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Histórias peculiares dos jurados brasileiros
O Cannes Lions 2019 tem 22 jurados representando o Brasil. Deles, apenas dois já estiveram antes em júris do Festival: Átila Francucci (vice-presidente de criação da Nova/SB) e Keka Morelle (diretora de criação da AlmapBBDO), que irão avaliar nesta edição, respectativamente, as categorias Sustainable Development Goals e Outdoor. Os demais são novatos em júris de Cannes.
Para saber mais da relação de cada um desses profissionais com o Festival, o Clubeonline procurou os jurados para saber que histórias peculiares têm em relação ao Cannes Lions. Vale desde um passeio pela Croisette após a conquista de um prêmio até a expectativa pela primeira vez na cidade. Do reencontro no júri com um ex-colega de agência internacional até uma “coleção de crachás” de jurado em festivais de comunicação. Também podem entrar as perspectivas quanto a resultados e destaques deste ano, em qualquer categoria.
Confira os depoimentos nesta matéria e nas que iremos publicar até o início do Festival, no dia 17 de junho. Nesta rodada, contamos com: Adriano Matos (CCO da Grey Brasil), André Kassu (sócio e CCO da Crispin Porter + Bogusky Brasil), Átila Francucci, Cristiano Pinheiro (sócio e produtor da Punch Audio) e Serginho Rezende (diretor musical da Comando S).
Adriano Matos - Mobile
“Esta é a minha décima participação no Festival de Cannes. E agora possivelmente estarei no no único lugar do Palais onde jamais estive: a sala do júri.
O Festival já me fez sentir e viver as mais diferentes emoções, da glória à decepção, da euforia à revolta, da sobriedade ao mais cataclísmico porre, seguido de uma ressaca daquelas.
De Young Lion em 2001 à agência do ano em 2009. De zero leões ao GP.
Estou profundamente orgulhoso de estar no Palais na condição de jurado, representando minha agência, meu país e minha rede. Se até hoje meu trabalho ajudou a fazer o festival, muito me honra que agora também meus pontos de vista possam ajudar a construir o repertório desse que é o maior e mais importante palco de criatividade na nossa indústria.”
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André Kassu - Industry Craft
“Eu já fui para Cannes como Young Creative em um tempo que tudo lá era surpresa. Já fui como redator deslumbrado e redator anotador de tudo. Já fui na posição de diretor de criação. Há cinco anos não vou para Cannes porque precisei criar uma distância do sentimento de ter de ganhar. De ter de pontuar. Na última vez por lá, vi um renomado profissional chorando porque não tinha batido a meta da rede. Chorando. E achei que era muito fora do meu limite.
Volto para Cannes com a leveza de não ter pressão da rede e a tranquilidade de quem aprendeu com o tempo a aproveitar o bônus e o ônus de lá estar. Volto como jurado pela primeira vez. Quando nem esperava mais ser chamado.
Se tivesse de eleger um momento peculiar, seria com o Marcello Serpa. A gente tinha acabado de ganhar um GP, estávamos felizes, reserva em um restaurante para a comemoração. Acontece que a gente demorou a sair do Palais e o Marcellão estava com fome. Alguém lembrou a ele que a gente devia estar dando entrevista ou coisa parecida. Ao que ele respondeu: ‘bife é bife e GP é GP’. Chegamos junto com o bife na mesa.
Nessa mesma madrugada, o Marcão (Marcos Medeiros, sócio da CP+B Brasil) foi testar o reconhecimento de um vendedor de cachorro quente mal humorado, famoso por destratar os clientes. Marcão colocou o troféu em cima do balcão e fez o pedido. O vendedor empurrou o troféu com um paninho sujo, deu um esporro e comemos um cachorro-quente na madrugada pensando na moral da história.
Sobre perspectivas para Cannes, sabe aqueles caras que conhecem todas as campanhas, que sabem os nomes de todas as agências e crativos? Então, não sou esse cara. Tenho visto o resultado do One Show, do D&AD, mas sem criar paralelos com Cannes. Estarei em um júri muito enxuto e acredito que com uma quantidade menor de inscrições (comparado com outras categorias). O que acontece em um júri menor? As discussões são mais intensas e menos dispersas. E isso me deixa tranquilo na busca de dois quesitos: simplicidade e coragem. Simplicidade como quem deseja uma volta à essência da propaganda e coragem para que o júri ajude a apontar novos rumos no craft e a reconhecer as marcas que têm se arriscado.
