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O que pensam mulheres de destaque do nosso mercado
Para discutir o papel da mulher na indústria da comunicação, o Clubeonline procurou mais de 30 profissionais de distintas áreas do mercado para apontar o que está faltando para que mudanças mais profundas aconteçam. A proposta também foi saber como cada uma das participantes vivenciou – ou não – transformações no setor e conferir quem são as mulheres ou até movimentos que as inspiram.
A todas essas profissionais pedimos que respondessem a três perguntas que compreendem esses tópicos. A primeira rodada de participações foi publicada na quarta-feira 8, o Dia Internacional da Mulher. A segunda saiu na quinta-feira 9. E agora é a vez da terceira leva de respostas.
Confira as perguntas:
1 - Já falamos muito sobre a necessidade de ter equilíbrio de gênero na indústria da comunicação e de ter mais lideranças femininas no mercado. O que falta para mudanças mais perceptíveis acontecerem?
2 - Você viveu ou sentiu mudanças importantes do início de sua carreira até hoje?
3 - Que mulheres hoje te inspiram? Por que?
Participam desta rodada final Andreia Barion (WMcCann), Clau Duarte (Santander), Isabelle Tanugi (Zohar Cinema), Laura Chiavone (Tribal Worldwide NY), Luciana Ceccato (Crispin Porter + Bogusky), Maíra Liguori (Think Eva), Maria Lúcia Antonio (FCA Latam), Mariana Sá (Rede Globo), Marcia Esteves (Grey) e Renata Brandão (Conspiração).
Tire um tempo para ler as respostas. Se não der hoje, retorne. É importante ouvir o que estas mulheres têm a dizer.
E leia também as respostas de Andrea Barata Ribeiro (O2 Filmes), Daniela Cachich (PepsiCo), Gal Barradas (BETC), Joanna Monteiro (FCB), Keka Morelle (AlmapBBDO), Laura Esteves (Y&R) e Sophie Schonburg (McGarryBowen), publicadas na quarta-feira 8 (clique aqui). E de Ana Cortat (Hybrid Colab), Andrea Siqueira (Isobar Brasil), Carolina Campos (AKQA), Denise Millan (Leo Burnett Tailor Made), Gabriela Onofre (J&J), Jimmy Palma (Dogs Can Fly), Julianna Rojas (Microsoft) e Laura Florence (LOV), veiculadas na quinta-feira 9 (acesse aqui).
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ANDREIA BARION – Redatora da WMcCann
O que falta – “Acho que temos falado bastante sobre a igualdade de gêneros. O que falta para mudanças mais perceptíveis é bem simples: transformar a teoria em prática. Hoje mesmo eu estava lendo sobre uma pesquisa mundial que fala da porcentagem de mulheres que não voltam da licença maternidade. A média brasileira é bem maior que a média mundial. Mais da metade das nossas mulheres não voltam. Eu mesma demorei uns anos para voltar. Maternidade e profissão não podem ser coisas incompatíveis. Já entre os cargos de chefia, o índice de retorno é maior. A mulher que alcança um cargo de liderança e um bom salário tem mais motivos para voltar. As empresas precisam valorizar a mulher e pensar em políticas de retenção de seus talentos femininos.”
Evolução – “Senti mudanças bem antagônicas. Se por um lado vejo que o número de mulheres na criação está mais baixo que há 15 anos (tivemos até um debate sobre o assunto no último Festival do Clube de Criação), por outro temos hoje mais mulheres em cargos de liderança.”
Inspiração – “Vem de todos os lados: da literatura, das ruas, da conversa sem fim com as amigas e da busca por uma educação sem preconceitos para minhas filhas. Do mercado, acho incrível a trajetória da Aline Santos Farhat, que lidera a agenda global de diversidade e igualdade de gêneros da Unilever. E morro de orgulho das amigas Joanna Monteiro, Sophie Schonburg, Denise Gallo e Giovana Madalosso. Chimamanda Ngozi Adichie, Malala Yousafzai e Judith Butler são algumas das figuras internacionais que admiro. Na política, como não amar o primeiro ministro do Canadá, Justin Trudeau, que fez questão de montar seu ministério com o mesmo número de homens e mulheres? E já que citei um homem, vou citar logo um país inteiro: a Suécia é, para mim, o maior modelo a ser seguido. A política de igualdade de gênero deles é séria e efetiva, comandada por um ministério específico, com medidas como a licença paternidade compulsória.”
