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Os caminhos e as dificuldades do humor no Brasil
O humor é uma linguagem universal. Por meio dele, se criam conexões, afetos e, como o ator Paulo Gustavo costumava dizer, resistência. Não à toa, o Brasil é um dos países reconhecidos por seu senso cômico e pela habilidade de rir independentemente da situação.
Ocupando um lugar fixo no Festival do Clube de Criação, o painel de humor deste ano contou com a presença da atriz, autora e diretora Grace Gianoukas; do comediante de stand-up Nando Viana; da diretora, atriz e palhaça Rafaela Azevedo, conhecida principalmente pela personagem King Kong Fran, e do ator, apresentador, roteirista, comediante e criador de conteúdo Rhudson Victor. A mediação da mesa “A quantas anda o humor brasileiro?” coube ao comediante e publicitário Paulo Franco.
“A escolha dos nomes para essa conversa foi muito interessante porque eles representam diversos formatos de comédia. Temos atores de stand-up, palhaçaria e uma atriz que foi uma das responsáveis por abrir portas para a nova geração do humor”, observou Paulo, que já trabalhou em agências como criativo e hoje se dedica a seus shows e seu clube de comédia, o Solar Comedy, no Rio.
Grace conquistou fama com o “Terça Insana”, um projeto teatral que incentivava novos atores e autores e que ajudou a renovar o humor nacional no início dos anos 2000. Ela contou sua trajetória e lembrou das dificuldades que passou em uma época em que as portas da comédia estavam, basicamente, trancadas para as mulheres.
“Sou de uma geração mais visceral e isso me incentivou muito ao longo da minha vida. Eu me apresentei em muitos lugares em que as pessoas não queriam me ouvir por eu ser mulher. Por isso, desenvolvi um estilo que chamasse a atenção”, disse Grace.
Em relação ao ‘Terça Insana’, ela revelou que o projeto nasceu de uma percepção de que o mundo, no final dos anos 90, estava careta e sem criatividade. Além disso, o espaço teve o intuito de levar para o palco pessoas que eram excluídas para que elas dessem suas visões sobre o mundo.
“Para mim, o humor é uma espécie de lubrificante que a gente coloca para os assuntos entrarem mais fácil na cabeça das pessoas. Considero o ‘Terça Insana’ algo revolucionário e de humor filosófico”, completou.
Com um espaço de tempo de cerca de 21 anos, a trajetória de Rafaela Azevedo se encontra com a de Grace. Em cartaz com o espetáculo “King Kong Fran” há dois anos, ela convida o público, principalmente o masculino, a vivenciar as violências sofridas pelas mulheres ao longo de toda a vida.
“Pego o arquétipo da mulher gorila do circo e o da palhaça para fazer uma espécie de reinvenção de o que aterrorizaria a nossa sociedade, que é o fim do patriarcado. Ao longo de uma hora e 20 minutos de show, faço com que todos os homens presentes sintam o que nós, mulheres, sentimos diariamente como assédio, violência e toda a vulnerabilização que colocam no nosso gênero”, explicou.
Rafaela começou sua história como atriz nas aulas de teatro, nutrindo a vontade de trabalhar com comédia. A sensação de não se encaixar naquele espaço, porém, fez com que ela recalculasse a rota.
“A comédia, no geral, é um lugar que tem muito preconceito. Vemos as pessoas rindo de pessoas que já são vulnerabilizadas. Eu não queria fazer aquilo. Foi aí que busquei a palhaçaria. Lá, é um lugar onde a sua inadequação gera o riso por identificação. Você não aponta para o outro e sim para si mesmo”, afirmou.
Considerado parte da segunda geração do stand-up brasileiro, Nando Viana é um dos nomes que adotou o modelo de fazer piadas para um público e disseminar humor pelas redes sociais para uma audiência ainda maior. Publicitário de formação e desencantado com a profissão, o gaúcho se mudou para São Paulo entre 2010 e 2012 por conta do volume da cena humorística na capital paulista.
Nando destacou seu comprometimento de escrever um novo especial de comédia a cada dois anos — totalizando quatro em sua carreira, até o momento. Essas criações seguem diretrizes compostas pelo não-clichê e por pensamentos que indicam para onde a comédia está caminhando. Um de seus shows recentes trata de ansiedade e TDAH. Ele também faz apresentações que geram cortes para as redes e, nessas horas, surgem interações com a plateia.
“Sinto que o debate político acabou interferindo na comédia. A gente vive em um mundo onde temos de ter noção do que está acontecendo e, na comédia, temos de fazer algo interessante em cima disso”, comentou.
Já Rhudson abordou a falta de diversidade nos palcos humorísticos do país e como isso tem prejudicado não só a cena, mas a sociedade como um todo. O carioca de 27 anos usa seu espaço no humor para trazer as visões de mundo de um homem preto e que vive no subúrbio carioca.
Apesar de colecionar milhares de fãs nas redes sociais, Rhudson afirmou que ainda enfrenta diversas dificuldades em relação a patrocínio e mesmo espaços para se apresentar.
“Os comediantes pretos e LGBTQIAP+ não têm espaço porque a comédia ainda é branca e heteronormativa. Quando a gente começar a entender que tem de abrir os olhos para novas visões, as coisas vão mudar. Só que, para isso, é preciso ter quem contrate. Um exemplo disso são os streamings, que até abriram espaço para os comediantes com os especiais de comédia, mas até hoje só temos um que é estrelado por um homem preto”, ressaltou.
O pensamento foi corroborado por todos os presentes no palco. Grace, que está rodando o Brasil com o monólogo “Nasci para ser Dercy” – uma homenagem a Dercy Gonçalves, atriz que recriou a comédia brasileira – reforçou que o mercado, em especial o publicitário, precisa começar a agir de acordo com o que os artistas do humor transparecem em suas peças.
“As empresas estão pisando em ovos na hora de escolher o que patrocinar. Elas não querem ninguém que tenha um discurso transgressor, por mais que esse seja, muitas vezes, o discurso que elas colocam nas campanhas. O mercado publicitário é maravilhoso, mas as empresas estão caretas”, provocou.
Carolina Vilela
Este ano, temos os seguintes patrocinadores e apoiadores:
Patrocínio Premium (ordem alfabética): Globo; Grupo Papaki; Recôncavo Company.
Patrocínio Master: Santeria.
Patrocínio (ordem alfabética): Barry Company, Boiler Filmes, Café Royal, Halley Sound, Heineken, Jamute, Landscape, Lew’Lara\TBWA, Love Pictures Company, Modernista, Mr. Pink Music, MugShot, MyMama Entertainment, Nós – Inteligência e inovação social, O2, Paranoid, Piloto, Purpple, União Brasileira de Compositores, TikTok, Unblock Coffee e We.
Apoio (ordem alfabética): Artmont, Antfood, Audioink, Bici Desagência, Canal markket, Canja Audio Culture, Carbono Sound Lab, Chucky Jason, Ellah Filmes, Estúdio Origem, Fuzzr, Grupo Dale!, Mercuria, Monkey-land, Pachamama, Pródigo Filmes, Punch Audio, Sailor Studio, Soko (Droga5 São Paulo), Sondery, Tribbo, UOL, Vox Haus, Warriors VFX.
Sem estas empresas, NÃO haveria Festival.