Difícil palpitar sobre campanhas antes do Festival, mas vou arriscar. 'Whopper em Branco', da David para BK, 'Machado de Assis Real' e 'Milhas para o Povo', da Grey (para a Faculdade Zumbi dos Palmares e Reclame Aqui, respectivamente), devem chegar bem em diversas categorias. No Industry Craft, a nova campanha de Havaianas mantém o sarrafo alto para uma marca globalmente conhecida.”
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Átila Francucci - Sustainable Development Goals
“Esta minha terceira experiência como jurado em Cannes difere das outras já na largada. Tanto em 1998 (Print) como em 2005 (Film), eu não era o único representante do Brasil no júri. Em 1998, os brasileiros éramos eu e o saudoso Tomás Lorente. Em 2005, eu e João Daniel (Thikomiroff, da Mixer). Claro que ter um ‘nativo’ como companheiro de júri facilita, pois dá pra dividir impressões. Trabalhar em dupla é sempre mais produtivo.
Outra curiosidade: em 1998, eu e Tomás tivemos como companheiro de júri um cara chamado... David Droga (que será o presidente da minha categoria neste ano). Aliás, em 1998, uma peça da agência em que ele era CCO (Saatachi & Saatchi Singapura, se não me engano) disputou o Grand Prix concorrendo na reta final com ‘Think different’, da Apple, e 'New Beetle', da Volkswagen (que acabou levando naquele ano). O anúncio era para o Burger King e mostrava uma batata frita com uma ponta vermelha de catchup, parecendo um palito de fósforo (catchup apimentado). Curioso lembrar do David Droga muito nervoso, vendo a peça dele disputando Grand Prix. Outra novidade de 1998: pela primeira vez um agência brasileira foi eleita agência do ano em Cannes - a DM9 - graças principalmente à performance que tiveram em Print.
Em 2005, a coisa mais marcante pra mim foi que ‘paramos’ o Festival em um determinado momento. Pela primeira vez, os filmes brasileiros foram enviados para Cannes no formato ‘beam tv’. Por algum motivo técnico, TODOS estavam sendo projetados com seríssimos problemas de som. Quando digo seríssimos, não tô carregando nas tintas, não. Era um som abafado e muito metalizado. O problema de som era somente nos filmes brasileiros. Num dos intervalos de votação, cruzei com o João Daniel (julgávamos em grupos diferentes, nunca na mesma sala) e, juntos, conseguimos que parassem todas as projeções até que o problema do som nos filmes brasileiros fosse solucionado. Pedimos também (e conseguimos) que TODOS eles fossem reprojetados e revotados.”
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Cristiano Pinheiro - Film Craft
“No primeiro ano em que sou chamado pra ser jurado em Cannes também fui convidado por outros cinco festivais. Fui jurado do New York Festivals em março, do Ciclope Latino em maio e, depois de Cannes, serei jurado no Clio em setembro, do LIA (London International Awards) em outubro e do Ciclope Berlin em novembro.
O curioso é que já deu pra perceber que Cannes tem uma dimensão absurdamente maior que todos os outros, seja em relação ao contato da imprensa, ao contato de donos de peças inscritas e de amigos. De longe, foi o que eu mais fui procurado.
Sobre a minha categoria, o que me chamou atenção foi o altíssimo nível técnico de 99% das peças. Se tivesse de destacar, teria de citar de dez a 15 peças que têm tanto ideia como execução sensacionais. Tive de pensar e repensar meu critério diversas vezes!”
(o julgamento desta categoria começa antes e online)
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Serginho Rezende - Radio & Audio
“Toda vez que eu volto de Cannes ouço as mesmas perguntas: ‘E aí, ganhou algo?’, ‘E aí, fez muitos contatos e novos negócios?’, etc e tal. Há um lado que é muito palpável, que é ganhar um Leão, ter um trabalho reconhecido, algo muito importante para a carreira de qualquer profissional. E também tem o lado não palpável, relacionado com o que você traz e não consegue calcular. Lá, acontece uma imersão, onde é possível repensar e refletir, enxergar por outros ângulos.
Eu, por exemplo, volto muito mexido. E, na verdade, não sei apontar nem mensurar o que mudou, mas volto com a sensação de que houve uma transformação. Quem vai pela primeira vez deve aproveitar, ao máximo, para mergulhar de cabeça nesse universo. Todas as vezes que eu estive em Cannes, sempre valorizei esse lado mais intangível do Festival, que, para mim, são as palestras, os trabalhos que vemos lá, os contatos formais e os encontros casuais. Agora, como jurado, estou na maior expectativa. Vou poder discutir com profissionais de diversas partes do mundo, trocar ideias. Será extremamente enriquecedor.”
Lena Castellón
Leia todas sobre Cannes aqui.