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Criado-Mudo

Tendências "desenho-industriais"

23.04.07

"Criar um criado-mudo. Além de uma aliteração, parecia uma boa idéia. Extrapolar a praticidade do criado-mudo desenvolvendo um móvel emancipado. Isso há uns 10 anos, numa época em que ninguém falava ainda na emancipação dos criados-mudos.


Armado da mesma régua Desetec com a qual sublinhei os momentos mais importantes da história, fiz o que faço pior: desenhar. Minha proposta não se limitava apenas à área técnica ao lado da cama. Agora o criado-mudo era um móvel anabolizado que se alongava até a parede oposta, dobrava a esquina do quarto e ainda se espichava até pertinho do armário.


Em cima, espaço para o monitor, a impressora, o micro-system com duplo deck, a TV e o porta-lápis onde fica a tesoura de cortar unha que um dia pretendo apresentar ao meu dedão do pé. Embaixo, óbvias gavetas, compartimento para o gabinete do computador e um armário para morarem os CDs de metal farofa. Tudo em mogno. Chupa, Marabraz.


Posso ter profanado um clássico, mas a Porsche lançou um automóvel utilitário e todo mundo achou lindo. Minha consciência estava tranqüila.


Isso até surgir esse boato de aquecimento global. Fiquei incomodado. Comecei a procurar um jeito de fazer minha parte, pagar minha dívida com a natureza. Encontrei: joguei a impressora num terreno baldio. Agora eu era uma pessoa ecologicamente responsável que não gastava papel à toa. Exceto no trabalho, mas aí tudo bem porque a agência é americana e eles não assinaram o protocolo de Kyoto.


Contribuir para um mundo mais fresquinho me deixou feliz. Só que faltava algo, e não era apenas a barulhenta e daltônica impressora. Só então percebi. O computador tinha virado laptop, o micro-system tinha virado iPod e os CDs de metal farofa tinham se mudado para dentro dele. A TV resistia, mas cedo ou tarde – tarde, no caso – acabaria pendurada na parede junto à minha foto quando criança loira com a camisa do Corinthians. Maldita nanotecnologia. Inútil, meu babilônico criado-mudo fora reduzido a uma nota de rodapé no Grande Livro do Mobiliário Doméstico. Ainda aproveitam-se as gavetas. Certas coisas são certas demais para serem aperfeiçoadas".


Mário Cintra
Redator da McCann

Comentários

Nivaldo Martins - Nunca tinha ouvido falar nesse "régua desetec". Ao invés de recorrer à barsa empoeirada, vou pesquisar aqui no google. nmartins@tv1.com.br


Braga Junior - Poh, de que mundo és? Desetec é uma famosa marca de régua, eita era da informática! braga.junior@golo.co.mz


Gerson Aparecido - Mário, parabens mesmo! Só tenha mais cuidado em falar de temas que ainda temos timidez, como por exemplo o protocolo de kyoto. Do jeito que você falou parece que a mccann está explorando nosso país e está sendo desculpada, afinal, não assinou o protocolo de kyoto. Agora eu era - veja bem se isto está correto. Se foi proposital é até legal, mas não vi sentido em quebrar a regra gramatical aqui. Seu texto é excelente. São apenas dicas. Um abração. Gerson gerente_locao@hotmail.com


Cata - Esse é o cara! O mesmo que escreveu o texto da Cicarelli... Quem não leu perdeu, ou melhor, se constar nos aqruivos do site, LEIAM! Sensacional!!! Mas o melhor de tudo isso é a citada foto da criança loira com a camisa do Corinthias! Demais!!! catarina.maciel@agenciaboom.com.br
link cicarelli:
http://www.clubedecriacao.com.br/index.php?pagename=redirect&posttype=ultima&previous_id=22139


 Erika - fantástico o texto, muito genial...agora régua Desetec, eu que sou um pouco nova, rs..sei o que é!! erikaamro@hotmail.com


 kadao - regua desetec 15 cm MOD 7115 (trident) - made in Brazil - conheco muito bem inclusive se encontra aqui no meu porta-lapis. agora metal farofa? pq nao escreveu logo Stratovarius ? mariao, mais uma vez texto sensacional...bjundas



 

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