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CLAU DUARTE – Superintendente executiva de comunicação externa do Santander
O que falta – “Essa questão só será resolvida em definitivo por meio de uma profunda mudança cultural, e não apenas com ajustes no ambiente de trabalho. Mas é importante lembrar que esse processo já está em curso, e de forma irreversível. Basta notar: o debate acontece na sociedade de forma cada vez mais intensa. Todos os dias surgem novas referências de liderança feminina no mercado e fora dele e práticas corporativas, que antes pareciam normais, agora são consideradas absolutamente inaceitáveis. Tudo isso é avanço. O que falta é acelerar o debate. Conforme o processo avance, o ambiente corporativo certamente refletirá a mudança de maneira positiva.”
Evolução – “Não tenho dúvida de que as condições hoje são melhores do que antes. Existem mais referências, mais caminhos, mais portas abertas. Mas esses são avanços táticos, que não mudam uma realidade persistente: as mulheres em cargos de liderança são exceções à regra porque o ambiente, de maneira geral, ainda não permite que todos compitam em condições de igualdade. Isso torna mais improvável, ainda que não impossível, a ascensão de lideranças femininas.”
Inspiração – “O que realmente me inspira são ideias e comportamentos transformadores, independentemente de quem sejam os seus autores e de qual seu gênero. Mas obviamente muitas dessas referências vêm de mulheres, que se mostram notáveis em todos os campos de atividade, como a política, as artes, o mercado profissional e muito mais. É o caso de Michelle Obama, Viola Davis, Ana Botin, Carmen Lúcia e muitas outras.”
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ISABELLE TANUGI - Sócia e produtora executiva da Zohar Cinema
O que falta – “Na área de produção, desde que comecei há 30 anos, vi as mulheres conquistarem cada vez mais espaço. Acho que ainda temos poucas diretoras mulheres, mas isso está mudando, pois vejo hoje mais diretoras do que antes. Falta um desprendimento por parte dos homens. Eles estão ainda muito condicionados às figuras de liderança masculinas e a desconfiar de uma figura de liderança feminina no primeiro momento.”
Evolução – “Vejo mudanças maiores no mundo criativo onde as mulheres hoje certamente são mais aceitas e valorizadas do que na década de 80. Certamente muitas profissionais naquela época assumiram posturas mais masculinas para ganhar respeito no mercado de trabalho.”
Inspiração – “As mulheres costumam ser eficientes, determinadas e capazes de resolver muitas coisas ao mesmo tempo e isso me inspira. Dentre os nomes que me servem de exemplo estão Rosa Luxemburgo, Marie Curie, Marguerite Yourcenar e Hedy Lamarr – estou começando a escrever um roteiro sobre essa mulher incrível e pouco reconhecida.”
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LAURA CHIAVONE – Chief Strategy Officer (CSO) da Tribal Worldwide New York
O que falta – “Mudanças como essa não acontecem por ideologia, infelizmente. Acontecem pelo uso da força. É como quando foi implementado o uso obrigatório do cinto de segurança. A grande maioria passou a usar o cinto para não ser multado e não para garantir a sua própria segurança. Essa mudança acontecerá sob a mesma dinâmica, mas dessa vez a multa virá na forma da pressão dos clientes e dos acionistas internacionais. Cada vez mais está claro o benefício para o produto final, para resultados e para o público interno a adoção de políticas de mais equilíbrio de gênero na liderança. Clientes estão buscando equipes equilibradas para que as marcas conversem melhor com o público, com maior riqueza de pontos de vista. Mas essa não é uma conversa que diz respeito apenas à quantidade de mulheres na liderança. Diz respeito a mudanças nas políticas de benefícios aos funcionários e à modernização organizacional das empresas. Diz respeito a mudar as políticas de licença maternidade, paternidade, equidade de pagamento, inclusão étnica e de gêneros. Diz respeito a parar de celebrar a virada de noite e feriados como prova de comprometimento e passar a adotar práticas internas de processos de trabalho mais claros e disciplinados, para que todos possam performar sob as mesmas condições. Se não há um processo interno de trabalho claro para todos, inclusive para os clientes, fica difícil uma mãe de bebê trabalhar num job que a agência aceitou às 19h para entregar às 9h. O que falta para isso acontecer aqui é engajar as grandes lideranças do mercado em torno de um mercado mais profissional, justo e cuja força de trabalho reflita em gêneros e etnias a nossa sociedade. Mas para isso acontecer é preciso primeiro aceitar que temos um problema, o que já aconteceu no mercado internacional, mas não aqui.”
