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Reveja as palavras de Leo Burnett ao se aposentar
Nesta terça-feira, 14, o Publicis Groupe anunciou uma mudança importante em suas operações: uniu duas redes, a Publicis Worldwide e a Leo Burnett, para formar uma nova, a Leo Constellation. Ou apenas Leo. Nesse movimento, retirou do mercado um sobrenome emblemático da indústria da comunicação, mas, que bom, manteve o primeiro nome. Que também se conecta ao símbolo do Publicis, um leão.
Manter Leo como nome da rede - ainda que sem o Burnett - demonstra a importância da marca, a rejuvenesce e nos faz lembrar do famoso discurso de Leo Burnett quando se despediu do dia a dia da agência que fundou (em 1935, em Chicago). No dia 1º de dezembro de 1967, ele deixou o posto de CEO e leu um texto para o qual deu o título de “When to take my name of the door”.
Arthur Sadoun, CEO do Publicis Groupe, também reforçou essa decisão, em comunicado sobre a fusão, dizendo que, "ao unificar o espírito e o talento dessas comunidades criativas globais, Leo será maior, mais forte e presente em mais portas do que nunca”. Ou seja, para o grupo, o movimento é para amplificar a referência criativa de Leo Burnett e fazê-la chegar a mais clientes.
Presente em 90 países, a Leo Constellation reunirá 15 mil profissionais, resultado da combinação de talentos das duas redes absorvidas. Lembrando que, por aqui, a Leo Burnett vira Leo e a Publicis Brasil segue com sua operação.
Confira o discurso de Leo Burnett em 1967, que foi gravado (veja o vídeo mais abaixo).
“Em algum momento, depois que eu finalmente sair deste prédio, vocês — ou seus sucessores — podem querer tirar meu nome destas instalações também.
Talvez vocês queiram se chamar 'Twain, Rogers, Sawyer e Finn Inc'. Ou 'Ajax Advertising', ou algo assim. Isso certamente será ok para mim, se for bom para vocês.
Mas deixe-me dizer quando exigiria que vocês tirem meu nome da porta...
Será no dia em que vocês passarem mais tempo tentando ganhar dinheiro e menos tempo fazendo publicidade. O nosso tipo de publicidade.
Quando vocês esquecerem que a pura diversão de criar anúncios e o entusiasmo que você tira disso, o clima criativo do lugar, devem ser tão importantes quanto o dinheiro para o tipo muito especial de redatores, artistas e profissionais de negócios que compõem esta nossa empresa, e que a fazem funcionar.
Quando perderem aquele sentimento inquieto de que nada do que fazem é suficientemente bom.
Quando perderem a vontade de fazer bem o trabalho pelo simples prazer de fazê-lo — independentemente do cliente, do dinheiro ou do esforço necessário.
Quando perderem a paixão pela meticulosidade; o ódio por pontas soltas.
Quando pararem de buscar a forma, as nuances, a combinação entre palavras e imagens que produz o efeito fresco, memorável e crível.
Quando pararem de se dedicar todos os dias à ideia de que a melhor publicidade é o que a Leo Burnett Company representa.
Quando deixarem de ser o que Thoreau chamou de ‘uma corporação com consciência’, o que significa para mim, uma corporação de homens e mulheres conscienciosos.
Quando começarem a comprometer sua integridade, que sempre foi o sangue do coração, a verdadeira essência desta agência.
Quando se rebaixarem à conveniência oportunista e racionalizarem atos de oportunismo em nome de um lucro rápido.
Quando mostrarem o menor sinal de vulgaridade, inadequação ou arrogância, e perderem aquele sutil senso de adequação das coisas.
Quando seu principal interesse se tornar uma questão de tamanho, apenas para serem grandes, em vez de ser um trabalho bom, árduo e maravilhoso.
Quando sua perspectiva se restringir ao número de janelas, de zero a cinco, nas paredes de seus escritórios.
Quando perderem a humildade e se tornarem figurões arrogantes, um pouco grandes demais para suas botas.
Quando as maçãs se resumirem a ser apenas maçãs para comer, ou para polir — e não mais uma parte do nosso tom, da nossa personalidade.
Quando vocês desaprovarem algo e começarem a destruir o homem que fez aquilo, em vez do trabalho em si.
Quando pararem de construir sobre ideias fortes e vitais, e começarem uma linha de produção de rotina.
Quando começarem a acreditar que, em nome da eficiência, o espírito criativo e o impulso para criar podem ser delegados e administrados, e esquecerem que eles só podem ser cultivados, estimulados e inspirados.
Quando começarem a falar da boca para fora que esta é uma agência criativa, e pararem de realmente ser uma.
Finalmente, quando vocês perderem o respeito pelo homem solitário — aquele na sua máquina de escrever, ou na sua prancheta, ou atrás da sua câmera, ou apenas rabiscando anotações com um dos nossos grandes lápis pretos, ou trabalhando a noite toda em um plano de mídia. Quando esquecerem que o homem solitário — e graças a Deus por ele — tornou possível a agência que temos hoje. Quando esquecerem que ele é o homem que, porque está se esforçando muito, às vezes consegue realmente, por um momento, alcançar uma daquelas estrelas quentes e inalcançáveis.
Nesse momento, meninos e meninas, eu exigirei que tirem meu nome da porta.
E, por Deus, ele será retirado da porta. Mesmo que eu precise me materializar por tempo suficiente, em alguma noite, para apagá-lo eu mesmo, em cada um dos seus andares.
E, antes de me desmaterializar novamente, eu também apagarei aquele símbolo de alcançar estrelas. E queimarei todo o papel timbrado. Talvez rasgue alguns anúncios pelo caminho. E jogue todas as maçãs malditas pelo poço do elevador. Na manhã seguinte, vocês nem reconhecerão o lugar. Terão de encontrar outro nome.”