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Como foi o ano da IA

Trend nas buscas, debates regulatórios, avanços, reflexões

13.12.24

Como faz todos os anos, o Google divulgou, em dezembro, o balanço das buscas em sua plataforma. Em 2024, o escritório brasileiro adicionou uma categoria em suas listas: “IA que...”. O top 10 apresenta as pesquisas sobre uso da Inteligência Artificial que estiveram em alta no país, como “IA que resume PDF” e “IA que resume vídeos”. Isso mostra como a tecnologia entrou no cotidiano das pessoas.

Para os curiosos, a lista ficou assim:
1. IA que resume pdf
2. IA que resume vídeos
3. IA que faz música
4. IA que cria imagens de graça
5. IA que cria vídeos a partir de texto
6. IA que cria logo
7. IA que melhora imagens
8. IA que cria slides
9. IA que humaniza textos
10. IA que faz mapa mental

Em 2024, como no ano passado, muito se falou de IA. E a verdade é que em 2025 vamos continuar com o tema no centro de discussões porque a tecnologia avança, novas ferramentas chegam – como o Sora, a IA generativa da OpenAI que faz vídeos realistas e que só ficou disponível para o público nesta semana –, os medos persistem e há desafios que, mesmo expostos e debatidos, permanecem sem soluções à vista, casos dos vieses da tecnologia.

Antes, o aviso: tome fôlego e tempo para seguir nesta leitura.

Quando o assunto é regulamentação da IA, houve muito movimento neste ano. No mundo, diversas nações estão debatendo como adotar medidas para equilibrar inovação tecnológica e proteção de direitos fundamentais. A União Europeia liderou os esforços regulatórios com seu AI Act, que entrou em vigor em agosto passado. A lei visa categorizar sistemas de IA conforme seu nível de risco e estabelecer diretrizes para seu uso responsável. Ela proíbe práticas como o reconhecimento facial em espaços públicos. No entanto, há preocupações de que regulamentações excessivas possam comprometer a competitividade europeia no cenário global de IA.

No Brasil, o Senado aprovou nesta terça-feira, 10, projeto de lei que estabelece diretrizes para o desenvolvimento e o uso da IA no Brasil. A proposta irá seguir para análise da Câmara dos Deputados.

Entre os principais pontos estão:

- Criação do Sistema Nacional de Regulação e Governança de Inteligência Artificial (SIA) - O órgão será responsável por supervisionar e regulamentar o uso da IA no país, sendo coordenado pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). O SIA incluirá outros órgãos do Poder Executivo, o Conselho Permanente de Cooperação Regulatória de Inteligência Artificial e o Comitê de Especialistas e Cientistas de Inteligência Artificial.

- Proteção de direitos autorais – O projeto determina que o uso de conteúdos protegidos por direitos autorais em processos de "mineração de textos" para treinamento de sistemas de IA requer remuneração aos detentores desses direitos. Além disso, a utilização de imagem e voz por sistemas de IA só poderá ocorrer com consentimento prévio.

- Definição de tecnologias de alto risco - O texto classifica determinadas aplicações de IA como de alto risco, estabelecendo requisitos mais rigorosos para seu desenvolvimento e implementação, visando mitigar potenciais impactos negativos à sociedade. No alto risco estão as tecnologias ligadas a veículos autônomos; controle de trânsito e gestão de abastecimento de água e eletricidade quando houver perigo para a integridade física das pessoas ou risco de interrupção dos serviços de forma ilícita ou abusiva; seleção de estudantes para acesso à educação e à progressão acadêmica; tomada de decisões sobre recrutamento, avaliação, promoção e demissão de trabalhadores; avaliação de critérios para aferir a elegibilidade a serviços e políticas públicas; investigação de fatos e aplicação da lei quando houver riscos às liberdades individuais, no âmbito da administração da Justiça; gestão de prioridade em serviços de emergência, como os de bombeiros e assistência médica; estudo analítico de crimes; diagnósticos médicos; controle de fronteiras; reconhecimento de emoções por identificação biométrica; análise de dados para prevenção da ocorrência de crimes.

- Sanções para descumprimento – Empresas que não cumprirem as normas estabelecidas poderão ser penalizadas com multas de até R$ 50 milhões ou 2% do faturamento bruto. Outras possíveis penas são suspensão parcial ou total, temporária ou definitiva, do sistema de IA infrator.

E o mercado da comunicação: o que temos a ganhar com a IA no Brasil?

Vinicius Terranova, diretor de cena e sócio da Spritz.AI, um estúdio criativo multidisciplinar, com foco em storytelling e tecnologia, tem conversado com colegas do mercado para discutir os usos da IA. Afinal, estamos numa ebulição tecnológica. Recentemente, promoveu um encontro em São Paulo em que colocou seus pontos de vista a respeito do tema que não sai das rodas de debate. E é curioso que, apesar disso, para algumas pessoas, IA é como se fosse uma questão de apertar um botão e pronto.

Hoje pode até ser comum esse uso mesmo: um prompt e está criado um cenário – a ser ajustado na sequência. “Mas vamos mixar muita coisa”, afirma Vinicius, falando de um futuro próximo, com colaboração homem-máquina. E ele exemplificou: vai ter IA no mundo físico, com realidade aumentada, cromaqui com IA e geração de imagens feita pela tecnologia. É a criatividade interconectada.

