto de vida mercadológico. Optamos pela fast como canal de distribuição e vamos estrear na Samsung TV Plus em novembro", revelou Dom Filó.

A Wolo viveu uma situação semelhante com relação à evolução do negócio. De plataforma de streaming como foco principal, a empresa mudou para produtora e hoje tem três projetos de longa metragem em fase de captação e um projeto de oficina audiovisual para jovens pretos em Salvador.

"Decidimos fazer essa transição pensando em dinheiro. Um CNPJ preto sempre tem o dinheiro como principal dificuldade. Já tivemos na plataforma mais de 200 conteúdos de outros produtores. A gente sempre foca em produtoras pretas que tragam conteúdos que não sejam de dor", afirmou Larissa. "Nosso destino final é voltar para a plataforma de streaming e colocar nela todos os projetos que a gente vai produzir", esclareceu.

Karan trouxe a importância da publicidade para as plataformas que não fazem parte do mainstream. "Uma plataforma não sobrevive até chegar ao mainstream só de assinaturas. Para sobreviver de assinatura, você tem que ter volume", argumentou.

Lilian reforçou dizendo que o conteúdo do streaming chega ao público de duas maneiras: gratuito ou pago. “O gratuito quer dizer gratuito para nós, porque quem paga a conta é o anunciante", observou. "A partir do momento em que a audiência migra para o ambiente de TV conectada, essa massa passa a ser interessante para os anunciantes", disse.

Segundo Lilian, o comportamento do consumidor de conteúdo mudou definitivamente a partir da pandemia. "De lá pra cá, o público não quer mais estar preso a uma grade de TV linear, seja a TV tradicional ou a paga. Ele quer poder acessar outros conteúdos, sair da mesmice. O consumidor quer ter o poder da escolha, tanto de conteúdo quanto de horário”, comentou.

Na visão de Lilian, por volta de 2021, as marcas também acordaram para isso. Elas passaram a colocar dentro da estratégia de comunicação as TVs conectadas como uma plataforma de distribuição de publicidade. "Mas é fundamental que seja um conteúdo de qualidade. É fundamental para o anunciante e para o público", ressaltou.

Outro desafio da produção de conteúdo é atrair investimentos para os projetos. "Na Wolo, os que temos são incentivados pela Lei do Audiovisual da Ancine e pela Lei Rouanet. Tem também a via institucional, em que a gente lida com a verba de marketing das marcas. Temos essas duas fontes de captação", relatou Larissa. "É um processo árduo, já que temos de entender o que as marcas querem, sem perder a nossa essência", destacou.

Dom Filó retomou a questão das produtoras de cultura negra. "Para nós, assim como a Wolo, que somos produtoras de cultura negra, o processo é mais complicado. Então, outra opção de captação é o fundo setorial. Na Cultne, adotamos a estratégia de nos associarmos a outras produtoras não negras, que têm acesso a esse fundo, e entramos como produtora associada. Assim, viabilizamos nossos projetos", afirmou.

Lilian trouxe outro ponto ao debate, ponderando que a publicidade hoje não se baseia mais na segmentação demográfica, mas sim no contexto. "Na Showheroes, temos ferramentas que permitem fazer segmentação demográfica em tablets e em smartphones. Mas na TV conectada a gente prioriza o contexto. Conseguimos agrupar conteúdos de um determinado contexto de vários publishers para entregar para um anunciante", explicou.

Sobre o futuro, ela concluiu: "Uma coisa é certa: estamos em um caminho sem volta. A gente não volta mais ao modelo de TV linear ou mesmo TV a cabo. Lá na frente, isso será até imperceptível. O conteúdo apenas vai chegar para nós de uma maneira única e democrática. Os anunciantes vão olhar cada vez mais para essas oportunidades e irão direcionar seus investimentos de forma mais incisiva", salientou.

Marcia Melsohn

11º Festival do Clube de Criação

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