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Clube+Vozes

“Contrate pretos", a mensagem da 1ª live do projeto

11.06.20

Na noite da quarta-feira 10, o Instagram do Clube de Criação foi ocupado por dois profissionais pretos que se conhecem da Miami Ad School. Felipe Silva, redator da Y&R, foi professor de Thamara Pinheiro, redatora da Soko. Os dois fizeram a abertura do projeto Clube+Vozes, uma iniciativa voltada para a diversidade.

Durante o mês de junho, serão realizadas 13 lives com profissionais pretos que irão ocupar o Instagram do Clube. O projeto veio na esteira da proposta de Patrícia Santos, CEO da EmpregueAfro, ao grupo Desenquadradas, coletivo feminino que reúne mulheres do mercado de comunicação.

Ela propôs que perfis de influenciadores brancos ligados ao mundo dos negócios fossem ocupados por profissionais e empreendedores negros, com a hashtag #VozesNegrasImportam (leia mais aqui).

O Clube de Criação reforça o movimento com o projeto Clube+Vozes, que continua nesta semana com mais duas lives (Paulo Damasceno, diretor de arte da Gut, e Andressa Cruz, redatora da Wunderman Thompson, nesta quinta - confira mais aqui; e Vanessa Ferreira, diretora de arte, também conhecida como Preta Ilustra, e Samuka, o diretor de arte Samuel de Paula Gomes, na sexta).

As lives das próximas semanas serão anunciadas em breve.

A estreia

Como Thamara Pinheiro contou, Felipe Silva foi um dos poucos professores pretos que teve na vida e foi o único na Miami Ad School. Isso mostra como, apesar da prevalência de negros na população brasileira, faltam referências pretas na publicidade. E isso precisa ser mudado com urgência. A mudança levaria o mercado a se transformar. Para reforçar esse ponto, Thamara recorre a uma frase de Angela Davis. “Quando uma mulher preta se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.”

Também faltam lideranças pretas na comunicação, em geral. Se houvesse, o cenário seria outro. Hoje, os que atuam no mercado precisam batalhar muito para ter visibilidade. Há profissionais que poderiam conquistar mais espaço e ter mais reconhecimento. Thamara e Felipe nomearam algumas dessas pessoas, como o diretor de arte Ary Nogueira, que passou por Almap, Lew’Lara e DM9, e a redatora Joana Mendes, que já atuou por Loducca, JWT, FCB.

Sobre as referências, elas vão além da presença de profissionais nas agências. Thamara comentou que o mercado cobra inglês e conhecimento eurocêntrico, mas ninguém pergunta a quem entra se conhece Basquiat ou o trabalho de rappers. “A hora que a gente mudar essa cabeça, e mostrar que o mundo começou na África, vai ser importante. A África parece distante, mas está aqui. Não vale ser só antirracista. Você precisa conhecer a história”, afirmou.

Os dois destacam que existem, porém, algumas mudanças no mundo das agências. Thamara entrou na publicidade pelo programa 20/20, da JWT. E Felipe criou o projeto Escola Rua, que procura incluir pessoas que estudaram em faculdades periféricas, ofertando um curso de criação de excelência. Para lançar essa ideia, ele teve apoio da agência e das lideranças da Y&R.

Em uma conversa que durou quase duas horas, eles relataram suas experiências e suas visões sobre o que fazer para mudar o mercado. Um dos pontos discutidos foi a incorporação dos “quadradinhos pretos” nos perfis das redes sociais, com pessoas e marcas alterando suas imagens para se posicionarem a favor do movimento #BlackLivesMatter. “O quadrado preto não basta se não for para mudar os critérios de contratação”, afirmou Felipe.

Ambos sustentam que é fundamental buscar o potencial do profissional. Um jovem que cria um clipe de funk na favela tem grandes chances de construir algo diferente. A disposição para olhar além do portfólio é uma medida importante. “Muitos perguntam como começar a mudar. Existem várias consultorias ajudando nisso, mas o importante é começar”, afirmou Felipe. A dupla observou ainda: revolucionário é contratar mulher preta.

Thamara e Felipe comentaram que clientes podem cobrar de suas agências mais diversidade. Mas o caminho contrário também vale, com agências cobrando dos clientes diversidade nas campanhas. Mesmo festivais têm papel na transformação ao chamar jurados negros para compor os júris. Incluindo aí o Clube. Mas a ação pode ser maior. “Já que estamos todos ferrados (por causa da pandemia), vamos todos trabalhar para ajudar em causas”, disse a redatora.

Confira mais da conversa da dupla que aborda ainda meritocracia e compromisso das marcas no perfil do Clube, no Instagram, aqui.

Clube+Vozes

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