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Cannes Lions 2015 – Palestra

Como o Google lida com conteúdos abusivos?

23.06.15

Num momento em que a internet é mais uma esfera da sociedade, como o Google lida, em toda a sua enormidade, com o lado negativo, mais obscuro, de nossas vidas? Esse foi o tema central de um instigante seminário no Cannes Lions 2015 em que líderes jurídicos e de relações institucionais da empresa compartilharam a postura da empresa em relação a conteúdos polêmicos postados em suas plataformas. “Temos algumas decisões difíceis a tomar neste momento em que a internet virou uma protagonista da sociedade”, admitiu David Drummond, SVP Corporate Development e Chief Legal Officer do Google.

Intitulada “Where Isis and Seth Rogen meet: standing up for free expression while combating the worst among us”, a palestra quis dividir com o público um pouco da complexidade de administrar desvios de conduta promovidos por conteúdos enviados por usuários de contas Google.

O exemplo que abriu a discussão foi o lançamento do filme de comédia “The Interview”, com o ator Seth Rogen, em que dois jornalistas são convencidos a viajar para a Coreia do Norte sob o pretexto de entrevistar o ditador local com a intenção de matá-lo. O filme desencadeou uma crise político-diplomática de grandes proporções, amplificada pelas redes sociais, que teve como consequência o vazamento de dados confidenciais do estúdio responsável pelo filme, envolvimento do presidente Barack Obama e um grande debate global sobre liberdade de expressão. O Google se posicionou a favor do filme e não cedeu às ameaças de ataques terroristas de simpatizantes do regime norte-coreano. “E era apenas um filme do Seth Rogen”, brincou Dummond.

Ele e Victoria Grand, diretora de policy strategy da companhia, então discorreram sobre os benefícios da disseminação da internet entre a sociedade – fazendo a ressalva de que ainda somos apenas 2 bilhões de pessoas conectadas num planeta com 7 bi de habitantes – e então passaram a debater um aspecto mais espinhoso da internet: em que momento a vastidão de informações, um suposto paraíso para a liberdade de expressão, se torna uma ferramenta que prejudica, ataca e afeta a sociedade?

Para dar a dimensão correta da complexidade dos problemas com que o Google lida, eles convidaram o público a decidir o que deveria ser removido do YouTube e o que não deveria. Munidos de placas com sinais verde e vermelho, os presentes foram convidados a votar.

Primeiro, lembraram que nudez e pornografia são dois aspectos que levam a remoção de conteúdos no YouTube – mas há exceções: tutoriais de amamentação, performances artísticas que envolvam pessoas nuas e alguns vídeos que, dentro do contexto da cultura contemporânea, não soem agressivos aos usuários em determinados mercados. No primeiro teste, julgou-se  vídeo da polêmica música Blurred Lines, de Robin Thicke (em que modelos aparecem seminuas, veja aqui). A maior parte das pessoas manteria o clipe. No mundo real, o YouTube manteve esta versão apenas para usuários com mais de 18 anos.

Em seguida, o trailer de “Ninfomaníaca”, do diretor Lars Von Trier, foi julgado: o público liberaria o vídeo. Mas o YouTube não o fez, e o trailer foi boicotado. O próximo vídeo se referia a uma enfermeira que ensinava, em tutoriais com o passo-a-passo, pessoas a aderirem à eutanásia. Assim como o Google, a maioria votou a favor da retirada do vídeo.

Mas e quando o conteúdo é inapropriado justamente por ameaçar a sociedade? No momento mais delicado da palestra, os executivos do Google trataram da série de vídeos de decapitação e assassinato de pessoas que a rede terrorista Isis divulga a fim de amedrontar seu oponente: o mundo ocidental. Esses vídeos costumam ser removidos – exceto quando trechos deles que não mostram o ato de execução são postados por veículos de imprensa e deixando claro que se trata de conteúdo jornalístico. Os demais são removidos. Mas isso adianta? “Não acreditamos que censurar conteúdo coibirá o Isis de seguir atuando. A melhor forma de lidar com isso é com contra-argumentos racionais e ideias melhores que respondam a irracionalidades como essas”, disse Dummond.

O vídeo da execução de um policial pelos terroristas do ataque ao Charlie Hebdo também foi discutido – ele não foi removido (exceto na França, onde a lei proíbe a exibição) por ser o registro de uma testemunha ocular. Vídeos gerados em zonas de conflito também são mantidos – mesmo que com imagens muito violentas – porque são regiões que eventualmente ficam sem cobertura da imprensa (local e internacional) e o YouTube torna-se fonte de informação para quem está lá.

O grande turning point da apresentação se deu ao final, quando Drummond se perguntou: e o que isso tem a ver com a indústria de comunicação? Segundo os executivos do Google, estes contra-exemplos que reafirmam os direitos de minorias e valores que beneficiam a sociedade como um todo podem engajar as pessoas em prol do bem e esse engajamento eclipsa iniciativas radicais como as descritas acima. E engajar e emocionar as pessoas este mercado sabe fazer bem.

Dummond e Grand encerarram sua palestra num tom mais ameno, mostrando exemplos: #Likeagirl, Proud Whopper, Love has no labels e Choose beautiful, entre outros.

Será que  o mercado publicitário tem como enfrentar o fundamentalismo do Isis?

 Clubeonline está no Cannes Lions e Cannes Health 2015. A cobertura é um oferecimento de A Voz do Brasil; Barry Company; Conspiração Filmes; DPZ&T; Estúdio Angels; FCB Brasil; Getty Images do Brasil; Hungryman; JWT; LBTM; Lucha Libre Audio; Miami ad School/ESPM; Movie&Art; Mullen Lowe Brasil; Paranoid; Piloto TV; Popcorn Filmes e Y&R Brasil, com apoio da Publicis.

 

Cannes Lions 2015 – Palestra

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