Evolução – “Eu vivi todo tipo de assédio ao longo da carreira. O meu ativismo vem das minhas experiências, das que eu vivi na pele e as que me envolvi para interferir em situações ao meu redor. Enquanto o mercado, homens e mulheres, acharem que os abusos e assédios são a norma, apenas uma minoria vai achar que temos um problema. Na hora que as pessoas passam a entender que assédio é crime e que abusos não são mais aceitáveis moralmente, podemos promover mudança em conjunto. A grande mudança que sinto é que o grupo que se incomoda com o cenário atual está crescendo muito e rapidamente, entre homens e mulheres, e esses assuntos se tornaram presentes no nosso dia a dia. Grupos de apoio e conversa existem em grande número, assim como a mobilização em torno da discussão desses temas. Só não enxerga quem está muito alienado. Eu hoje conto em palestras e mesas de discussão os casos de assédio que passei porque sei que existe espaço para essa fala. E, desde que assumi essa postura, tenho recebido contatos de pessoas relatando casos e processos que acontecem em segredo de justiça. Então, existem mudanças importantes acontecendo no nosso mercado, porque ele não é feito apenas da liderança, mas de milhares de pessoas que são pais, mães, irmãos e jovens que não aceitam mais a norma anterior. Um dos principais pontos de consequência aqui é a perda exponencial de poder de atração de talentos da nossa indústria em virtude da manutenção dessa estrutura anacrônica organizacional e de poder. Empresas mais flexíveis, que conseguem ser orientadas por performance, sendo rígidas e politicamente corretas internamente, como o Google, têm uma capacidade muito forte de atração de grandes talentos do nosso mercado. E isso não é restrito apenas ao mercado de tecnologia. Empresas médias, startups, a gig economy e clientes têm se tornado muito atrativos para profissionais de todas as idades e configurações pessoais de família.”
Inspiração – “Há muitas mulheres que me inspiram: as artistas Emma Watson, Meryl Streep e Madonna, a banqueira Carla Harris, do Morgan Stanley, a menina Marley Dias que criou o ‘1000 Black Girls Books’, Madonna Badger, que se reinventou de uma tragédia pessoal criando o ‘Women Not Objects’ e a Kat Gordon, fundadora da 3% Conference, estão entre as personalidades internacionais que admiro. Entre as mulheres brasileiras, gostaria de fazer um destaque a todas as mulheres publicitárias, jovens, mais velhas, mães, solteiras, negras, gays-mães, mais velhas-solteiras, jovens casadas, líderes e no início de carreira. Tentei, mas seria uma grande injustiça eu escolher apenas algumas, porque é muito admirável o trabalho e o esforço que a grande maioria faz para superar todas as barreiras que são colocadas todos os dias no trabalho. É o estigma do mimimi quando a mulher apresenta uma objeção ou ponderação, é histeria quando ela se exalta, é revanchismo e luta no gel quando uma mulher tem um problema com outra mulher e é frescura quando ela está com alguma questão de saúde. Não é fácil, não é simples e precisa de muita coragem e vontade para encarar o dia-a-dia. Felizmente, não são todas as mulheres que sentem isso, mas não é porque algumas não sentem, que não acontece massivamente (parafraseando o texto da minha amiga Ana Cortat). Por fim, tenho de fazer uma homenagem à mulher mais incrível e inspiradora que eu conheci neste mercado que é a Celia Belem, minha mãe. Ela desbravou a indústria nas agências, clientes e veículos, conquistou a liderança e enfrentou todos os estigmas da mulher poderosa, com muita força e dignidade. Conquistou a admiração por onde passou e construiu a imagem da potência e humanidade da liderança feminina. A Celia abriu caminhos para muita gente, inclusive pra mim. À Celia e às Celias da geração dela, minha maior admiração.”
