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Criado-Mudo

Fotos, cópias de chaves e receitas... uma pequena bagunça na gaveta

29.08.05

"Quando sentei para escrever percebi como os criados-mudos, estes móveis tão discretos, estão presentes na minha vida.

São verdadeiros representantes do design brasileiro e da trajetória de vida profissional do meu pai, o Seu Marcel.


O atual, que faz par com uma maravilhosa cama de jacarandá, é do Sergio Rodrigues, desenhado para a OCA, nos anos 70 .

Nele, vários livros me esperam, quietos.

Atualmente, o livro tibetano da vida e da morte do Rimpoche; "Cartas a um jovem Terapeuta", de Contardo Calligaris; além da antologia de Fernando Pessoa, obra de cabeçeira.

Fotos, tickets de museus e de viagens, cópias de chaves, receitas, enfim, uma pequena bagunça na gaveta.


Com a mesma emoção dos meus 15,16 anos, recordo quando cheguei de alguma viagem e meu quarto estava inteiramente novo, com cortinas bem pop e móveis lindos, laqueados de branco, da Hobjeto, do querido Geraldo de Barros.

O criado-mudo, que era quase um console com buracos ovais e redondos, ficava atrás da minha cama. "Custom made". 


O terceiro era um criado-mudo que falava.

Tratava-se de uma pequena mesa quadrada, com perfil de ferro pintado de preto e um tampo de jacarandá, da L'Atelier, cujo logotipo o mesmo Seu Marcel encomendara ao Zaragoza, na extinta Metro3.

Todas as manhãs da minha infância, através de um maravilhoso rádio Zenith, eu ouvia: São 6 horas e 47 minutos. REPITA. Seis horas e 47 minutos.


Ah! uma vez descobri um esconderijo perfeito para o meu aparelho de dentes: atrás da gaveta do criado-mudo".


Chantal Marmor
Sócia e diretora de atendimento da DVM (Dino Vicente Música)

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