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Com Flávia dos Prazeres (TV Cultura)
O Clubeonline procurou profissionais do mercado para analisarem o que mudou na indústria da comunicação em relação à inclusão, ao combate à invisibilidade e ao racismo. Por conta do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, diversas empresas e marcas procuram promover ações e reflexões sobre o tema. Mas o quanto de fato avançamos?
Ao longo desta semana, vamos publicar respostas a quatro perguntas que fizemos para esta série. Agora, a entrevista é com Flávia dos Prazeres, atriz e apresentadora do Café Filosófico, da TV Cultura.
Leia anteriores com Renata Hilario, strategy manager da Budweiser (Ambev), aqui, com Vinicius Chagas, head of conversations design da Dentsu, aqui, e Ana Carla Carneiro, sócia-fundadora do Estúdio Nina, aqui.
Clubeonline – Na sua opinião, há mudanças de fato perceptíveis acontecendo no mercado da Comunicação, no Brasil, no que tange à inclusão, combate à invisibilidade e ao racismo?
Flávia dos Prazeres – Por intermédio das mídias sociais, o acesso à informação aconteceu de forma mais democrática. Tudo se popularizou: o acesso à cultura, aos meios de comunicação, possibilitando que mais e mais pessoas tivessem conhecimento sobre questões já desenvolvidas anteriormente, mas que anteriormente ficavam no âmbito somente de quem tinha acesso às universidades. Hoje, todos e todes podem opinar, podem compartilhar conhecimento. A popularização da comunicação é um grande ganho e se torna cada vez mais expressiva por intermédio das redes sociais. É possível ver novos corpos em protagonismo e novas narrativas em construção.
Também é possível constatar que muitos CEO's de empresas, muitas iniciativas das produções audiovisuais, publicitárias, finalmente se interessaram em transformar as mensagens que por muito tempo passavam. Para essa mudança de conduta, a ESG nas empresas foi essencial, pois facilitou o entendimento e a ação das mesmas para a promoção de igualdade em todos os setores. É um movimento que ainda está em andamento, mas já apresenta avanços para a diversidade. Para além da inclusão, o que também avançou foi o lucro dessas companhias, pois se mais pessoas se sentem representadas, elas também consomem mais, é possível ter mudanças significativas com esta mentalidade.
Clubeonline – Você participa ou conhece iniciativas com foco no antirracismo cujo trabalho venha fazendo a diferença no nosso mercado?
Flávia – A emissora de televisão TV Cultura, para mim, é uma grande entusiasta, pois há mais de 60 anos produz cultura e acesso à informação. Sua grade tem programas de TV voltados a todos os públicos e todos os temas. O programa “Estação Livre”, cuja a apresentadora é a Cris Guterres, recebe profissionais de todas as áreas e que abordam com propriedade temas necessários para que a nossa sociedade entenda que o racismo ainda é um câncer a ser combatido e desnaturalizado. E para além dessa atitude de questionar o racismo, a emissora promove encontros em que pessoas pretas - profissionais muito bem preparados e atuantes no mercado de trabalho - têm a liberdade de abordar qualquer assunto.
Clubeonline – Com relação ao Brasil em 2023, quais suas expectativas sob o prisma da inclusão, igualdade social e diversidade?
Flávia – 2023 tem uma grande missão de continuar naturalizando as nossas diferenças, no sentido de agregar para caber todo mundo, sem apertos, cortes/mortes. Que possa haver pulsão de vida em todas essas mudanças urgentes, que não podem ser vistas como temporárias, mas permanentes, no que se entende sobre a nossa própria educação. E toda essa mudança só será possível com mais ações afirmativas, onde todos e todes consigam usufruir de um país mais justo, com cidadãos engajados em mudar a história, reconstruir um novo percurso que seja livre de exclusões e violência. Que questionar antigas atitudes vire um hábito poderoso para a naturalização das nossas diferenças, pois somos múltiplos. Que 2023 seja um ano generoso para todas as existências.
Clubeonline – Poderia indicar um bom livro, ligado à questão racial, aos internautas que nos acompanham?
Flávia – Todos precisam ler o livro "Pele Negra Máscaras Brancas", do filósofo e pensador Frantz Fanon, que é um retrato de como as estruturas racistas operam, e como as relações se desenvolvem através do prisma psicossocial com o racismo como recorte. Nele, Fanon aprofunda temas que estão enraizados na nossa sociedade pela perspectiva preta e nos oferece análises de como e por que a branquitude faz o que faz, por que retroalimenta a estrutura racista no mundo.