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LUCIANA CECCATO – Diretora de conta de grupo da Crispin Porter + Bogusky
O que falta – “Sinceramente, não vejo muito sentido no debate sobre equilíbrio de gênero nas agências quando ele vem focado na ladainha da hegemonia masculina na Criação. Estou escrevendo essas respostas de um mesão, aqui, da agência, ocupado 50% pelo Atendimento e 50% pela Criação. Tão verdadeira quanto a hegemonia de homens à minha esquerda (Criação) é a hegemonia absoluta de mulheres à minha direita (Atendimento). Seria legal ter homens no Atendimento? Claro que sim e já tive muitos homens em minhas equipes ocupando as mais distintas posições. Não os contratei porque eram homens. Contratei pelo mesmo motivo que hoje contratei só mulheres: porque eram os melhores profissionais que entrevistei para a vaga. Não é uma questão de gênero, é uma questão de competência. Parece-me anacrônico defender uma ‘cota’ de vagas em qualquer departamento ou indústria para as mulheres. Temos capacidade para ser tanto ou mais que os homens mais competentes do mundo em praticamente qualquer ofício, não precisamos de proteção de mercado. Por falar em mercado, acho que melhoraremos muito como indústria quando deixarmos de esconder nossos pecadilhos e opiniões debaixo desse enorme tapete invisível que preguiçosa ou maliciosamente decidimos chamar de ‘mercado’ ou ‘indústria’. Mercado é o conjunto de profissionais que trabalham em determinado ofício. O mercado sou eu, é você que está me lendo. Por que, então, não personalizar as opiniões? Por que não fazer um mercado diferente com as próprias mãos quando a gente não concordar com as regras vigentes?”
Evolução – “O que não mudou: acho que seguimos procurando e premiando aqueles doidos varridos que têm completa obsessão por comunicação, usem eles cuecas ou calcinhas. O que está mudando: na área acadêmica, porém (sou professora de dois cursos distintos para os alunos de Criação da Miami Ad School), tenho visto uma linda mudança de paisagem ultimamente. Nas salas onde antes eu tinha apenas de 5% a 10% de alunas, hoje vejo 40% ou até 50%. Isso é novo e é maravilhoso. Se hoje temos poucas mulheres em cargos de liderança na Criação, é porque também temos um universo menor de meninas escolhendo Criação dentro das turmas de Publicidade nas faculdades. É um fato matemático e não de preconceito de gênero. Afinal, não é esse tal ‘mercado’ que vai lá na sala de aula da ESPM dizer para uma menina que ela não pode trabalhar em Criação porque ali é um lugar para os homens, não é mesmo? Não devemos subestimar o poder do livre-arbítrio na formação de nosso mercado de trabalho. Outra coisa que mudou muito, para melhor e para todos (homens e mulheres), foi a liberdade de opções profissionais. De volta a 1995, quando ingressei nesse mercado, tínhamos duas e só duas opções: marqueteiro ou publicitário (cliente ou agência). Hoje, podemos criar, aqui e agora, novos trabalhos, ofícios, empresas, projetos paralelos, coletivos artísticos e afins.”
