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CCXP24

Cinema brasileiro é festejado e é destaque do evento

09.12.24

Quem acompanha a CCXP já sabe: os convidados internacionais costumam encher os olhos do público. Mas nesta edição, que encerrou sua jornada de quatro dias no domingo 08, um dos grandes destaques foi o cinema brasileiro. O homenageado do ano já dava esse tom: o ator, diretor e produtor Wagner Moura. Além disso, dois filmes tiveram premières que lotaram o principal auditório do evento: “O auto da compadecida 2” e “Chico Bento e a goiabeira maraviosa”.

Praticamente se tornou regra: havendo oportunidade, os convidados brasileiros destacavam “Ainda estou aqui”, dirigido por Walter Salles. O longa foi indicado nesta segunda-feira, 9, ao Globo de Ouro, juntamente com Fernanda Torres, a protagonista (leia aqui). Durante a CCXP, a premiação mais comentada foi o Oscar, cujas indicações só serão conhecidas em 17 de janeiro. O Globo de Ouro ainda não estava na mira.

Na coletiva de imprensa, que ocorreu antes da homenagem, na noite da sexta-feira 06, Wagner disse que “Ainda estou aqui” é um filme lindo e importante. “É demais ver as pessoas indo ao cinema por esse filme, que fala daquele assunto, da forma que fala, sobretudo depois destes últimos anos em que ser artista era algo demonizado, bem como discutir a ditadura militar”, afirmou.

O negócio das narrativas é muito louco. Coisas como ‘não houve holocausto’, ‘a ditadura não foi nada’ são perigosas. Filmes como esse, que te fazem ir ao cinema, e ter uma reação emocional a algo que aconteceu são muito importantes”, reforçou.

Wagner, que dirigiu “Marighella”, contou que se sente muito feliz por ver as sessões cheias de gente. Ele também se anima com a possibilidade “Ainda estou aqui” representar o Brasil no Oscar. “Os brasileiros estão orgulhosos”, comentou. Ele afirmou que perceber o país com orgulho de seus artistas não estava sendo comum. “Eles se orgulham da Fernanda Torres, pelo trabalho que fez. Waltinho, Selton, aquela equipe. Isso me deixa feliz porque durante um tempo nós éramos os inimigos do país, os ladrões das leis de incentivo, essa escrotidão toda que se armou”, salientou.

Ainda na coletiva, Wagner comentou que a arte é política. Mesmo com uma comédia, supostamente despretensiosa, ela pode provocar um questionamento, uma reflexão capaz de levar a uma transformação. Sempre gostei de cinema político. Eu me interesso por política e justiça social. Me parece natural que meu caminho tenha esse tipo de engajamento, embora não me sinta preso a isso. Eu quero fazer um lobisomem”, concluiu, referindo-se a uma pergunta a respeito de que papel não fez ainda e gostaria de fazer – para essa questão, a atriz Alice Braga, presente no local, sugeriu que ele interpretasse um lobisomem.

Novo filme, futebol e samba

No palco Thunder by Claro, o principal da CCXP, Wagner ficou emocionado com a acolhida que recebeu. Vários vídeos foram exibidos com cenas antigas e depoimentos de amigos, como os atores Lázaro Ramos (com quem tem nove projetos) e Vladimir Brichta, que se conheceram em Salvador e fizeram laços de amizades a partir do teatro.

Ele comentou a experiência de ser dirigido por nomes como Walter Salles (“Abril despedaçado”), Cacá Diegues (“Deus é brasileiro”), Hector Babenco (“Carandiru”) e José Padilha (“Tropa de Elite”). “Às vezes, você faz um filme de temática pesada ou de processo caótico, mas de clima muito bom. Às vezes, você faz um filme que é bom de ver, mas que tinha uma energia ruim”, disse.

Ao comentar sobre “Tropa de Elite”, Wagner afirmou que nunca viu o resultado de um filme ser tão diferente do roteiro original. Ele tinha sido convidado para ser "um dos dois protagonistas", que, nos planos, seriam Matias e Neto. “Eu me achei velho para ser um deles. E me identifiquei mais com o papel do capitão Nascimento. Deram uma reviravolta na história e eu virei o narrador”, lembrou.

Morando nos EUA há 7 anos, ele afirmou que sente falta do Brasil. E comentou os desafios de filmar em língua estrangeira. “É difícil. Minha conexão mais profunda é com a Bahia”. Por isso, adorou voltar a filmar no país. Ele atua em “O agente secreto”, filme de Kleber Mendonça que foi rodado no Recife e teve suas primeiras imagens exibidas na CCXP24. O longa deve estrear em 2025.

