arrow_backVoltar

SXSW 2024

John Maeda e o valor do pensamento crítico nestes tempos de IA

09.03.24

Em tempos de TikTok, mesmos os assuntos mais complexos precisam ser tratados com objetividade e velocidade compatíveis com a plataforma. Com essa brincadeira, John Maeda, vice-presidente de IA e design da Microsoft, abriu o painel “Design in Tech Report 2024: Design Against AI”, realizado no primeiro dia do SXSW 2024.

Mas o fato é que não tem como a IA não bagunçar nossa cabeça. Ao falar da décima edição de seu relatório “Design in Tech”, Maeda observou que a inteligência artificial é um tema tão desafiador que, em alguns momentos, nós a amamos e, em outros, a odiamos.

Na avaliação do cientista da computação e designer, a IA não é imprevisível como muitos podem imaginar. Ao contrário. É uma tecnologia que envolve previsibilidade. De que forma ela se torna imprevisível? Quando se discute o impacto que ela terá sobre os empregos. É algo que desconhecemos, mas que sabemos que existirá.

Durante o painel, Maeda várias vezes olhou para o passado para propor reflexões sobre o presente e o futuro. Ele lembrou que o design conversacional – que hoje chama bastante atenção com a IA generativa – não é novidade. Ele vem sendo abordado em livros desde a década de 1960. Um livro do cientista norte-americano Nicholas Negroponte, de 1967, descreve um modelo preditivo de conversa com uma máquina.

Outro livro mencionado foi “O poder do computador e a razão humana”, de Josef Weizenbaum, um cientista da computação nascido em Berlim que se tornou professor emérito do MIT – onde Maeda se formou. Criador do primeiro chatbot da história na década de 1960, ele escreveu sobre o perigo que seria ter essa tecnologia espalhada por todos os lugares. “Era basicamente um psicoterapeuta que te ouvia e repetia o que você tinha falado. A conversa ficava em um looping”, comentou, em tom bem humorado, sobre a tecnologia da época.

Weizenbaum se questionou, depois, se o chatbot seria ok para o mundo. E sua conclusão foi que não importa quão inteligente é a pessoa se ela entra em um looping. Cria-se uma ilusão a partir dessa interatividade, em que você pode pensar ora que há uma máquina do outro lado da tela, ora uma pessoa. Porém, é claro que é uma coisa.

Para Maeda, embora a palavra “design” tenha vários significados, é importante se concentrar em três: o clássico (“o design das coisas que a gente curte”), o design thinking (“que as organizações têm de adotar para serem mais criativas”) e o design computacional (“que envolve tudo que computacional, como um app”). E apontou o design inclusivo como uma tendência. “A questão é como tornar a tecnologia mais inclusiva. O design pode gerar grande impacto”.

E por que o design contra a IA, como indica o título do painel? Maeda observou que todos temos falado de inteligência artificial sob ângulos bastante interessantes, mas ele destacou produções criativas feitas à moda antiga, por assim dizer.  Ou seja, com a mão na massa. Claro, é possível acionar uma IA generativa para diversos trabalhos, mas há quem resista à ideia para não “perder” suas habilidades criativas.

Mas o ponto é que precisamos entender melhor as bases da IA e para isso o design pode ajudar. Como entender, por exemplo, a LLM (large language model), que são os fundamentos dessa tecnologia e que estão avançando em rápida velocidade? Também é importante compreender os modelos de IA, como os multimodais (que agregam tipos variados de conteúdos, de textos a vídeos).

Designers, explicou ele, são criadores, mas também pensadores críticos e esse é um ponto fundamental. Eles podem olhar para a frente em relação às questões éticas e práticas da tecnologia. Design contra a IA significa: pensar criticamente sobre suas implicações para a humanidade e desenvolver trabalhos de modo crítico para se manter à frente das capacidades da inteligência artificial.

Nós, humanos, somos muito bons em pensamento crítico. Talvez seja a única habilidade em que tenhamos de ser sempre melhores. Especialmente agora”, disse Maeda, apresentando formas como esse tipo de pensamento se estabelece. Nós pegamos padrões e nossos questionamentos e, então, os colocamos juntos. Esse processo é pensar de forma crítica.
O desafio, nesse caso, é que desenvolver pensamento crítico demanda tempo. E ele não é algo comum. Nas corporações, o pensamento crítico não encontra propriamente o seu espaço. O foco está na escala. Já nos setores em que o lucro não está no centro é possível investir no pensamento crítico.

Maeda disse que a tecnologia nos desafia a reassegurar nossos valores humanos, replicando uma colega do MIT, Sherry Turkle. O importante é descobrirmos quais são eles. A privacidade pode ser um desses valores que prezamos como sociedade.

Outra conclusão do cientista da computação: o design humaniza a tecnologia. “Ao mesmo tempo, dizem para nós não humanizarmos a IA. E isso é esquisito”, completou. Lidar com esse tipo de complexidade reforça a necessidade do pensamento crítico. A IA pode fazer boas coisas. E pode fazer más também. Cabe à humanidade fazer as melhores escolhas.

Os takeaways de Maeda são:
O pensamento computacional é inestimável. Codificação não é fundamental, mas compreender a computação vai nos ajudar. Por isso, aprenda a falar a linguagem da máquina.

A transformação do trabalho está chegando rapidamente. Prepare-se, portanto, para mudanças induzidas pela IA nas carreiras de design e tecnologia. Continuamente. Isso é uma maratona, não um sprint.

Seja crítico em relação à IA. Avalie criticamente o impacto da IA; considere equidade e inclusão. Mostre aos clientes os benefícios da IA responsável.

Leia aqui sobre o painel de Maeda no SXSW no ano passado.

A cobertura do SXSW 2024 pelo Clubeonline tem patrocínio exclusivo da Corazon Filmes (@corazonfilmes).

SXSW 2024

/