Inspiração – “Infinitas mulheres me inspiram, mas confesso que tenho uma admiração toda especial por aquelas que deixam para trás (às vezes em outros continentes) suas raízes e são capazes de se instalar em novo ambiente e – com afeto, humildade e respeito ao poder do tempo sobre as relações verdadeiras – construir novas raízes e erguer majestosos jacarandás. Assim era minha avó materna – Mercedes – e assim é minha mãe, que não por acaso nasceu no Dia do Professor, minha grande professora de caráter e conduta. Imigrantes espanholas que abraçaram o Brasil como seu novo país, sem nem mesmo falar sua língua, e nos deram a chance de nascer numa família toda mestiça, mas com valores tão bonitos. Outra dessas imigrantes guerreiras que me motiva é a Dominique Crenn, incrível chef de cozinha, que foi a primeira mulher dos EUA a conquistar duas estrelas Michelin e, de quebra, ainda foi eleita a melhor chef do mundo no ano passado. Uma francesa vivendo em São Francisco, em um mercado dominado por homens, ela começou do zero e constrói diariamente o ‘se deixar cortar e voltar sempre inteira’, que é tão particular às mulheres e fundamental para manter viva e fresca uma boa cozinha, que se reinvente a cada dia. Como devem ser as boas agências. Ah, essa incrível senhora que escreveu as aspas que citei acima sempre será uma inspiração para mim: Cecília Meireles.”
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MAÍRA LIGUORI – Co-fundadora da Think Eva
O que falta – “Existe consciência na indústria da necessidade de diversidade, da necessidade de trazer as mulheres para a roda de conversa. Porém o modo de pensar é ainda muito masculino. Assim como em todos os espaços de poder que ‘pertencem’ aos homens, esse é um espaço a ser conquistado. Quando a gente pensa nas mulheres nas equipes de criação, todas as agências têm olhado para isso e têm feito um esforço para trazer as mulheres para a conversa. Como elas estão sendo ouvidas? É muito interessante pensar que, às vezes, eles colocam isso como uma coisa a ser cumprida. Mas eles não escutam de fato o que essas mulheres têm para trazer, para contribuir. Ou muitas vezes trazem mulheres que ainda não têm uma consciência e uma profundidade pra se colocar em determinados temas. Assim como existem homens machistas, existem mulheres machistas. E isso não é culpa delas, de forma nenhuma. Porém muitas vezes elas acabam não contribuindo, não trazendo o olhar com esse recorte de gênero e a profundidade que as questões merecem porque elas próprias estão em processo de desconstrução. O mercado está consciente dessa necessidade, mas não sabe como fazer. No Dia das Mulheres, a gente viu uma explosão de campanhas com viés feminista, muitas bem interessantes, relevantes. E havia outras como se estivessem surfando uma onda. Quase dizendo ‘tá. Hoje é Dia da Mulher e não posso não falar nada. Vou trazer uma pessoa xis que vai me dar algum insight, alguma ideia e eu vou resolver meu problema’. Muitas vezes isso não resolve. A gente viu muitos casos no Dia da Mulher que vão por esse lado. Muitas agências estão entendendo o empoderamento feminino de forma errada e acham que pintando de rosa as coisas vão se resolver. Dizem ‘nós pensamos nas mulheres’, mas não pensam como elas trabalham, não pensam nas políticas que a agência internamente tem para incluir essa mulher. Como fazer, por exemplo, para a criação ser compatível com uma parte da vida que a maioria das mulheres deseja ter (engravidar e ter filhos) e que o mercado muitas vezes ignora e passa por cima?”
Evolução – “Comecei a atuar há 15 anos no mercado de marcas, em diferentes áreas. O empoderamento feminino e as questões de gênero simplesmente não apareciam. Não eram consideradas para nada. De dois anos para cá é que a gente viu essa grande explosão porque as marcas entenderam que isso não é apenas uma necessidade para se alinhar aos novos tempos, mas também uma oportunidade de mercado. Algumas marcas começaram a liderar essas conversas e a ter desempenho e resultados muito bacanas. Mostraram que isso seria um caminho possível. Quando se trata de comunicação para mulheres, velhas fórmulas vão sendo repetidas há 50 anos. Isso não vinha fazendo efeito nenhum. Então, o viés do empoderamento feminino e das questões de gênero se apresentou como uma excelente oportunidade. É como a gente, da Eva, sempre diz quando ouvimos ‘ah, o politicamente correto, que chatice’: pra gente, na verdade, é todo um novo território que se desenha. É um novo olhar rico em insights e em caminhos ainda não explorados para que as marcas possam se aventurar. As que ousaram já estão colhendo os frutos disso. Acho que nesses dois últimos anos essa explosão só reforça o empoderamento como um caminho bom para a sociedade, para as mulheres e para as marcas também.”
