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Edu Lima em "Princesa Isabel, cadê você?"
Princesa Isabel, cadê você?
As concorrências transformaram as agências de propaganda em escravas.
Cada uma, ao seu modo, é o retrato fiel de uma senzala.
A lei da chibata começa quando a agência topa participar.
Os clientes, os Coronéis desse cenário, amarram suas verbas em bolas de chumbo, presas por correntes nos calcanhares dos publicitários gananciosos.
A questão pode ser analisada facilmente e existem vários tipos de escravos.
Digamos que se fossemos dividi-los numa escala de força, eles viriam dos mais corpulentos aos mais raquíticos.
Os mais corpulentos são os donos das agências. A força bruta. Os Sócios. Os maiores beneficiados no caso da conquista da conta. E os menos prejudicados no caso da perda da concorrência.
Ao cargo dos mais fracos, cabe transformar o ambiente num lugar dominado pela ansiedade. Eles podem ou não ser atingidos no caso da não conquista. Não sofrem como os escravos raquíticos, apenas fingem que.
Os mais raquíticos são os que realmente trabalham no projeto. Os que mais sofrem, os que mais apanham.
Acredito que a maioria absoluta dos "raquíticos" esteja na Criação.
Com suas tripas expostas, sofrem na pele a dura escravidão dos tempos modernos.
São como pequenos navios escravos flutuando num mar de sangue.
Debruçados em troncos, gemem após mais um estalar do couro do chicote em suas costas.
Como se não bastasse o "Esqueminha Cannes", as concorrências também passaram de todos os limites.
Outro dia ouvi que uma agência estava numa concorrência de uma grande montadora e resolveu comprar nove carros da mesma.
Não um, nem dois. Nove.
Não compreendi muito bem a estratégia, mas se foi para impressionar o cliente em questão, não deu certo. Essa agência perdeu a concorrência.
Aliás, a conta ficou na agência que já tinha a conta.
Já participei de inúmeras concorrências onde ocorreu o mesmo. Um joguinho comum no mercado para abaixar as taxas das agências.
Splash! Mais uma chibatada nas costas.
Tem também as agências escravas que dizem que não entram em concorrências e não são escravas mas outro dia uma delas foi vista pulando fora no meio de uma.
Nosso maior ativo, a Criação, esta sendo desrespeitado.
A política do "Faz ai" esta em voga e ganhando cada vez mais seguidores.
A bola é de chumbo mas esta crescendo como uma bola de neve.
Mercado publicitário chamando Princesa Isabel!
Mercado Publicitário chamando Princesa Isabel!
Cri, cri, cri, cri, cri. (Grilos)
Enquanto os empresários do setor não sentarem à mesa, desarmados, claro, a escravidão permanecerá.
A falta de união faz o cerco aumentar. A falta de união oprime.
O abuso dos Coronéis irá continuar e continuaremos sendo estuprados nas noites escuras, nos cômodos destelhados das senzalas.
Os gritos de dor continuarão a ecoar.
A satisfação em saber que tais gritos vêm de senzalas vizinhas não será mais o suficiente para aplacar a dor.
A humilhação precisa acabar e a dignidade prevalecer.
Senhor anunciante, o jeito mais justo de escolher uma agência é olhando os trabalhos que ela colocou na rua nos últimos 2, 3 anos. Se existir identificação, admiração ou empatia, acredite nela, entregue sua conta.
Não é algo tão difícil de entender e colocar em prática.
Se o assunto for só a diminuição da taxa, avise na largada.
Honestidade, lembra?
Aos homens mais corpulentos, deixo um apelo: honra, por favor, honra.
Caso contrário, nosso cenário não irá mudar. Escravos serão trocados, ideias serão vendidas a um preço de mercadoria vagabunda.
Alguém aí acredita que algo que envolve 10 agências é feito de uma maneira honesta? Quem acredita nisso também acredita em duendes?
O barulho das correntes é ensurdecedor. Peguem as armas, meus queridos raquíticos.
Eduardo Lima - ex-Presidente do Clube de Criação de São Paulo
Aqui você confere a coluna de Maurício Mazarriol, que também te leva às anteriores, no final do texto.