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Rosinha
Ninguém faz mais sucesso no universo da comunicação do que crianças e cachorros. Tenho experiência nisso.
Fiz algumas das campanhas de publicidade mais famosas com crianças. Desde aquela do Chambinho, “O queijinho do coração”, embalada pelo clássico “Carinhoso”, de Pixinguinha e Braguinha, até a dos “Gordinhos do DDD”, que literalmente pararam o Brasil em 1998 — viraram a campanha de publicidade mais lembrada e mais premiada, atração nos programas de televisão, fantasia de carnaval, música conhecida e até entraram em campo com o Corinthians em jogo contra o Cruzeiro.
Fiz também a mais popular campanha de publicidade já realizada com um cachorro até hoje. A campanha dos amortecedores Turbogás Cofap, que chegaram a mudar o nome de uma raça de cães. Por causa dessa campanha, os dachshunds, que no mundo inteiro se chamam dachshunds, no Brasil passaram a ser conhecidos como cofapinhos.
Crianças e cachorros são infalíveis no universo da comunicação, mas cães são melhores de negócio. Porque sintetizam uma série de metáforas e simbologias da turma que mexe com dinheiro, que geram histórias deliciosas.
Uma das histórias de que mais gosto com cachorro é de um empresário, que vivia dizendo para os seus amigos:
— Você precisa visitar minha fazenda pra eu te apresentar a Rosinha, minha nova cachorrinha, que é um gênio.
Muitos comentavam que, na verdade, deveria ser apenas mais uma cachorrinha. Mas, certa vez, um dos amigos aceitou o convite e foi conhecer a tal Rosinha. Assim que chegaram, o dono da fazenda disse:
— Rosinha, vá até a cidade e verifica se existe risco de cangaço urbano.
Cangaço urbano, para quem ainda não sabe, são aqueles assaltos a bancos das pequenas cidades, que surgiram nos últimos anos. Rosinha saiu correndo e, minutos depois, voltou balançando a cabeça dizendo que não.
O dono da fazenda continuou:
— Rosinha, agora manda preparar dois drinques pra gente: um gim tônica com tônica Fever-Tree light pra mim e um uísque Johnnie Walker com Red Bull para o meu amigo.
Rosinha saiu e logo depois surgiu com uma bandeja e os dois drinques. O dono da fazenda insistiu:
—Rosinha, agora liga na GloboNews e dá uma olhada na cotação do dólar e nos movimentos da Bolsa. Se acontecer o milagre de a Bolsa subir e o dólar cair, me avisa no mesmo instante.
Rosinha balançou o queixo dizendo que sim.
— Uma última coisa, Rosinha. Pro jantar, vamos preparar algo muito brasileiro, mas bastante internacional. Pede pra cozinheira fazer umas empadas de camarão, como aquelas do Salete, na Tijuca, no Rio de Janeiro, mas manda fazer também umas espumas como aquelas que o Ferran Adrià servia no El Bulli, pertinho de Barcelona. Serve a comida com um bom Chablis branco.
Rosinha saiu voando e, em pouco tempo, voltou com as empadinhas de aperitivo e as taças de vinho.
A noite continuou impecável e, numa determinada hora, o dono da casa disse:
— Rosinha, agora põe um pouco de Billie Holiday pra gente ouvir antes de dormir e serve dois limoncellos pra terminar a noite. Amanhã, acorda a gente cedo porque temos compromissos em São Paulo. Diz pro comandante do nosso avião preparar o slot para as 8h da manhã.
Rosinha fez positivo com o dedo de uma das patas, e assim a noite terminou. Obviamente, o convidado ficou maravilhado; nunca tinha visto uma cachorrinha daquelas.
Os meses se passaram, e os dois amigos se encontraram novamente. A primeira coisa que o convidado daquela noite disse foi o seguinte:
— Coincidência te encontrar. Ontem mesmo estava falando para uns amigos daquela sua cachorrinha, a Rosinha, que toma conta da fazenda, verifica se tem risco de cangaço urbano, manda preparar os drinques, checa o dólar e a Bolsa, dá ordens pra cozinheira, coloca música boa, serve um licor no fim da noite e ainda coordena tudo com os pilotos do avião pro dia seguinte. Incrível aquela cachorrinha, nunca vi coisa igual. Como está ela?
Cabisbaixo, o amigo respondeu:
— Nem me fala; aquela minha cachorrinha, a Rosinha, era tão boa, mas tão boa, que ano passado resolvi promovê-la a chefe do canil. Ela ficou toda feliz e orgulhosa, mas, depois que foi promovida a chefe, agora nem latir ela late mais.
Washington Olivetto
Publicitário
washington@washingtonolivetto.com.br
Texto publicado no jornal O Globo
Leia texto anterior da Coluna do W.O., aqui.