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Mulheres do áudio – Parte 10

Érica Silva, Canja

28.03.24

Neste mês de celebração da mulher, o Clubeonline está com uma série feita com mulheres que criam e/ou produzem áudio no mercado publicitário.

Um número que historicamente sempre foi diminuto, mas que começa a ganhar musculatura e crescer. Que bom!

A entrevista agora é com Érica Silva, produtora musical da Canja.

Confira como foram as conversas anteriores com: Gil Viana, CEO da Mugshot; Mônica Agena, produtora musical da Mr. PinkElga Bottini, compositora e produtora musical da CaptaJanecy Nascimento, maestrina, sócia-fundadora e CEO da Loud+Silvanny Sivuca, produtora musical da Pingado ÁudioLuna França, produtora musical, cantora e compositora da Evil TwinCris Botarelli, compositora e produtora musical de trilhas da HeftyDaniele Dantassound designer, compositora e sócia-fundadora da Caraesco Audio; e Isabel Lenza, diretora criativa da Audioink.

Clubeonline - Conte brevemente como surgiu sua história com a música.

Érica Silva - Autodidata, comecei a tocar violão aos 5 anos. Desde então, fui evoluindo sempre, movida pela curiosidade e vontade de aprender. Junto ao violão, fui acessando o baixo, a guitarra e a voz, tudo de maneira muito espontânea e oral. Aos 17 anos, ingressei na faculdade de música e foi lá onde conheci o circuito de artistas de Curitiba. Foi um período de muito crescimento para mim, principalmente pelas experiências que tive. Participei de muitos projetos diferentes, toquei com muita gente e firmei muitas parcerias até me sentir bem inserida. Depois de muita experiência de palco, fui me aventurando em outras funções que sempre achei interessantes, como escrever arranjos, dar aulas e gravar em estúdio. Até que, em 2018, tive a oportunidade de produzir o primeiro álbum da banda Mulamba. Nunca havia produzido um álbum antes e estava apenas começando a desbravar o mundo da produção musical, sem ainda entender muito bem o que significava. Mas as gurias enxergaram em mim essa possibilidade e resolvi arriscar também. Depois, tornei-me guitarrista da Mulamba e começou outra fase da minha vida: viajar para tocar, conhecer os festivais e artistas para além do sul do país. Fui me estabelecendo no universo da produção musical juntamente com as bandas que participava. Toda essa vivência foi sendo vista e reconhecida até que recebi o convite da Canja Audio Culture para fazer parte do time de produtores musicais para publicidade. Tem sido um novo aprendizado, mas estamos firmes nas criações diárias desde o final de 2021, e vou levando essa vida tripla: produção musical para artistas, para publicidade e também a vivência nos palcos.

Clubeonline - Como começou a produzir para o mercado publicitário?

Érica - Antes de falar sobre a minha chegada à Canja, gostaria de compartilhar uma breve experiência que tive com a publicidade no início da pandemia. Em 2020, o produtor Mauricio Tagliari (YB Music) idealizou uma produtora de áudio exclusivamente formada por mulheres produtoras, chamada Capta [Nota da redação: leia aqui a entrevista com Elga Bottini, da Capta, para esta série]. Lembro com carinho de um jingle que fizemos para a campanha 'Corona na Quebrada', que buscava trazer visibilidade e informação sobre a maternidade nas periferias durante a pandemia. A Capta continua ativa, articulando seus movimentos para conquistar novos projetos. Em 2021, recebi dois convites para ingressar nesse mercado. Um foi da Raw Audio (SP) e outro foi da Canja Audio (Curitiba). Ainda lembro do frio na barriga que era pensar em tudo o que ia mudar na minha vida para me adaptar a essa nova experiência. De certa forma, eu estava à procura de um frescor no trabalho diário com música. Me impactou muito dois convites chegarem de maneira orgânica sem ter muita experiência com o mercado publicitário. Depois de muita reflexão, decidi aceitar o convite da Canja, o que foi sem dúvida um grande acerto.

Clubeonline - Passou ou passa por dificuldades, envolvendo por exemplo preconceito, neste universo?

Érica - Acho que, no universo publicitário, o preconceito se veste de outras maneiras. A começar pela ausência de corpos dissidentes em posições de decisão e de criação. Navegar por essa realidade é desafiador e sinto falta de um olhar mais atento e uma ação genuína disposta a mexer nessa estrutura. Quero dizer, que não seja apenas um movimento de fachada. O quanto antes precisamos compreender que a diversidade enriquece, humaniza e é uma necessidade acima de tudo. Oxalá não fosse apenas vista como um troféu de boa conduta. No entanto, ainda se faz importante saber hackear esses espaços e evidenciar nossas potencialidades, mostrando a pessoas como eu que essa é uma carreira viável e tangível.

Clubeonline - Você sente que ainda há poucas mulheres sendo reconhecidas e criando nas produtoras de áudio ou acredita que hoje este cenário mudou?

Érica - Sim, ainda há poucas mulheres. Eu mesma tive pouco contato com mulheres desse universo. A pessoa que mais troco figurinhas sobre é a maravilhosa Monica Agena, produtora, diretora e guitarrista de trabalhos lindos [Nota da redação: veja aqui a entrevista de Monica para esta série]. Na Canja, tenho a companhia da minha amiga incrível Amanda Ardlez, que também faz parte do time de produtores, e ainda contamos com a presença da Ana Flor, a melhor locutora que conheço. Aos poucos, estamos construindo nossa rede de apoio dentro das produtoras. Reforço a importância de criarmos mais espaços para destacar o trabalho dessas mulheres. Quando são reconhecidas, podemos trazer à tona as dificuldades que enfrentamos e amplificar as ações de mudança. Devemos promover mais acesso e mostrar que é possível trilhar o caminho da indústria publicitária e musical.

Clubeonline - Dos seus trabalhos feitos para propaganda, quais você destacaria? Por quê?

Érica - Sinto que os projetos em que estou trabalhando atualmente são os mais significativos de todos esses anos. Porém, gostaria de destacar uma trilha que compus para a campanha “100 Dias de Governo”, do Governo Federal. Foi um momento de orgulho ver minha trilha sendo veiculada na televisão para todo o Brasil em uma campanha tão importante e concorrida. Também tenho muito carinho pela campanha “Compre do Pequeno”, que desenvolvemos para o Sebrae, com a participação da talentosa cantora Negra Li. Além disso, lembro do sound design que criei para a campanha do Detran SP, no festival The Town. Foi muito divertido desenhar o som com ruídos elétricos de guitarra. E não posso esquecer de mencionar uma trilha que fiz para um dos meus primeiros cases, o projeto Vivo - Buscapé. Cada um desses trabalhos representa minha jornada de evolução, desde os primeiros passos aprendendo a usar os recursos e a pensar música para publicidade. Por mais simples que pareçam, cada projeto apresenta desafios que me instigam a superá-los.

Clubeonline - Fora do universo da publicidade, o que te move? Você está em outros projetos que envolvem música?

Érica - A música me move. Onde estiver, ela me oferece uma oportunidade de navegar. Além da música para publicidade, estou retomando a produção de artistas e atualmente tenho a felicidade de tocar com alguns artistas talentosos, como Bia Ferreira, Júnior e Linn da Quebrada. Tenho também pensado sobre iniciar um projeto solo ainda esse ano. Assim vivo equilibrando e refrescando o fazer musical a cada experiência.

Mulheres do áudio – Parte 10

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