Festival do Clube 2023

O impacto social é a proposta de diversas startups brasileiras nascidas nos últimos anos. O painel “Quando startups exercem de fato seu poder de impacto”, realizado na 11ª edição do Festival do Clube de Criação, trouxe um grupo diverso de startupeiros para debater o assunto.

Estiveram na mesa Ana Júlia Kiss, fundadora e CEO da Humora, Danilo Costa, fundador do Educbank, Fabiana Tchalian, cofundadora da Água na Caixa, Raquel Ajub Moyses, fundadora da Curar Saúde, e o mediador Marcello Queiroz, jornalista especializado em marketing, mídia e consumo.

“Bastou ser cannabis pra gente falar de impacto”, começou Ana Júlia, referindo-se a seu negócio. A Humora é uma marca brasileira que vende produtos de cannabis medicinal, que são elaborados nos EUA. “Tem muito tabu e preconceito”. A empreendedora vê o profundo impacto ambiental, social, político e financeiro da legalização da cannabis. Segundo ela, a Humora tem no seu DNA todas essas preocupações: da gestão da cadeia de resíduos à compensação ambiental do carbono gerado no frete aéreo em todas as compras, passando pelo cashback social de 1% em todas as compras.

“O maior impacto é provar que dá pra fazer o negócio da forma certa”, disse Fabiana. Para ela, todas as certificações da Água na Caixa, como ser a primeira água carbono neutro do Brasil ou ter a embalagem 100% reciclável, são o básico. O verdadeiro impacto, para Fabiana, é conseguir conquistar espaço num mercado tão consolidado, acostumado a fazer tudo do mesmo jeito.

Vale dizer, porém, que a Água na Caixa desenvolveu o Filtro Caixa, um projeto junto com o MÃOS, Movimento de Artesãs e Ofícios, no Vale do Jequitinhonha (MG). Foram produzidos filtros de barro, que seguem o design da Água na Caixa, com a Associação de Artesãs de Coqueiro Campo. O projeto visa fortalecer o trabalho das artesãs do Vale do Jequitinhonha e ajudar na construção de um poço artesiano na comunidade, amparado por parte das vendas do produto.

Um desafio de negócios, mas também de responsabilidade social inspirou Danilo a criar o EducBank, plataforma financeira que oferece capital para escolas do ensino básico. “Decidi fundar o Educbank por indignação pelos bancos não terem planos para educação básica”, explicou. “Os gestores gastam muito tempo em tratar de inadimplência e gerir capital da escola”.

“A gente percebeu que quanto maior a qualidade vis-a-vis menor a mensalidade, menor era a evasão escolar. Por mais que ao longo do ano tivesse uma inadimplência, a mãe dava um jeito de pagar para o filho continuar lá”, contou Danilo. É por isso que o Educbank tem a evasão de final do ano como principal indicador para avaliar a taxa de juros. Isso gera um incentivo para a escola oferecer um ensino cada vez melhor e desencoraja aumentos na mensalidade.

A jornada de Raquel, que é cirurgiã de cabeça e pescoço, se iniciou quando comparou a experiência de dois pacientes. O que diferenciou o tratamento do câncer de boca de seu Antônio e de seu Pedro foi um amigo de bar, que reconheceu os sintomas do seu Pedro e o incentivou a procurar atendimento médico precoce. “Quero que a Curar Saúde seja esse amigo de bar para as pessoas. Com o dinheiro que a gente trata cada Antônio, um tumor avançado, a gente trata quatro Pedros”, disse a médica.

A rede social, que está sendo estruturada, terá moderadores para averiguar a veracidade do conteúdo. O objetivo de Raquel é estimular a troca de conhecimento e o aprendizado, em jornadas gamificadas que incluirão brindes como escovas de dente e fraldas. “A Organização Mundial da Saúde já falou que iniciativas de promoção de letramento de saúde são o melhor caminho para combater desigualdades no acesso à saúde”.

Marcello perguntou sobre o “impactômetro” de cada negócio. Danilo respondeu que seu objetivo é atender 10 mil escolas simultaneamente até 2025. Fabiana afirmou que planeja vender milhões de águas na caixa, e que essas caixas eventualmente virem filtros de água. Raquel desejou que ninguém sofresse por falta de informação em saúde. E Ana Júlia deu um sorriso para fechar a questão: “Pessoas felizes”.

Maíra Carvalho

11º Festival do Clube de Criação

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