Para o público, Wagner destacou “Ainda estou aqui”, praticamente repetindo a mensagem dada na coletiva de imprensa. “É muito bonito o sucesso do filme no Brasil. Isso é muito significativo depois de anos de porrada. Ele nos dá orgulho e, se for indicado ao Oscar, será importante para a autoestima do setor. Mas o que me dá mais alegria é ver as salas cheias”.

Duas surpresas foram reservadas para a homenagem: uma participação de Alice Braga (ela tinha dito ao amigo que não poderia ficar) e uma camiseta de seu time de futebol, o Vitória, assinada por todo o elenco do clube baiano. Wagner ainda cantou e dançou um samba, para delírio do público: “Não deixe o samba morrer”.

No mesmo dia, horas antes, Alice também declarou em uma coletiva de imprensa que é uma alegria ver “Ainda estou aqui” bater a marca de dois milhões de espectadores (número divulgado na semana passada). “Isso é tipo Copa do Mundo. A gente tem de celebrar nosso cinema, nossa arte, nossa história".

O auto da compadecida 2

Projeto que ganhou palco na CCXP do ano passado, o filme “O Auto da Compadecida 2” teve exibição especial no sábado 7. E o painel - que foi concorridíssimo, com uma fila colossal para entrada - foi carregado de emoção.

No palco, estiveram os atores Selton Mello (Chicó) e Matheus Nachtergaele (João Grilo), junto com Virgínia Cavendish (Rosinha), os três integrantes do primeiro filme. Também falaram da obra Fabíula Nascimento (que faz Clarabela) e Luís Miranda (interpretando Antônio do Amor), novos personagens na trama. Os diretores Guel Arraes e Flávia Lacerda completaram o time, ao lado de João Suassuna, neto do escritor Ariano Suassuna, que escreveu a peça “O auto da compadecida”, em 1955, aos 28 anos.

Durante o papo, os artistas contaram da emoção de retomar os personagens e os "novatos" compartilharam as boas-vindas que tiveram e a liberdade que receberam. Falaram também sobre o impacto de dar continuidade à trama que marcou gerações.

O filme estreia no dia 25 de dezembro. Selton disse que a data "é um presente para o público. É o maior presente de Natal da cultura brasileira”.

João Suassuna comentou que “O auto da compadecida” é a obra “mais vista e revista do cinema brasileiro”. Desde 2020, Guel Arraes conversa com a família para a criação de uma sequência. O resultado é um trabalho que tem “respeito pela obra”, disse João. Ele comandou vivas com o público, puxando o coro primeiro para seu avô e depois para o cinema nacional.

Matheus destacou a trilha sonora com Maria Bethânia e a Nossa Senhora, vívida no filme por Taís Araújo. A diretora Flavia falou sobre a transformação da indústria entre um longa e outra. “Assim como aconteceu com os personagens, 25 anos se passaram na maneira de produzir um filme”. 

A Taperoá de “O auto da compadecida 2” está mais moderna, mas enfrentando velhos problemas, principalmente a seca. A cidade vive um período eleitoral e tem dois candidatos. Um deles é uma espécie de “magnata da mídia”, em termos. Ele é dono da rádio local, apresenta programas e passou a vender em sua loja rádios para o povo ouvir as atrações do dial. É nesse ambiente que se reencontram Chicó e João Grilo.

Chico Bento e a goiabeira maraviosa

No domingo 8, o público pode ver em primeira mão o live-action "Chico Bento e a goiabeira maraviosa", dirigido por Fernando Fraiha. A sessão, que celebrou o cinema nacional, contou com as presenças do elenco: Isaac Amendoim (Chico Bento), Pedro Dantas (Zé Lelé), Anna Júlia Dias (Rosinha), Guilherme Tavares (Zé da Roça), Davi Okabe (Hiro) e Lorena Oliveira (Tábata).

"Trabalhar no universo da Mauricio é algo que desperta muitas emoções, no melhor sentido possível. Sempre fui um leitor assíduo dos gibis e lembro que a primeira vez que pisei no set foi para gravar a cena da Magali comendo uma melancia. Cheguei a me emocionar durante as filmagens", comenntou Fernando.

O filme estreia no dia 9 de janeiro.

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