Inspiração – “She Knows, agência norte americana que vem trazendo dados e discussões bem interessantes sobre a mulher na mídia. Refinery 29 também. Eles sabem falar com a mulher de hoje e são muito inovadores na linguagem e no conteúdo. The Slay é um grupo americano de conteúdo feminista interseccional. A ilustradora Kimothy Joy, que criou a campanha ‘Nevertheless, she persisted’, expondo situações de machismo que as mulheres enfrentam. No Brasil, temos a Debora Diniz, do Instituto Anis, em sua luta incansável pela legalização do aborto, e a Nega Hamburguer, grafiteira e ilustradora feminista negra. E Think Olga (modestia à parte), que vem falando de feminismo de forma respeitosa e profunda.”
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MARCIA ESTEVES - Chief Operating Officer (COO) da Grey Brasil
O que falta – “Tempo. A mulher ingressou no mercado de trabalho muitos anos depois e existe um processo natural de evolução para que tudo se equilibre.”
Evolução – “Particularmente, enfrentei alguns desafios ao longo da carreira, contudo, tive a felicidade de atuar em empresas que, de fato, valorizam a meritocracia, independentemente do gênero. Mas, certamente, noto mudanças. Antes, era raro termos mais do que uma mulher em uma sala de reunião de diretoria. A cada ano que passa, esse gap fica menor. A sociedade está evoluindo e, a reboque dela, o mercado profissional também. Da mesma maneira, as configurações familiares estão se transformando e, hoje, são totalmente diferentes do modelo tradicional. Cabe agora a nós, mulheres e mães, criarmos nossos filhos para um mundo mais igualitário, onde a parceria de gênero realmente exista - e não a de subordinação, que dominou até agora.”
Inspiração – “Há pessoas que me inspiram. Não sou a favor de levantarmos bandeira de gênero. Sou a favor de gente. De pessoas de bem. Com propósito. Que acordam todos os dias acreditando e transformam, com atitudes, o mundo em um lugar melhor para todos.”
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MARIA LUCIA ANTONIO - Manager Brand Marketing Communication para todas as marcas (Fiat, Jeep, Mopar, Chrysler Dodge e RAM) da FCA Latam
O que falta – “Os gestores precisam ficar atentos na hora de compor suas equipes. Falando um pouco sobre a minha experiência, desde sempre nas minhas equipes tento um equilíbrio de gênero. Embora a diversidade, evidentemente, não deva ficar restrita a gênero. Estar atenta para identificar profissionais que muitas vezes são incríveis, mas não vieram de universidades conceituadas, nem têm no currículo um ano sabático ou foram ficar com os filhos por um tempo, ajuda a ampliar o olhar. Contudo, faltam lideranças femininas sim, em todas as áreas da comunicação. É evidente que isso se transforma em comunicação, muitas vezes, sexista, machista e desconectada com a nova realidade.”
Evolução – “Nunca houve tantas oportunidades. A discussão de gênero invadiu todas as áreas, inclusive o mercado de trabalho. Não existe mais o que é um trabalho para mulher e o que não é. As mulheres podem muito, têm de acreditar e buscar o que desejam. De alguns anos para cá as mulheres têm percebido isso. A gente não precisa deixar de ser quem é para ter respeito e fazer parte de um time de profissionais, no qual a maioria é composta por homens. A luta é diária, mas vejo mais mulheres chegando lá e isso é motivador. Não podemos esquecer o esforço gigante para isso acontecer – incluindo jornadas exaustivas, no trabalho, em casa, com os filhos, etc.”
