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Americanas

Lemann, Telles e Sicupira se posicionam sobre rombo bilionário

23.01.23

A Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial na semana passada (leia aqui), depois de ter revelado “inconsistências em lançamentos contábeis” (aqui). A empresa declarou dívidas de R$ 43 bilhões, com 16,3 mil credores.

Neste domingo (22), os chamados "acionistas de referência" da Americanas, os empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, apresentaram uma nota pública sobre o rombo contábil.

No texto, eles alegam que não tinham conhecimento sobre a situação da empresa. "Jamais tivemos conhecimento e nunca admitiríamos quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia". Os acionistas também destacam que contavam com a auditoria da PwC, que, segundo eles, "fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade".

Entre outros pontos, os três empresários lembram ainda que "como acionistas", também foram "alcançados por prejuízos".

No entanto, credores ressaltaram que essas "inconsistências contábeis" bilionárias identificadas na Americanas não são o primeiro envolvimento de Lemann, Telles e Sicupira em escândalos corporativos. Reportagem publicada pelo TAB, do UOL (leia aqui), lembra de alguns casos, como o do banco Garantia, criado pelos empresários nos anos 1970 e que esteve perto da falência em 1998; ou da Cosan, que comprou a ALL (América Latina Logística), e afirmou ter encontrado a "malha ferroviária da companhia em frangalhos e práticas fraudulentas para inflar resultados", em 2014. O trio tinha deixado o controle da ALL havia 10 anos.

A matéria ainda lembra que, em 2021, os acionistas da Americanas fizeram um acordo com a SEC, agência reguladora do mercado de capitais nos EUA, para encerrar uma investigação sobre má-conduta contábil na Kraft Heinz entre 2015 e 2018, e pagaram uma multa de US$ 62 milhões. E que a fintech Stone, da qual o grupo detém 4% das ações, perdeu 80% de valor de mercado em 2021 depois de enfrentar problemas de concessão de crédito, por "erros de experiência com recebíveis", segundo o CEO da empresa.

A reportagem também cita que o BTG Pactual recomendava compra de ações da Americanas no final de 2022, depois do anúncio da contratação de Sérgio Rial (ex-Santander) como novo CEO. Depois que o executivo pediu demissão, no último dia 12, já que R$ 20 bilhões em dívidas não apareciam no balanço da empresa, o BTG enviou à Justiça petição para tentar reter R$ 1,2 bilhão em dívidas da varejista, classificando as inconsistências no balanço como "fraudes", feitas de "má-fé" e de forma premeditada por "semideuses do capitalismo", "dando uma de malucos".

Segundo o Valor, além do BTG, outras instituições financeiras credoras das Americanas também tentaram reverter a decisão da Justiça, que suspendeu a cobrança de dívidas, antes da recuperação judicial.

Abaixo, leia a íntegra da nota assinada pelo trio de principais acionistas da Americanas:

"No dia 11 de janeiro de 2023, por meio de 'fato relevante', a Americanas S.A. tornou pública a existência de significativas inconsistências em sua contabilidade. Desde então, sempre com transparência e imediatismo, vários esforços vêm sendo feitos para o correto tratamento dos desafios que hoje se colocam à empresa.

Usamos dessa mesma clareza para esclarecer de modo categórico e a bem da verdade que:

1) Jamais tivemos conhecimento e nunca admitiríamos quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia. Nossa atuação sempre foi pautada, ao longo de décadas, por rigor ético e legal. Isso foi determinante para a posição que alcançamos em toda uma vida dedicada ao empreendedorismo, gerando empregos, construindo negócios e contribuindo para o desenvolvimento do país.

2) A Americanas é uma empresa centenária e nos últimos 20 anos foi administrada por executivos considerados qualificados e de reputação ilibada.

3) Contávamos com uma das maiores e mais conceituadas empresas de auditoria independente do mundo, a PwC. Ela, por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade.

4) Portanto, assim como todos os demais acionistas, credores, clientes e empregados da companhia, acreditávamos firmemente que tudo estava absolutamente correto.

5) O comitê independente da companhia terá todas as condições de apurar os fatos que redundaram nas inconsistências contábeis, bem como de avaliar a eventual quebra de simetria no diálogo entre os auditores e as instituições financeiras.

6) Manifestamos mais uma vez nosso compromisso de integral transparência e de total colaboração em tudo que estiver ao nosso alcance para esclarecer todos os fatos e suas circunstâncias.

7) Lamentamos profundamente as perdas sofridas pelos investidores e credores, lembrando que, como acionistas, fomos alcançados por prejuízos.

8) Reafirmamos o nosso empenho em trabalhar pela recuperação da empresa, com a maior brevidade possível, focados em garantir um futuro promissor para a empresa, seus milhares de empregados, parceiros e investidores e em chegar a um bom entendimento com os credores.

Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira".

Leia matéria do UOL na íntegra, aqui.

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