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No Anuário, prêmios têm cor, gênero e produção estrangeira
Fazer parte do primeiro júri com presidência inteiramente negra e, ao mesmo tempo, premiar quase exclusivamente homens cis brancos em projetos com orçamentos e criações que vêm de fora do país levanta questões difíceis.
Longe de mim questionar os feitos artísticos dos premiados, afinal, são peças tecnicamente impecáveis, cheias de emoção, que elevam nosso craft a novos patamares.
Exemplos como "Ashe Versus," vencedor na categoria de Melhor Montagem; "Reimagine Victory," premiado como Melhor Direção; e "The First Speech," que levou o troféu de Melhor Direção de Arte, são provas de uma mensagem potente e de uma ousadia inovadora na tradução de seus conceitos.
Entretanto, após a celebração, faço um convite para olharmos além da técnica dessas peças. Durante as discussões do Júri Técnico (Filmes), composto por um grupo de profissionais talentosos e diversos, surgiu uma sensação quase unânime de impotência. Impotência diante da disparidade na distribuição de oportunidades na indústria da qual fazemos parte. Ficou evidente que as chances de alguém dirigir um "filmaço" são distribuídas de acordo com gênero, raça e classe, o que se reflete também nas equipes de diretores de fotografia, arte, e outras áreas.
Com poucas exceções, se você não for um homem branco cisgênero, não esteve no palco do 12º Festival do Clube de Criação para receber um prêmio técnico.
Eu mesma entreguei prêmios a vários profissionais cujo trabalho admiro profundamente, e cujas conquistas, também reconhecidas em outras edições, lhes renderam a oportunidade de liderar grandes campanhas internacionais. Campanhas internacionais que, este ano, dominaram a categoria Técnica (Filmes) no Festival, que deveria destacar o valor da criatividade brasileira.
Soube que, após o Festival, muitos se perguntaram: não é injusto uma criação brasileira competir contra orçamentos gigantes e pesquisas de público mais permissivas e ousadas de campanhas globais? Se você acredita em equidade, sim, é injusto.
Uma possível solução para garantir equidade em relação ao mercado internacional seria restringir a seleção a filmes veiculados no Brasil, criando uma categoria específica para Filmes Internacionais. Mas, se o Festival adotar essa proposta, qual será o compromisso das agências e produtoras para garantir uma distribuição mais equitativa de projetos em território brasileiro?
Sugiro um compromisso real em trabalhar com os muitos profissionais talentosos e diversos que temos em nosso mercado. Um compromisso verdadeiro, assinado, com números e dados, como algumas agências e produtoras prometeram após o movimento Black Lives Matter, motivado pelo assassinato de George Floyd, mas que muitas já parecem ter esquecido.
Celebro os premiados deste ano e, por querer manter a esperança para o próximo, lanço um desafio: uma busca coletiva para que mais profissionais — pessoas negras, trans, mulheres, PCDs e suas interseccionalidades — subam ao palco e sejam reconhecidos nas categorias técnicas do 13º Festival do Clube de Criação.
A publicidade pode ser um agente de mudança, mas para isso é necessário coragem para abrir espaço para vozes que, por tanto tempo, foram silenciadas.
Asaph Agatha Luccas, diretora de cena da Tropical Film
Leia o texto anterior da seção "O Espaço é Seu", aqui.