Inspiração – “Existem grandes inspirações hoje, especialmente na África e no Oriente. São trabalhos maravilhosos que incentivam e criam condições para meninas estudarem, às vezes, algo muito difícil e perigoso em lugares como esses. Eu mesma passei por isso e citaria minha mãe, dona Divina, que na verdade brigou com meio mundo para me colocar na escola, após a quarta série. Ela mudou minha vida e das minhas irmãs. A educação pode mudar tudo. O conhecimento é libertador e empodera. Na minha opinião, é onde tudo começa. Por ser a filha mais velha de cinco irmãs, minha mãe trouxe para nós a força do empoderamento. Ela nos incentivava a estudar, a buscar, a acreditar em nossos sonhos e planos. É uma grande inspiração e foi uma grande motivação para que eu chegasse até aqui e encarasse os desafios da vida e, sobretudo, atuasse em um universo tipicamente masculino de igual para igual.”
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MARIANA SÁ – Diretora de propaganda da Rede Globo
O que falta – “Como qualquer movimento, acredito que essa busca por mudanças tende a ganhar força e evoluir ano após ano. Noto, por exemplo, que meus filhos já têm outra visão sobre o papel da mulher na sociedade, bem diferente do que a minha geração tinha. Assim, eles provavelmente criarão filhos guiados por esse novo entendimento e, consequentemente, pautarão um novo comportamento na sociedade. Esse é um movimento que começou há 50, 60 anos. Então, tempo e persistência têm um grande papel nesse processo. Mas é claro que políticas públicas, principalmente em países que vivem realidades desiguais, são fundamentais para impulsionar essa evolução e por isso precisamos seguir discutindo a necessidade delas.”
Evolução – “Quando comecei eram muito poucas as mulheres em cargos de liderança de grandes empresas. Não me lembro de nenhuma mulher presidente na minha infância. As referências de liderança mudaram muito, o que é um ponto muito positivo. “
Inspiração – “Michelle Obama é uma inspiração por tudo que ela é. Ainda mais que, além de tudo, sabe dançar. E acredito que a Liniker também é inspiradora, por seu talento, coragem e delicadeza.”
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RENATA BRANDÃO – Diretora-presidente de negócios da Conspiração
O que falta – “Precisamos de mais mulheres criando e dirigindo projetos. O olhar feminino para conteúdos não só para o público de mulheres ou crianças, mas para todos. Precisamos de mulheres dirigindo filmes de carro, filmes de ação, terror, games, não só beleza e filmes emocionais e documentais. Para as lideranças fora do aspecto artístico, sinto que as oportunidades já existem, já estão aí e estão sendo ocupadas cada vez mais. E é uma questão de perfil e não de oportunidades.”
Evolução – “Sou de uma geração que sentiu menos as questões de gêneros. Fui criada numa família que sempre deu poder para as mulheres. Felizmente, na minha jornada nunca senti que ser mulher me distanciava das oportunidades que surgiam. Mas sinto que hoje respeitamos mais e melhor algumas necessidades que são especiais das mulheres: valorizamos a maternidade no ambiente corporativo e desvalorizamos os homens que não cumprem um papel real e genuíno e de igualdade no cuidado com a casa e com os filhos. Se o padrão pai trabalhando e mãe cuidando dos filhos era um padrão esperado, hoje é bem questionável, a não ser que seja por um desejo/arranjo do casal. Aí, o inverso também acontece. Pais que se disponibilizam a se dedicar mais aos filhos enquanto as mulheres optam/ escolhem/ decidem por ter mais tempo para o trabalho. Mas estou falando de um ambiente em que eu vivo e tenho consciência que ainda há muito a ser evoluído nesse sentido. Legislação, consciência coletiva, anulação de preconceitos, que ainda impedem os homens de desempenharem esse papel, por exemplo.”
Inspiração – “Essa lista de nomes é enorme, de mulheres conhecidas de todos, da literatura, dos movimentos feministas, etc, mas ultimamente admiro as meninas dessa nova geração que estão bem mais conscientes, exigentes, livres e tomam decisões reais. Saem à rua, denunciam, se expõem quando precisam exigir seus direitos...”