O conceito significa que as barreiras entre diferentes áreas criativas vão se dissolver. Um criativo não se limitará a suas habilidades iniciais. Com as ferramentas de IA, ele terá a possibilidade de aprender e dominar novos recursos: textuais, visuais, sonoros, interativos.

Em setembro, um vídeo chamou atenção na comunidade criativa por ter sido 100% criado com IA. Tratava-se de um speculative ad” para Adidas – ou seja, uma campanha não encomendada. A peça, criada por Blair Vermette, que se apresenta como AI filmaker, envolveu as seguintes ferramentas: Midjourney, Runway ML, Adobe Creative Suite e Topaz (um upscaler de imagem, que aumenta a escala de criações feitas em aplicações de IA, que normalmente têm tamanho pequeno).

A qualidade de “Floral”, nome do “spec ad”, referência a uma coleção floral da marca alemã, impressionou e viralizou. Apenas uma pessoa fez tudo isso? A repercussão foi tamanha que ele contou no Instagram que foi procurado por muita gente em busca de um curso de IA. Vermette disse que vai pensar na possibilidade.

O caso reforça uma posição de Vinícius: criar imagens ficará mais barato por conta do aprimoramento das ferramentas. Para um projeto podia-se precisar de muita gente. Agora, uma única pessoa é capaz de gerar buzz com seu trabalho.

A tecnologia poderá, sim, condensar processos. Além disso, aponta, todo mundo se torna um pouco diretor. Isso é bom? “Poderemos ver mais movimentos periféricos usando a tecnologia. Com isso, teremos novos olhares, novas narrativas. O mercado vai se abalar porque não será necessária uma força massiva de trabalho. Por outro lado, haverá mais gente com acesso. Imagino que, eventualmente, todo criativo vai aprender a usar essas ferramentas”, acredita. “E o valor da ideia continuará sendo importante”, crava.

Atualmente, o acesso não é barato. A assinatura mais em conta do ChatGPT custa US$ 20 por mês. Se a ideia é ampliar os olhares, atraindo as comunidades periféricas, como isso vai acontecer? “Hoje quem tem acesso ainda está num espaço de privilégio. Temos de pensar em maneiras de dar acesso a essas pessoas. Porque o desafio está em evitar fechar o mercado”, diz Vinícius.

Em sua opinião, a indústria só tem a ganhar se ela se abrir para novos talentos, para gente que pode contribuir com a construção de novas narrativas, com pessoas que vivem em outras realidades e as que formam comunidades sub representadas no setor de tecnologia e na comunicação. E essa é uma importante oportunidade que temos. “O mercado pode buscar profissionais que, ao contar suas narrativas, vão treinar a IA. É a maneira mais ética de trabalhar”.

Como vamos nos adaptar?

Neste momento, na visão de Vinícius, a pergunta que devemos nos fazer é: “como vamos nos adaptar?”. Segundo ele, “a IA só te serve se você souber o que esperar dela”. É, portanto, imperioso estudar a tecnologia, suas possibilidades, as maneiras de trabalhar com ela.

Um estudo global divulgado no início do mês pela Confederação Internacional de Sociedades de Autores e Compositores (Cisac) apontou que os criadores de música e do audiovisual podem perder, respectivamente, 24% e 21% de suas receitas até 2028.

De acordo com essa pesquisa, se as discussões regulatórias não protegerem os direitos autorais, os criadores vão sofrer gravemente. Eles vão perder receitas devido ao uso não autorizado de suas obras por modelos de IA generativa se as regras não estabelecerem remuneração. E também serão prejudicados ao perderem chances de ganhar dinheiro se forem substituídos por ferramentas de IA, em um cenário em que máquinas competem com obras feitas por humanos.

De fato, entre os desafios da tecnologia estão os direitos autorais (como garantir que os criadores originais sejam reconhecidos e remunerados), a capacitação (com a velocidade cada vez maior do desenvolvimento da IA, as equipes criativos terão de se atualizar constantemente), o viés representativo (é crucial evitar que preconceitos sejam perpetuados pela tecnologia) e desinformação (a proliferação de conteúdo falso vai exigir maior atenção na verificação desse material).

Avanços na tecnologia e expansão nos negócios

Para fechar, alguns momentos da IA que chamaram atenção neste ano, com parte do conteúdo preparado pelo ChatGPT.

- Google - Lançou o Gemini 2.0, um agente de IA multimodal que integra linguagem natural e visão computacional, revolucionando interações.

- OpenAI – Apresentou o ChatGPT Pro, assinatura premium com recursos avançados como raciocínio lógico aprimorado e o gerador de vídeos realistas Sora. Também lançou o Canvas, ferramenta embarcada no ChatGPT para editar textos longos e para codificação.

- Microsoft – Fez uma grande atualização do Copilot, que ganhou recursos de voz e visão. Com o Copilot Vision, outra novidade, a IA interage com páginas web e oferece navegação assistida.

- Amazon - Lançou a linha de IA Nova, disponível no Amazon Bedrock, para gerar texto, imagens e conteúdo multimodal. E investiu US$ 4 bilhões na startup Anthropic.

- Expansão de startups de IA - Quase metade das startups unicórnios em 2024 foram de IA, com avaliações acima de US$ 1 bilhão.

- Adoção por marcas - Empresas como Coca-Cola, Bridgewater e Shopify utilizaram IA para criar campanhas, otimizar operações e melhorar interações com consumidores.

Como foi o ano da IA

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