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Começa aqui e vai até o final

Por Rodrigo Lebrun, da W+K Londres

07.05.10

Sim, meu primeiro post. Vamos ver se eu crio vergonha na cara, torno isso um hábito e passo uma visão menos romântica de como as coisas são aqui na Europa.


Claro que viver em Londres é duca, é uma cidade cheia de coisa pra fazer e é o melhor jeito de conhecer o mundo se você tiver medo de avião (tem gente de tudo quanto é canto aqui). Por outro lado, é uma cidade grande com problemas de cidade grande. Claro que todo o tempo que eu passei no Brasil eu sempre ouvi gente falando 'como as coisas lá fora são melhores, mais organizadas' e bla bla bla.


É... É fácil dizer que as coisas na terrinha não são assim uma Brastemp quando comparadas com outros países. Infelizmente, na maioria das vezes é verdade, nosso transporte público é uma bomba, nossos políticos são corruptos (todos são, inclusive os daqui em maior ou menor grau) e a burocracia brasileira faria Kafka envergonhado por ter escrito O Processo.


Mas devo dizer que, depois de dois anos aqui, tem coisas no Brasil (que eu insisto em escrever com Z.e depois tenho que ficar corrigindo) que funcionam tão melhor que aqui, que me fazem pensar que a Dinarmarca fica nos trópicos.


Como todo mundo deve saber, as eleições para primeiro Ministro acabaram de acontecer e foi a primeira vez que votei por aqui. É um processo interessante o parlamentarismo, porque você não vota na pessoa que vai 'governar' o país, mas sim no partido, então, no final, ao invés de votar no Gordon Brown ou no David Cameron, você acaba votando numa pessoa que nunca ouviu falar na vida (eu nunca tinha ouvido, pelo menos) e é ela que vai ajudar a eleger o primeiro ministro.


Até aí, tudo bem. É como as coisas deveriam ser. A filosofia do partido deveria vir acima desse ou daquele indíviduo, e talvez seja por isso que a política no Brasil seja tão fragmentada e confusa. Cada um pensando de um jeito.


Pra compensar, o processo eleitoral deles é absurdamente atrasado. É tudo feito no papel. Parece bobeira, mas faz uma tremenda diferença. Uma das coisas que me chocaram foi o fato de que muitas pessoas não conseguiram votar por falta de cédula eleitoral. Acredite ou não, isso aconteceu em vários lugares. A razão foi simples. Essa foi uma eleição especialmente disputada, então cada voto contava. Muita gente apareceu pra votar, o que geralmente não acontece porque votar é facultativo aqui e político é tudo igual, como em qualquer  lugar, mas dessa vez foi diferente e acabou tendo mais gente que cédula.


É, o povo aqui ama papel. Tudo aqui precisa ser impresso e assinado. Até coisas que não fazem mais o menor sentido.


O sistema bancário inglês parece que parou na década de 80. Papel e caneta pra tudo. Você até consegue sacar dinheiro no caixa automático, mas a piada começa se a quantia exceder o limite diário. Ao invés de ir até o guichê, digitar a sua senha e embolsar a grana, você precisa passar um cheque para você mesmo e descontar. Não adianta provar que você é você mesmo. No cheque, No money. Burro pra cacete.


O mesmo se você quiser investir dinheiro. Tentar fazer pela internet é andar em círculos num labirinto, é muito mais fácil fazer via correio (mais uma vez você precisa imprimir e assinar) ou pelo telefone. Qualquer que seja a sua opção, eles vão te cobrar 4% pelo serviço ao invés de 2% quando feito online (jeitinho brasileiro mode ON).


O mais engraçado é quando se trata da mesma instituição financeira, sou correntista do HSBC aqui e aí e a diferença é tão gritante que parecem bancos diferentes com logos parecidos, a versão canarinho, assim como no futebol, ganha de goleada.


Pra fechar com chave de roda, o Barclays tem um sistema de segurança pra fazer transações no internet banking deles que é um desastre. É um gerador de senha eletrônica, igual àqueles chaveirinhos que o Unibanco tem (não sei se ainda usam), mas que é umas 10 vezes maior, sem exagero, é do tamanho de uma calculadora. Claro que todo mundo esquece de carregar essa pendenga e 1 em cada dez e-mails aqui na agência são de pessoas pedindo o bendito do leitor de cartão emprestado.


Outra coisa que me irrita é serviço, por aqui. Sinto falta de garçon/garçonete brazuca. Do cara que te cumprimenta e trata como melhor amigo mesmo que seja  primeira vez que você bota o pé no bar. Garçon é uma instituição, um símbolo nacional. Gringo que vai pro Brasil fica impressionado. Aqui, geralmente eles são estudantes, que querem fazer qualquer coisa, menos servir, talvez porque achem que eles sejam superiores ou alguma bobeira do gênero. A verdade é que eles acabam provando que nem pra garçon eles prestam. Mas há exceções, não muitas.


Por falar em garçon, hoje é sexta. Por mais que o serviço seja uma lama, não dá pra negar que eu vou pro pub com um sorriso na cara.


Bom final de semana!


Rodrigo Lebrun, criativo na Wieden+Kennedy de Londres.
Mantém o blog Hi-fi Lo-fi quando dá tempo.


 http://www.hifilofi.co.uk

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