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Menos Leões. GPs para peças simples. Mudanças na Riviera
É visível a preocupação dos delegados que circulam pela cidade de Cannes e esperavam voltar para casa com vários Leões na bagagem. "É impressão minha ou este ano estão dando muito menos Ouros?", questionava um criativo que, diga-se de passagem, ainda não subiu no palco, mas já ganhou um troféu de Bronze. "Não foi só Ouro, não. Diminuiu tudo", disse outro, que também não vai voltar de mãos vazias. E olha que ainda era segunda-feira de uma semana recheada de premiações.
Mas, como como comentou Marcello Serpa em entrevista ao Clube online (aqui), salientando uma distorção, "não basta apenas um Leão, hoje, para uma peça ser boa, ela tem que ganhar três ou quatro, no mínimo." Pois é. Isso tem deixado qualquer garoto em começo de carreira de cabelo em pé.
Que os Leões distribuídos no festival diminuiram este ano, é fato. Os mais bem-humorados brincam que "mudaram as regras do jogo no meio do campeonato". Presidentes de júris como Mark Tutssel, da Leo Burnett global, que comandou o julgamento de Direct, disse que só premiou o que era realmente brilhante. Capaz de impactar de imediato. Em outras palavras, a barra subiu e o que agradava antes já não agrada tanto mais. Ou não tanto. Além disso, trabalhos que chegaram com o carimbo de "já ganhou" não estão fazendo sucesso nas salas que definem de fato quem sai ou não sagrado campeão de Cannes.
"Estava na hora", disse Anselmo Ramos, da David Miami, sobre o festival estar selecionando mais a distribuição de Leões.
Circula também a informação de que os júris estãos mais técnicos, o que, muitas vezes, tira o foco da ideia. E que as ONGs e Fundações não são mais tão queridinhas assim e podem até derrubar boas ideias por serem apenas "sociais", sem uma marca forte por trás. Até mesmo Madeline di Nonno, do Geena Davis Institute on Gender e presidente do júri de Glass, uma categoria criada para premiar ideias que lutam pela igualdade de gêneros, celebrou o GP por ser uma ideia de cunho social, mas patrocinada por uma marca e com poder de gerar vendas (leia mais aqui). Afinal, propaganda é feita para vender, não é?! "E mudar comportamentos", pontuou ela. "Tirem da cabeça que precisamos de uma causa a qualquer custo. Você pode fazer um bom trabalho tendo uma causa, ou não. Adote uma causa apenas se ela for apropriada para a marca", aconselhou o presidente do júri de PR, John Clinton, da Edelman.
Não é só nesse ponto que Cannes está sinalizando mudanças. O GP de Print para a carta aberta do Burger King para o McDonald's (conheça aqui) - que também ganhou GP de Mídia -, por exemplo, quebrou a regra de que o prêmio máximo da categoria de impresso tem que ter uma direção de arte incrível. "Foi um desconforto total", disse Hugo Rodrigues, da Publicis, jurado brasileiro da categoria, sobre a busca de consenso do júri em relação a dar o prêmio principal para a peça. "Nunca existe consenso", declarou. "Chegamos a pensar em não dar Grand Prix", disse. Segundo ele, "esse GP mostra duas coisas: 1) temos que entender que não somos artistas. Somos contratados para dar resultados para os clientes. E essa é uma peça de resultados. 2) Precisamos parar de nos matar em busca apenas de coisas lindas. Uma ideia poderosa vence a estética.".
O GP de Rádio (leia sobre e ouça aqui), para "The everyman meal", da Ogilvy Johannesburg para o KFC, também tem seu recado para novos rumos, segundo o jurado brasileiro, Rafael Urenha, da DPZ&T: "É uma campanha clássica de rádio, com ótimo texto e ótima execução. Capaz de gerar reação das pessoas toda vez que é ouvida. O Brasil está muito preocupado com a complexidade e as inovações tecnológicas e acaba se esquecendo do simples", disse.
Uma coisa ninguém pode negar, este ano está sendo de grande aprendizado. E vamos aos próximos capítulos porque ainda temos festival.
Rita Elisa Durigan
Leia tudo no #ClubeinCannes aqui.